9 de dezembro de 2007

Fly me to the moon

anos mudaram em mim nos últimos dias.

aprendi o que quero, porque uma escolha me tomou.

estou vivo depois de muito tempo...

8 de dezembro de 2007

Duelo

estou lutando contra mim. e é até o fim!

mas tudo bem. acho que vou ganhar.

6 de dezembro de 2007

4 de dezembro de 2007

Sintoma

Toda minha vida eu deixei que as coisas escorressem das minhas mãos. Toda minha vida, quando eu senti o vazio que as coisas começavam a deixar, apertei os dedos com toda força, esmagando o que sobrava, machucando minha pele.

A noção disso veio súbita, implacável; impecável. E agora eu quero dissipar a maldita consciência que mantém as moléculas do meu corpo unidas. Agora, quero queimar os neurônios desse mesmo reflexo apreendido.

Preciso morrer. É com isso que tenho que lidar agora. É daqui que começo.

28 de novembro de 2007

auto-análise

pensei, pensei, pensei. até que finalmente cheguei a conclusão última sobre mim mesmo:

penso demais.

26 de novembro de 2007

estranhezas da gramática pessoal

daquelas regrinhas de crase: nºx) a palavra que vem depois é sempre feminina (dica: passe para o masculino; se o a virar ao vai crase).

quando passo pro masculino, sempre uso "pôr-do-sol".

25 de novembro de 2007

prum outro lugar

descobri meu corpo inerte, amortecido. e aí é como se estivesse sentindo dores de crescimento nos músculos, só que não por crescer, e sim por sentir. sinto dores de crescimento nos músculos de dentro.

essa semana passei sangrando o coração. um corte de espinha inchada bem no peito. todo banho, ao passar a bucha que ela me deu, o cortezinho abria e sangrava tanto que era bonito de ver - não fosse o que ele manchava.

fiquei com ares de querer que sangrasse tudo o que tinha de uma vez. vai, corpo bobo; põe pra fora. mas não... sanguezinho vai saindo farto em veio fino... coração não sabe o que fazer. e o peito... entre inchaços e murchamentos severos... fica querendo muito subir à cabeça em lágrimas de se soltar. e descer ao pés, dessa vez em mais que dança... em passos.

13 de novembro de 2007

Na Passagem

Fisgo palavras
na passagem
as pessoas
me espantam
bruto encargo
o manto
de rosto
e personalidade

As pessoas
e apavoram
mas me deliciam
os olhares

8 de novembro de 2007

Ele

Ele não conseguia amar. E não porque amava pouco. É que amava muito. Como se não desse conta de seu próprio amor.

Ele não conseguia amar porque não tinha mais rosto para tanto. Porque mudar pelo outro nunca fez boa propaganda. Porque se preocupava, se disponibilizava, e talvez de fato algo como o amor só consiga se fazer brotar através de jeitos brutos e indiferentes. Por aqueles que são mais eles, e isso basta.

Talvez fosse apenas isso: lhe faltava a sabedoria de ser muito mais ele mesmo.

6 de novembro de 2007

Keffa

Keffa escutava com os olhos. Mais. Seu olhar, pura doçura, abraçava. Do meio da barba farta, um sorriso constante. Do meio das palavras (um portunhol com sotaque francês), ensinamentos traduzidos em interesse genuino.

Me contou dos anos que viveu em cada uma de três comunidades. Me contou do início sempre belo, do esforço, da vontade. Me contou das dificuldades, das pessoas se chocando, dos finais. Me disse que a única forma de dar certo era um laço ideológico comum. Para Keffa, as pessoas sofrem de individualismo.

Me disse que nosso nome era o mesmo. Keffa era um Doze Tribos. Seguia os ensinamentos de Yahshua, não Jesus. Ao ingressar na comunidade, troca-se o nome por sua versão em hebraico.

Fui recebê-lo, pela simples vontade de receber alguém, quando chegava com seus irmãos de ônibus ao ponto de entrada do ENCA. Mas logo ficou claro: na verdade, quem foi recebido fui eu.

2 de novembro de 2007

Oração de dia cinza

tem dias que as coisas batem pesinho no peito. nesses dias, como hoje, rezo baixinho:

"dai-me olhares de ver todas as coisas sem imagem, que meu coração, desacostumado, titubeia em sentir tanto; e dai-me suspiros, para quem não tem asas de voar - só é repleto de imaginação. dai-me a força de ser fraquinho, e a coragem brava de ser um tantinho medroso, óh tu, pedacinho grandioso de mim mesmo..."

24 de outubro de 2007

Homo Stranhus

As pessoas, companheiras desconhecidas, conversam muito mais entre si nos aviões do que nos ônibus.

No Rio, é cultural uma certa facilidade de falar com desconhecidos, mas nunca de abandonar a desconfiança - e às pessoas visitam-se menos em suas casas.

Um homem e uma mulher tem o flerte como hábito inalienável - complicado, aceito ou não. No entanto, não ocorre que se pense a sedução na conversa de dois heterossexuais do mesmo sexo. E em uma danceteria, local de caça por excelência, é menos possível que se olhe nos olhos, que dirá demoradamente, pois um olhar assim só pode ser um sim.

19 de outubro de 2007

Esquece

Não soa morte
o que fundo se enterra
Perde a forma
A gente não mais
olha
Mas o grito
na caverna
tanto muito mais
ressoa

Mate a memória
Acabe com a História
(o verdadeiro esquecimento
não é tumba
mas abraço)

18 de outubro de 2007

Prontidão

as pessoas parecem prontas. olhe-as nas ruas, nos encontros, nos trejeitos. prontas em seus gestos, nos andares, às vezes até nos abraços, obviamente nos discursos, outras vezes mesmo nas coisas que dizem intimamente.

as pessoas prontas parecem que se encontraram. sei que encontraram um rosto. jeito de ser, alvoroço ou não. jeito de respirar, ritmo de vida.

teorizo que os jeitos são coisas. além da moral, nem boas nem más. necessário ter um rosto. um passo. já disse tanto disso, não? mas os jeitos imperam e às vezes nos vemos determinados por demais por eles, levados por eles. de repente quem faz é nosso jeito, não a gente. faz sentido?

mas isso é teoria. claro. teoria pessoal, pensamentos íntimos pra acomodar a apreensão da realidade, seja ela qual for. do prático, de andar na rua, sei que as pessoas parecem prontas. tudo bem, nem todo mundo parece consigo mesmo, mas no que se parecem, estão lá: prontinhas.

eu? eu não. não me sinto. quer dizer, vai saber como me pareço... acho que não me vejo tanto assim. mas sentir, não me sinto. pra mim, estou sempre inacabado. é de tirar o fôlego, frio-na-barriga. ao invés de pronto, quem me faz é o momento. e se em mim não impera o jeito (impera também, é claro), tem a hora que vai determinando... e parece que eu oscilo na energia do que se passa, e o arranjo das horas, pessoas, lugares afunila em mim o que quer que eu seja... me torno. em torno. Pedro espiralado, liquidificado. ponha no forno e dê uma mordiscada, não lembro da mistura, então não tenho idéia do gosto.

11 de outubro de 2007

Tenho medo do passo
Há eras
Me agarro
e agarrado quase sufoco
Parece que não posso
Não lembro se foi um tombo
o que fundou meu medo
Olho para trás
Minhas pegadas,
fundas,
já se envolvem em brumas
Mal consigo enxergar
entre as brumas de trás
os medos como muralhas
e aqui
sufoco

Talvez minhas pegadas
tenham sido fundas demais
Me concentro em flutuar
Tento
Não consigo
Nem é porque meus pés
estejam enraizados
(mesmo que eu tenha cavado
procurando o gostoso do úmido
desse chão)
Enquanto olho
uma voz sem palavras
traz algo de resposta:

"Para flutuar é preciso como
que se ande.
A flutuação é sempre
movimento.
Como flutuar parado; flutuar
com a Terra se enterrado..."

Tremo.
A idéia de um passo
inclina meus medos
sombreiam meu rosto
me agarro e
por um segundo
o sufoco é calor
(sufoco cheio de coisas boas)
até que o que aperto
vira minha garganta
Minha voz ressoa, pré-palavras

"Não é possível o passo.
O caminho foi conquistado;
é medo puro.
E se não se pode caminhar
só há uma coisa a se fazer:
vá abraçar a morte,
uma mais profunda do que se pode
conceber
(não faça idéias da morte)
Ao invés de dar um passo,
dance.
Vá dançar a dança de Kali!
Vá ser Shiva, e não represente."

Tenho um sorriso amarelo
verdadeiro
Minha voz sem palavras
Olho meus medos estrondosos
inacessíveis
Eles crescem
Meus medos,
palhaços terroríficos,
ganham a dimensão
da certeza

Onde eu acabo
uma música
começa

4 de outubro de 2007

Pedaço sobre intensidade

pra Cá, de novo, muito obrigado!

Tua provocação eu sinto como correta, e como bem me cabe, bobalhão, respondo teoricamente: o mais necessário no experimentalismo é a prudência. Prudência que sinto que tantas vezes não tive, mas que mordo o lábio para sentir que esteve sempre ali, perto. Tantas vezes me esqueci dela, ou, antes, não dei conta dela, que talvez a prudência seja a fazer exigências maiores, quase tantas quanto o Abismo, que é viva isso tudo, mas só um pouco, lembra? Um passo de cada vez, ou, como diz minha tia querida, a cada dia o que é desse dia. A cada dia o que é desse dia. Calma. E respire. Sempre!

Pule no buraco de cabeça, mas sinta o cheiro antes. Será? Quando tem tudo isso ali, talvez a tendência seja tentar ser tudo... e não há corpo que agüente. Nesse caso, o Corpo sem Órgãos vira o corpo cancerígeno, a comer a si mesmo. Intensidade que não fez potência, mas destruição... é demais. Corpo do drogado, sabe? É isso: sedento demais de vida. Atropelante. Terrível. Mas uma tentativa também. Não basta. Não é isso, não é, como seria ovacionar a vida e passar por cima dela, deixar sem vida pessoas no caminho? É muito difícil... Por isso a sutileza do xamã, sabe? O grande filho da puta, o maior piadista! Aquele que consegue efetivamente te matar pra te dar tua vida plena. É isso, e é pra poucos, e pra gente, e pra mim, é de lembrar de outra coisa: que matar alguém, no nosso nível, raras vezes demais significa libertar, e na maioria significa assassinato mesmo: do corpo, do coração, do espírito; com faca, com afeto, com vampirismo.

28 de setembro de 2007

nossa Iluminação de cada dia

Tarthang Tulku me faz pensar não em ir até a Iluminação, mas relaxar e perceber a Iluminação que já está em mim, sentir o ser que já é, e sempre foi, Iluminado.

como? óh Céus! aceito convites para cafés ou chimarrões e muitas dissertações improvisadas a respeito.

aho!

26 de setembro de 2007

todas as coisas são questionáveis.
exceto a luz dos olhares.

17 de setembro de 2007

Mantras Tibetanos

man: semente da mente
tra: transmutação mágica


TAD YATHA OM MUNI MUNI SHAKYAMUNI YE SOHA

(mantra do Buda Shakyamuni, transforma as ilusões e ajuda na autocura. pode ajudar que se visualize o Buda durante a entoação, e é especialmente eficaz nas Luas Cheia e Nova.)


OM AMITHABA HRI

(mantra de Amithaba, Buda da direção Oeste, inspira clareza e compaixão.)


OM MANI PADME HUM HRI

(transforma as emoções negativas e o sentimento através da compaixão ilimitada de Avalokiteshvara. seu canto desoprime o corpo e a mente.)


OM AH RA PA TSA NA DHI

(mantra de Manjushri. corporifica toda sabedoria. a espada de Manjushri corta e atravessa os enganos e a ignorância.)


OM AH HUM VAJRA GURU PADMA SIDDHI HUM

(mantra do guru Padmasambhava, antídoto contra a confusão e a frustração. especial quando cantado bem cedo.)

11 de setembro de 2007

Harry Potter

Bato palmas e faço uma mesura. Ela ganhou! Me venceu. Estou liquidado e feliz.

Através dos sete livros eu flutuei, vivendo a história como um participante sobre o qual os acontecimentos se projetam. Li todos mais de uma vez, alguns mais de duas. Sempre reli o úlitmo lançado antes de comprar um novo lançamento. Passei a lê-los em inglês britânico, delicioso original.

No sétimo, parecia que eu sabia o que estava acontecendo. Achei que havia captado todos os ganchos. Minhas suspeitas pareciam prováveis, e eu compartilhava sentimentos com Harry enquanto meus pensamentos de leitor se adiantavam na trama. "Será que vai ser isso mesmo?", pensei algumas vezes nas últimas semanas. E isso que, ao contrário dos anteriores, esse sétimo me fez mover-me devagar pelas páginas, até mais de sua metade. Sôfrego, angustiante. Difícil.

Mas, no final, ela realmente me venceu. E muito mais elegantemente do que eu poderia tê-lo imaginado. Acontece que ela não simplesmente me fez errado em todas as minhas hipóteses. Ao contrário, ela me fez certo! E, aí está: levou sua história muito além disso.

Ela fez o que eu imaginava, mas fez muito mais.

J. K. Rowling revelou-se uma escritora de verdade. Narradora de primeira, como vi poucos em minhas flutuações de palavras. E ela o é especialmente não porque, como eu já imaginei, sabe esconder os pontos certos de suas histórias; mas o é porque sabe contá-las, e, ainda mais, quer contá-las. E seu querer é tão genuíno e tão genoroso que ela as leva até onde precisarem ir... muito além do que se pode imaginar...

J. K. R. não só escreve: canaliza. E, assim, tece sonhos que não são só dela. Que delícia poder tecer sonhos coletivos!

5 de setembro de 2007

4 de setembro de 2007

Boas idéias

não é sempre que a gente encontra um blog cheio de boas idéias. mídia meio banalizada, né. e também tem essa mania insuportável de ficar escrevendo diários - exatamente como eu faço. heh.

então, um desses Espaços de Boas Idéias é o SpectaculaRPG. blog do Wal, cheio de boas idéias pra quem gosta desse "esporte de imaginação". ou gosta de idéias, ahn.

e agora eu "descobri" o blog do meu amigo Romy: AcompanhArte. passa lá e dá uma olhada, ele tá traçando os espaços da BienalB, aqui em Porto Alegre. útil pra burro! valeu, Romy!

(momento guia turístico, hein? ;o] a gente descobre maneiras simples de ser profundo...)

3 de setembro de 2007

Paragens oníricas

Aos poucos, o que se passou com a gente vai migrando da nossa vida direta para o campo dos sonhos. Aos poucos, eventos inteiros, dias, campos de ligações de significados; nossas narrativas, nossos dias, formas, cores, pessoas. Palavras no que tem de mais rico, potes de carregamento de coisas para além delas - e nem tanto as palavras, mas justamente as coisas, como blocos cada vez maiores de nós mesmos, tornando-se oníricos, sutilizando influências - às vezes uma excelente maneira de torná-las mais fortes.

Com o tempo, quando lentamente as novas formações de coisas pararem de se realizar em nossas vidas, porções de nós mesmos, os "nós" atuais, também passam para o lado de lá. Essas são as "pequenas mortes por inanição" da nossa multiplicidade. No que tocamos os outros, é o que acontece conosco naturalmente, quando nossa influência vai ficando cada vez mais etérea (e, também, dependendo da sua naturaza, mais ou menos forte). Mas para nós mesmos, no presente, isso também se dá. Até morrermos de vez e sei lá o que acontecerá - quem sabe uma passagem total para o lado de lá.

Outro dia, no entanto, me ocorreu de um indício de "movimento ao contrário". Acontece que na ocasião eu sonhava. E, no meu sonho, comecei a pensar em como seria possível trazer um objeto de lá para cá, de forma a acordar segurando-o.

Não sei quanto ao quê me referia no momento. Quem sabe já está por aqui, pendurado no campo mais sutil do meu corpo presente?

Como disse, não sei. Mas em épocas de questionamentos quanto aos entorpecimentos, me pergunto se não é exatemente esse o trajeto para a saudabilidade humana. Uma relação com o lado-de-lá, campo onírico, como a acordar tantas e tantas coisas adormecidas, como a possibilitar coisas que, sem terem adormecido, surgiram mesmo por aquelas paragens (como os Deuses), e, talvez principalmente, como a aumentar nosso campo de relações, de influências, de possibilidades, por pautar a vida não só nisso que podemos ver enquanto acordados, que podemos tocar e descrever concretamente, mas naquele tanto de inominável e absolutamente maravilhoso.

31 de agosto de 2007

Acelerada

Minha vida acelerada está cheia de vazios que não sinto; cheia de poucas coisas. Minha vida acelerada não tem tempo nem nada.

Preciso diminuir a velocidade me enchendo de coisas. Preciso ir além das coisas e viver as forças.

Os suspiros são como freios-de-mão.

22 de agosto de 2007

O Psicótico e O Iniciado

Há alguém que não era, mas em algum momento culminante de um processo vai até lá e, quando lá chega, não só pára e se horroriza, mas ainda dá um passo ou algo assim (talvez um pulo) e é aí que algo faz um crack! e já era: não se é mais o que era, e nem só dali adiante, mas desde sempre; louco, diferente.

Que será o crack!? Alcançar o diferente eterno de si mesmo - não o diferente de agora, mas o "sempre diferente" - de maneira por demais avassaladora? Enrijecer seu organismo psíquico tanto que ele quebra? Essas duas coisas? Outras tantas?

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Preciso de um ou alguns cracks!. Será que tenho medo de um crack! tão definitivo? Há opção de outro tipo? Crack! é claramente sentido como absurdo (de estranho e de gigantesco) sempre. Porque é crack!, ora. Mas quero o crack! daquilo que é enrijecido, porque preciso do flexível. Quero o crack! do eterno diferente, porque o o imperativo de qualquer forma (do Mesmo ou do Inconstante) não pode me servir. Um crack! no sentido de não mais, após ele, haverem cracks!, mas sim outras coisas mais redondas, como tchuuuuns!... e uiiiiiiiis!....

21 de agosto de 2007

Ator de mim mesmo

sou pura enganação! tenho rosto, gesto, jeito. uma performance de Pedro. e quão pouco isso é, e quão medroso eu sou, de não abandonar meu papel e ir além...

se a vida não perde o palco, afinal, quero são as cenas improvisadas! afeto em salto e é essa a integridade, da consciência, percebo, e não de uma Razão deslavada...

faz quanto tempo mesmo que estou ali, respirando na beira do Abismo?

16 de agosto de 2007

Desfigurado

crescebarba, aparabarba, cortabarba.

tenho um rosto tão pequeno! quase não tenho queixo, mas meus dentes são grandes. e o nariz, estranho, fica tão pra baixo. é meio fino e pontudo. será que emagreci? quem é esse? e não sei mais como é o sorriso, parece fino, mas se alonga. ah! que coisa, que pessoa, que rosto!

fiquei 25 anos tentando ser cabeção, e agora descubro que em verdade tenho rosto pequeno. cabeça também? nossa! sou burro!

sou burro!

sou burro!

e desfigurado serei também? com todos esse pedaços que parecem fora-de-lugar, com todas essas proporções estranhas... serei feio?

mas que grande liberdade!

só falta ser então feio, e quem sabe desajeitado, e aí sim: serei feliz!

que liberdade, imaginem: ser feio! ser burro! ser desajeitado!

e sabem por quê?

por não ter de sre inteligente. por não ter de ser bonito ou elegante. ah...

descobri uma vozinha dentro de mim que diz "seu idiota, imbecil, arrogante." é uma voz cretina e sábia. e ela também diz, quando vê alguma possibilidade de salvação para mim mesmo: "vai de uma vez, idiota!"

hoje, então, descobri que sofro de hesitação. assim, simplesmente, não óbvio, não é mesmo? sofro de hesitação. todo mundo já sabia, mas eu hesitava em concluí-lo. então, aqui está. hesitação. e, querem saber? não sei mais como fazer diferente! ufa.

sei exatamente o que fazer, no entanto não o faço. por quê? algo em mim me convence de que não sei. que arrogância, não é mesmo, saber? o neurótico divida por excelência. e eu aproveio e hesito. ora, diabos! duvide, se quiser, mas você pode fazer algo duvidando!

vai, vozinha. me humilhe. mas quem sabe não me ajuda a me mover? é que estou eu aqui, tanta energia sendo gasta em ser bonito, em ser inteligente, elegante. ufa... é como só fazer alguma coisa esperando a resposta, esperando que gere algo. mas que grande bobagem! olha o que tu faz com "ser", sendo só pela outra coisa, e não por isso mesmo? seu idiota!

vai, vozinha. pelo menos descobri que sou feio. ahá! sou feio! sou feio!

13 de agosto de 2007

por véuzes

há um véu em volta de minha cabeça. em volta de meu corpo, porém mais fino então.

será que consigo rompê-lo olhando por inteiro desde mim mesmo?

será que consigo rasgá-lo ao sentir mais e mais?

mas como desanuviar visão, desprender sentimento? falta meditação, caminhada, corpo exaurido de defesas, a saborear desde o suor sua vida. quem foi que me disse? "é bom quando às vezes nos cortamos sem querer; faz a gente sentir, lembra que estamos vivos". sábia. saiba disso.

falta buscar de verdade. vamos, Pedro! acorde seu Lunaris!

haja chakra do coração, jaya Terceiro Olho! vamos, vamos!

2 de agosto de 2007

fugit urbens

a ansiedade da cidade é ter nossas energias dispersas em velocidades e truncamentos; em ter nossas energias dispersas em não conclusões, retornos que não passam pela gente. não há um retorno senão o neurótico: aquilo que sai da gente, retorno imediato de nossas produções minúsculas, pele de contato, relação. sofremos de relacionamento, perdidos em redes mal utilizadas. velocidade e truncamentos. o mundo passa a ser grande e descontrolado, e nele vagamos como folhas no vento.

fora da cidade, os pés no chão e as mãos na terra é tudo o que precisamos para ver o que criamos. mais pele e contato. o gosto de terra tem milhões de doçuras; é um contra-senso todos os corantes que se colocam nos produtos embalados, afinal de contas.

30 de julho de 2007

Gregos e Indianos

Certa vez, o Rei Midas encontrou um sábio chamado Silenas. A ele, perguntou qual seria a melhor coisa do mundo. O sábio, sendo sábio, respondeu:

- Infeliz raça de efêmeros, filhos do acaso e da dor, por que tu me obrigas a te dizer palavras que em nada te serão úteis? A melhor coisa do mundo está fora do teu alcance: não ter nascido; não ser, não ser nada. Em segundo lugar, o melhor para ti seria morrer logo.

Tendo lido sobre essa certa vez, fico me perguntando se não eram os sábios gregos uns verdadeiros budistas...

Diálogos

- Sabe, com essa agora estás em um um mau humor constante. Será que vale a pena fazer regime para perder uns quilos e ganhar uma úlcera?

21 de julho de 2007

o vento da estrada sopra. estou tocado. se algo muda, toda mudança leva a tristeza do que se vai, e parece tanto que eu me vou que fico, em movimento, quase paralisado. quero um abraço, mil bons abraços de bons amigos, quem sabe um bom beijo. temo pela minha tanta vontade de ser amado. mas amo. e parece que a qualquer momento vou desabar em choro...

16 de julho de 2007

me voy!

com muita pretensão (que não ter minhas palavras anunciam como falsa), e mais uma vez inspirado no Mago-de-Macanudo, me voy! volto em Agosto!

9 de julho de 2007

Tudo bem?



Liniers

Colcha de Retalhos

recebi de uma amiga, que recebeu de uma amiga por ser a cara dela, mas é de uma grande amiga dessa amiga. e como é um pouco de mim... pessoas colchas de retalhos, me disse quem me mandou, tão, tão queridamente. é a gente, quem sabe.


Eu não consigo ser uma coisa. Não consigo viver por algo. Tenho esse saco sem fundo onde cabe o mundo. Mas cabe tanto, tanto, que vivo vazia. Porque ainda não aprendi a me preencher. Porque ainda ando por aí meio maravilhada e irritada, caçando meus pedaços, desejos e inspirações. Até que depois de ver um pouco de tudo e todos, eu saiba finalmente que cara e que forma tem o meu mural de recortes, a minha colcha de retalhos.

1 de julho de 2007

Tempo Foi

tempo passou já se foi, eu não queria que fosse
tudo pra mim terminou-se
e eu não sou mais o que era
a estância virou tapera
e que era chucro amansou-se
e agora só o que me resta
é a estrada pra bater casco
um dia me deu saudades...
(Iacã)


vai ao longo do caminho, amigo
portando teu estandarte
vermelho coração
e por mais triste que seja teu rosto
por mais tristezas que guardem teu sorriso
a Terra que abraça teus pés
sempre rege a celebração que vem
da tua vida

tua vida
cheia de tristezas
asperezas
para além da muita alegria
é mais rica
do que qualquer uma
porque nos enche a todos
e a ninguém
(enche o ar entre nossos corpos)
de uma energia que
ciência nenhuma explica
mas a gente sente sem titubear

leva, amigo
esse estandarte
cor-de-sangue
esse estandarte vermelho
como tua alma explosiva
e segue

celebra cada passo
cada tristeza
cada alegria
como quem faz em elegia
aos que foram
a maior homenagem
de quem ainda vai ir:

"nos esperem,
queridos,
que a gente só sai daqui
quando tudo for vermelho-fogo
incendiado com nossas presenças
arrebatado de nosso amor
e, com nossas mortes
um pouco mais vivo
do que antes"


(homenagem pra ti,
amigo-irmão
com uma canção
que sirva
do melhor abraço
um que diga:
te amo!)

28 de junho de 2007

Palavra de mão dada

de mãos dadas com as palavras dançam os abraços. que as palavras não ficam apenas institucionalizadas, mas cantam, viram notas. que as palavras, se bem usadas, apontam para campos de nós, ao invés de descrições; campos-de-força de nós mesmos, nós, desfeitos em forças, núvenzinhas rodeantes de coisas, pré-coisas e afetos a movimentá-las. que as palavras, postas de mansinho, invocam a qualquer lugar, quando dispostas - mesmo os lugares mais frios e duros -, um calor de conexão, corações, nossos encontros.

26 de junho de 2007

Soldado

Quero um machado
de abrir cabeças
de romper idéias em pó

e então
quero um abraço
A luz se apaga
em todo momento crítico
Sofro de escuridão
Mas sofro um pouco mais
nem é por isso
é pela descoberta
nos poros e limites
de minha cegueira tátil

20 de junho de 2007

O Arqueiro Zen

O Arqueiro Zen morava em uma pequena vila rural. Um dia, estava afastado em seus afazeres, quando um enorme tigre atacou a vila e matou seu filho. Quando o Arqueiro Zen retornou, foi tomado de sentimentos súbitos. Correu para sua casa, pegou seu arco-e-flechas, partiu para a floresta.

Ficou dias procurando o grande tigre. Até que, no alvorescer do quarto dia, o viu, em meio as árvores, deitado, de costas, a cem metros de distância. Sem pensar, sacou uma flecha, convocou toda sua disposição implacável ao puxar da corda, e a lançou; com a mira perfeita, a madeira entrou fundo no alvo.

Apenas que, ao se aproximar, o Arqueiro Zen percebeu abismado que ali não estava o grande tigre. Era, na verdade, uma pedra! Mesmo assim sua flecha ele encontrava cravada até o coração da rocha.

O Arqueiro Zen deu meia volta e contou cem metros em seus passos. Virou-se novamente para a pedra que tomara como tigre e, sacando mais uma flecha, pôs-se a alvejá-la.

Utilizou todas as que tinha. E já anoitecia quando deixou o local.

Mesmo com a precisão perfeita, todas as outras varetas quebraram-se ao encontrar seu destino.

(agradecimentos especiais a Leandro Lopez da Silva)

18 de junho de 2007

Tenchi

Vivo
a dez mil pés do chão
onde os ventos giram
e são mais fortes
ao decidirem
em supervisão
onde darão
seus rasantes

Inspiro
no caminho daqui
ao centro da terra
onde tudo que desce
retumba
e muda

Respiro
De em cima, em baixo
e do meio
me perco,
me acho

13 de junho de 2007

na esquina de olhares

nunca saio impune de um pedinte de esquina. já foi só chatisse, hoje é sempre um aprendizado de vida, de contato, sempre uma incomodação de vida, de contato, de ter que pensar sobre as coisas, de ter que sentir olhares.

há uns quatro meses Daniel de todo coração me disse que eu não mais olhava nos olhos daqueles que me pediam coisas pra dizer "não". de todo coração quebrou o meu me apontando, e eu não mais deixei de olhar e comover.

como ver. é difícil.

faz pouco me dei conta que é mais fácil dizer não praqueles olhares que mais se aproximam do que para os mais distantes, aqueles que utilizam de um comportamento agressivo como tática de conseguir seus trocos. mas é ridículo; prefiro me constranger de afetos bons do que de afetos ruins - ou lidar com esses constragimentos de formas mais apropriadas.

dizer sim ou não são questões constantes. experimento as duas. passou a ser um exercício quando cada qual, então. e contato. e vida. e incômodos.

nunca saio impune de um pedinte de esquina.




tirinha de Liniers

12 de junho de 2007

Vívido

Universo irrompe, explode, estoura. Entona vibrações de mil canções mais antigas que o homem, mas renascidas com ele desde que tomadas no corpo. Universo me rasga de verde e ar, a terra treme e meus olhos descolam a aperecerem novas cores. Meu coração acelera descompassado com a abertura de meu peito, desacostumado com tamanha reverberação de mundo, tamanha abertura que aos poucos se anuncia. Meu coração respira. Solta prantos a muito guardados, relaxa músculos distendidos, alonga a si mesmo. Meu coração, de leve, grita, e com sua voz vai aprendendo. Seus passos aos poucos se ritimam aos da Terra. Trêmulo fica estável, girando ganha consistência.

Meu coração ensaia sua dança. Eu acompanho.

11 de junho de 2007

Arca Verde

Ao vento só resta
a lingua da verdade
de reto ou em curva
passar por entre os buracos
de nossas roupas mal usadas
desamarrar nossos cabelos
de um mesmo penteado e trato
nos inflar de apelo de vôo

o vento é um sopro de vida
que nos abraça até quando esfria
obriga que facemos algo
(é tão vida de também trazer
a morte)

Do vento forte
que de todo lugar
vem pra cá
a Arca é um grande moinho
a processar nossos corações

3 de junho de 2007

Tremo.
Por mim
o veio escorrega

Inundo o mundo
de idéias
e resbalo
nelas
com esse corpo
que pelos poros
não consegue
dizê-las

Me escondo
onde, não sei
que ainda conto
apoiado atrás da árvore
com o rosto
mergulhado
nos braços

21 de maio de 2007

15 de maio de 2007

Inversibilidades

um não sempre aponta para a possibilidade do sim.

mentes inspiradas tem idéias malucas.

a beleza se mostra mais fortemente quando estamos descuidados.

14 de maio de 2007

Segunda-feira

acordo com dores de pré-gripes. tudo está mais amortecido, ou é um efeito de despertar o que sinto? não sei quando sou automático e quando desperto, não sei ser, concluo. incluo que essa vida é coisas demais e não adianta querer não errar. lamento a falta de tempo pra errar um pouco mais, eu que estou sempre tentando fazer tudo durar um tanto, ao passo que corro (de velocidade, de fuga).

essa vida é uma loucura. e as Segundas-feiras são ainda mais estranhas do que os finais de semana...

13 de maio de 2007

Oratória

Palavra glaceia na boca
toma medida
no olhar
A palavra
estudada
(palavra-boneca
arranjada em buquê)
maqueia
sorriso amarelo
e da nó
na gravata

10 de maio de 2007

A Palavra

Chegou a palavra e
aflorou desde dentro
palavra sem coisa
dentro antes coisa

A palavra veio
em desabando
irrompeu
explodiu dentro-fora

A palavra
fugidia
despontada
virou incendiária
explosiva
e fez nada da coisa
e tudo de mais

8 de maio de 2007

o frio

o frio matura palavras
fico a mastigar ao passo de
aproveitar o cheiro da
nova temperatura

o frio matura gentes
em processos
entrementes
jeitos

o frio
aventura
matura
anseios

7 de maio de 2007

Trilha

em silêncio sou mais eu.

descobri que mesmo uma cachoeira, onde a água é puro fluxo, tem em si aglomerações que se chocam mais violentamente contra as pedras embaixo, e fluidezas que se tornam quase núvem e aí toda queda vira um aterrisar mais suavizado.

mesmo o fluxo tem durezas e relaxamentos.

---

ainda vou me perder na selva.

28 de abril de 2007

Busca

neurose também nunca basta pra corações intensos... a gente nunca cansa de se quebrar pra achar um certo além...

(da série "mais-além")

26 de abril de 2007

Saudade

saudade corre em mim até sem saber pra onde.

f [principalmente = até?]

Descobri

tenho o maior medo da abertura que procuro. e aí, será que finjo procurar?

dai-me coragem, óh além-de-mim...

Pequena observação

Os homens choram parecido. As mulheres indignam-se muito semelhantemente.

Tudo isso de humano vale pouco de humano, como a trazer um geral-de-nós a nos deixar menores.

23 de abril de 2007

Passeio

Final de semana andei cego no Centro por 40 minutos. Descobri que os corpos são muito maiores do que aparentam à visão. As máquinas, por exemplo, tem seus corpos ampliados pelos seus sons, e não é só com suas rodas e metais que uma lotação te atropela, mas com o que expande violentamente do barulho de seu motor.

Foi meu único medo. Um som que me fincou, atravessou, furou. Me deixou amassado e com frio, sem saber, de sua força, se o metal vinha afinal pela frente ou por trás de mim.

De resto, muito gosto em ser conduzido. E a delícia de correr assim, sem amparo de meus olhos, das minhas pernas o quão bambas que ficaram, de abraçar árvore e da delícia de dentir a vertigem de um balanço.

É isso. Ande por aí de olhos fechados.

19 de abril de 2007

Sinal de saudabilidade

tudo está mais redondo.

Esta mira

O homem como o único condicional. Que a única solução é queimar tudo, queimar os disfarces e os seres, e aí deixar os disfarces e trocar os seres. Eu também. Se fosse pra isso, e me queimassem agora, agorinha, eu até agradeceria...

11 de abril de 2007

Do jogo das coisas

Pessoa é gravidade
que quando passa
a gente se inclina

Se a doçura tivesse asas

Se a doçura tivesse asas
seria uma bruxa
que com toda sua maciez
provocaria nas (asseadas) garotas
(todas arrumadas
e tão assim simpáticas)
tenebrosos chiliques

10 de abril de 2007

Planejo futuro
mil vezes em uma
Penso no possível
no impensável
Trafego, viajo
me sento
me acalmo
e instigo em
pensar se o refúgio
é coisa de velho
No final
acabo resignado
Diagnostico:
sofro
de antecipação
crônica

Pequena Calamidade Íntima

Levanta o pé
a ensaboar-se
Bóia o chinelo:
o banho
virou banhado
Odeia
o ralo do banheiro

9 de abril de 2007

Manhã

A manhã me acorda
frio lá fora aqui de dentro
o vento traz cheiro
gosto de bergamota
o vento vem com mil coisas
fala em mil idiomas de vento
enquanto os cavalos
olham e se mexem em palavras
línguas de cavalos
sem ouvir eu ouço
meu pé meus braços no arame
falam mil línguas de mim
e além

Declaração de Grande Relevância

Só há uma coisa da qual gosto mais do que de pedágios, que é pedágio com apito.

4 de abril de 2007

Dum poeta das coisas

O poema é antes de tudo um inutensílio.

Hora de iniciar algum
convém se vestir roupa de trapo.

Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.

Faz bem uma janela aberta
uma veia aberta.

Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
enquanto vida houver.

Ninguém é pai de um poema sem morrer.

---Manoel de Barros, "Arranjos para Assobio"

2 de abril de 2007

Abocanho o ar que respiro
Provo o gosto dos cheiros
e adoro
Deixo o chão abraçar
minhas solas
e o vento
meu corpo inteiro
até dentro dos olhos

(e os olhares -
sempre tamanhos
como se tivessem a
menor medida
do indescritível -
deixo que me
indescrevam)

Só para que seja tão vasta
quanto é
tão menos limitada
se pudesse
me excluiria
de minha própria
experiência

1 de abril de 2007

Vertigem

acordo cinza em dia assim, um frio lento se apoderando de mim, incerto. tremo por dentro. procuro de saudades, de abraço e de tudo, e vem aquele frio na barriga de quem se atira por cima da beirada. meu corpo sabe que fugi tanto disso. entendo meu pai e todo homem que já esteve sozinho, e entendo o quanto não quero ser assim, viver por um buraco de mim.

quero pedir socorro (e acho que peço, grito pela garganta, pelos poros, pelos olhos). mas me deixo cair. como se eu soubesse que preciso. passar. por. isso.

preciso passar.

o mais estranho é a sensação de tolice por todas as vezes que acreditei já ter acabado com as mortes.

31 de março de 2007

Encouraçado de mim

Desabo ao me sentar
(ao me sentir)
Meus ombros escorrem
com o suor das costas
A espinha curvada
derrete

Queria aproveitar
e me desfazer completamente
ou sentar ereto
Meditar
buscar a felicidade do cansaço
(um corpo exausto
não é incerto)

Mas aqui e ali
resistem
alguns duros blocos
de vazio inalcançado

A vida posta em pernas

Ela corre de mim devagar
e eu não consigo
persisto
não alcanço
desisto
Vejo ela partir
lentamente em passos rápidos
e da distância ser fenômeno
tão estranho
divago

29 de março de 2007

Mergulhado Turvo

Essa semana está sendo difícil. E eu fiz o mais difícil.

É possível que não se queira o que tanto se quer?

Me odeio, geminiano.

26 de março de 2007

Certeza (versão 2.0)

eu sempre sei.

mas só agora.

DeAnima

o som tocava como 100 caixinhas de música. e como as dançarinas de madeira, era ballet, inevitavelmente inquestionável, pontas de pé, formozura torta de reta. mas era outra coisa. e entre as 100 caixas de música, os pés faziam som de pingos da chuva.

foi o laranja, entrou o preto. e a alta performance do corpo bobo, tosco, dificilmente esticado, mole de torto, pé de pato. eram patos cruzando o palco, tantos, depois tão poucos... e dançando por imagens.

as duas peças duraram quase nada em 45 minutos. depois de um tempo, a volta sobre relacionamentos, e se nem tão excelente, ótimo. a platéia não se levantou a aplaudir, e eu não entendo, juro que não entendo. quem vê o que é bom não parece entusiasmar-se, enquanto que outros pulam de amizade.

bem, dessa vez eu pulei. virei amigo da experiência. o mundo não parece o mesmo depois da Pina Bausch e afins (existe outros como ela? acho que sim...).

que bom.

23 de março de 2007

Notícias Contemporâneas

Psicogeógrafos e Geopsiquiatras de renome mundial reuniram-se essa semana em congresso inédito para discutir o caso clínico da Terra. Após várias reuniões que variaram entre muito rápidas e muito longas, os profissionais de tantas escolas dos dois campos de conhecimento chegaram em consenso a um incrível diagnóstico - um acontecimento sem precedentes na História da GeoMedicina e Terra Mental.

O laudo final, com 113 páginas de extensão em sua descrição pormenorizada, pode ser resumido da seguinte forma, como consta no final do mesmo: "Finalmente, dado os inquestionáveis sintomas climáticos tanto desde há muito registrados quanto mesmo agora se demonstrando- e seguindo sendo atentamente observados -, e de acordo com os principais manuais de uso internacional tanto da Associação Americana de GeoMedicina quanto da Organização Mundial de GeoSaúde, diagnosticamos a paciente Terra como sofrendo de esquizofrenia paranóide."

No entanto, alguns profissionais de campos alternativos atestam que tal diagnóstico não pode ser considerado completo, visto que é baseado em uma clínica da investigação impessoal e da mera observação. "O campo da geopsiquiatria", disse em entrevista exclusiva o Dr. Lovelock, "está contaminado por um tipo de exame que exclui completamente a subjetividade do paciente, e o compromete apenas a avaliação do campo de conhecimento conhecido. Ninguém, no entanto, realizou um exame sério a partir do que a paciente Terra tem a dizer. Isso é um absurdo!"

O presidente da Associação Americana de GeoMedicina afirma, em contrapartida, que o campo de conhecimento encabeçado pelo Dr. Lovelock, conhecido como "geoanálise", não pode ser considerado científico, e portanto...

10 de março de 2007

Instruções para Abrir o Corpo em Caso de Emergência

visto e, em caso de emergência, não tenho idéia do que fazer.

vá ao teatro, mas não me convide.

6 de março de 2007

admito

cansei de super-visibilidades

Num guardanapo

Se fosse de palavras
feita minha alma
seria preciso
que eu te escrevesse
à penas

Meu coração bate palavras
mas sempre algo mais

5 de março de 2007

a volta
envolta
em voltares
vira
vexa
vesga
resga
inunda
salutares

26 de janeiro de 2007

por um funeral viking

reivindico minha neurose.

armo o barraco em cima de um bote, jangada de madeira do jeito que eu conseguir fazê-la.

levo ao mar, quando lá chegar.

e com uma flecha acendo a pira incendiária.

adeus, ferrugem de mim.

22 de janeiro de 2007

desde que me fui

lembro que um dia eu já fui eu. e era gostoso ou chato usar meu corpo, minha voz, meus jeitos, mas acima de tudo era natural e insuspeito. eu era eu e não sabia que poderia não sê-lo.

o que houve pra que eu saisse de mim? aguma coisa me convidou pra fora da casa de mim mesmo... uma enchurrada, que me disse que eu poderia ser outra coisa, ou que me mostrou outra coisa. fui algo um tempo e deve ter sido bom.

ano retrasado já me estranhava. quando cheguei no Rio, era evidente.

desde que voltei, fico tentando me achar. na verdade, logo que aPortei, parecia que era isso, que era eu ali. mas ainda acho indícios que não sou. ainda me procuro, ainda sou outro, ainda sou vago ou perdido ou pouco encontrado (que devem ser coisas diferentes).

por isso, se me ver por aí, não dê tanta bola. sei que pareço comigo. algumas semelhanças até convencem. é que fico tentando me imitar. e vez que outra consigo ser bom ator.

agora, se por acaso dobrar uma esquina um abraço de Pedro, um fantasma, uma sombra, um suspiro de sentimento, uma grandeza ou pequeneza em pessoa; se dobrar a esquina alguém que se parece comigo mas que é de fato pura presença, alguém que é minha cara, meu jeito, meu olhar e está de fato ali a encará-la(o) nos olhos de verdade, com ternura ou assombro ou seja lá o que for - por favor, peça pra que eu volte pra mim.

obrigado!

16 de janeiro de 2007

Filhos do Sol

é gostoso tentar se afinar com a sensação mais do que com a briga por uma explicação. ali tem uma coroa, o céu hoje tem muitas cores, e ainda assim o sol bate forte quase como se não houvesse diferença. ainda é difícil pra mim, mas é gostoso buscar um entendimento do corpo, não racional, uma direção de vetor do acontecimento: vai.

o SOl como um suspiro. o halo como um elo da cabeça aos pés. o corpo pra além do corpo, corpo energético amplo.

expanda sua mente. expanda sua pele.

15 de janeiro de 2007

Resolução de Novo Ano

não me explica!

não explicarei.

da última vez que morri

já entreguei meu corpo por uma mulher. joguei minha carne no mundo, ofereci das minhas veias o sangue.

levei minha alma no conjunto, quase embrulhada. acho que pairou em volta, avoada de alma - e eu tentando fazê-la passar por debaixo de uma porta, dentro de um envelope, ou num olhar mais forte que definisse "é agora, viu?".

entre meu músculos vacilantes, morrendo de medo de não serem bem-vindos, e minha alma avoada, que na verdade não soube ser dada, deixei de lado toda minha cara mundana. dei meu dia-a-dia, não sei se a ela, ou se para o mar.

quando a gente ama com o olhar e com o abraço, fica surpreso quando mesmo com isso os corações não se encontram. temo que o amor ficou preso no arranjo. e quando a coisa aperta, não é pros olhos que se olha, não é pro que não agarramos, mas é pro duro de concreto, e o tamanho da força organizada de trabalho, de nome, de brados, de pernadas pela sociedade.

sou bobo de vida. mais do que deveria. ao me dar me matei e mal percebi. meus ossos ruíram em pó, minha alma se desfez no ar, se desligou do meu respirar, da minha ação. meu corpo que dizem, o Pedro de quem se fala, se perdeu e não tinha o que dizer de si mesmo.

hoje vago bem. os restos de mim se reconstituíram numa forma que ainda se forma, molécula por molécula de experiência, desinformação e caos. a gente se recupera num outro, o mundo tem sempre o potencial para descortinar-se.

mas daquele eu... nunca vou me recuperar. meu coração ainda tranca hesitante - sofreu um derrame de suas próprias batidas. hoje nasço e fico feliz do abraço do mundo quando vem ou quando vou. mas é isso... um desabafo que ainda não sai completo, um estandarte que ainda cai sobre minha cabeça. ainda sou um fragmento, ainda me procuro nos meus jeitos.

ainda vou sair pelo mundo. o melhor de se perder não é a possibilidade de se achar. é deixar. só ser.

da última vez que morri, foi minha morte mais avassaladora. de repente percebo que ainda me ronda, me assombra. subcutaneamente. e minha pele transpira um frio imaterial.

é engraçado. como não sei de nada, só sigo.

(queria chegar em um ponto algum aqui. queria jogar pra fora, quem sabe chorar palavras. mas não é claro... não vem claro. por enquanto, só me dá voltas... é a recém que percebo o quanto ainda está presente. e eu querendo bradar milhões de vozes e explodir por fim! e eu querendo vocês na companhia disso, um portal de tela mais uma vez, só mais uma vez. blah... vai dormir comigo. ainda. mais. um pouco.

beijo.)