15 de dezembro de 2005

O Prazer do Texto

O brio do texto (sem o qual, em suma, não há texto) seria a sua vontade de gozo: lá onde precisamente ele excede a procura, ultrapassa a tagarelice e através do qual tenta transbordar, forçar o embargo dos adjetivos - que são essas portas da linguagem por onde o ideológico e o imaginário penetram em grandes ondas.

(...)

"Que a diferença se insinue sub-repticiamente no lugar do conflito." A diferença não é aquilo que mascara ou edulcora o conflito: ela se conquista sobre o conflito, ela está para além e ao lado dele. O conflito não seria nada mais do que o estado moral da diferença; cada vez (e isso torna-se freqüente) que não é tático (visando transformar uma situação real), pode-se apontar nele a carência-de-gozo, o malogro de uma perversão que se achata sob o seu próprio código e já não sabe inventar-se: o conflito é sempre codificado, a agressão não é senão a mais acalcanhada das linguagens. Ao recusar a violência, é o próprio código que eu recuso (...). Eu amo o texto porque ele é para mim esse espaço raro da linguagem, do qual está ausente toda ‘cena’, (no sentido doméstico, conjugal do termo), todo logomaquia. O texto não
é nunca um ‘diálogo’: não há risco nenhum de fingimento, de agressão, de chantagem, nenhuma rivalidade de idioletos; ele institui no seio da relação humana – corrente – uma espécie de ilhota, manifesta a natureza associal do prazer (só o lazer é social), deixa entrever a verdade escandalosa da fruição: que ela poderia muito bem ser, abolido todo o imaginário da fala, neutra.

...

Na cena do texto não há ribalta: não existe por trás do texto ninguém ativo (o escritor) e diante dele ninguém passivo (o leitor); não há um sujeito e um objeto. O texto prescreve as atitudes gramaticais: é o olho indiferenciado de que fala um autor excessivo (Angelus Silesius): "O olho por onde eu vejo Deus é o mesmo olho por onde ele me vê".


Parece que os eruditos árabes, falando do texto, empregam esta expressão admirável: o corpo certo. Que corpo? Temos muitos; o corpo dos anatomistas e dos
fisiologistas; aquele qie a ciência vê ou de que fala: é o texto dos gramáticos, dos críticos, dos comentadores filólogos (é o fenotexto). Mas nós temos também um corpo de gozo feito unicamente de relações eróticas, sem qualquer relação com
o primeiro: é um outro corte, uma outra nomeação; do mesmo modo o texto: ele não
é senão a lista aberta dos fogos da linguagem (esses fogos vivos, essas luzes intermitentes, esses traços vagabundos dispostos no texto como sementes e que
substituem vantajosamente para nós as "semina aeternitatis", os "zopyra", as noções comuns, as assunções fundamentais da antiga filosofia). O texto tem uma forma humana, é uma figura, um anagrama do corpo? Sim, mas de nosso corpo erótico. O prazer do texto seria irredutível a seu funcionamento gramatical (fenotextual), como o prazer do corpo é irredutível à necessidade fisiológica.

O prazer do texto é esse momento em que meu corpo vai seguir suas próprias idéias - pois meu corpo não tem as mesmas idéias que eu.

(...)

O prazer do texto não é forçosamente do tipo triufante, heróico, musculoso. Não tem necessidade de se arquear. Meu prazer pode muito bem assumir a forma de uma deriva. A deriva advém toda vez que eu não respeito o todo e que, à força de parecer arrastado aqui e ali ao sabor das ilusões, seduções e intimidações da linguagem, qual uma rolha sobre as ondas, permaneço imóvel, girando em torno do gozo intratável que me liga ao texto (ao mundo). Há deriva, toda vez que a linguagem social, o socioleto, me falta (como se diz: falta-me o ânimo). Daí por que um outro nome da deriva seria: o Intratável – ou talvez ainda: a Asneira.

(...)

O prazer, entretanto, não é um elemento do texto, não é um resíduo ingênuo; não depende de uma lógica do entendimento e da sensação; é uma deriva, qualquer coisa que é ao mesmo tempo revolucionário e associal e que não pode ser fixada por nenhuma coletividade, nenhuma mentalidade, nenhum idioleto. Qualquer coisa de neutro? É fácil ver que o prazer do texto é escandaloso: não porque é imoral, mas porque é atópico.

(Roland Barthes)

4 de dezembro de 2005

Notas de um Biólogo Alienígena


A flatulência poderia ser um sistema de defesa dos seres humanos, dado o cheiro desagradável capaz de gerar, insalubre para outras espécies. É possível, é claro, que o já muito forte cheiro da espécie humana frente ao olfato apurado da maioria dos outros animais do planeta possa significar que uma variação negativa devido a flatulência não fosse assim tão eficaz. No entanto, é por um problema muito mais básico que esse não é um método eficaz de defesa: a soltura dos órgãos intestinais está relacionada com um funcionamento calmo de toda a fisiologia humana (chamado efeito parassimpático), nada próprio as demais ações de defesa (prontidão muscular, aceleração dos batimentos cardíacos, repiração apressada etc., todos efeitos simpáticos). Quando o organismo humano, portanto, sente apreensão, seus órgãos intestinais tendem a prender suas funções, e a flatulência não se torna possível; de fato, se porventura acontece, estaria relacionada com um funcionamento de anti-sobrevivência, afetando o bom desempenho de outras funções de fuga ou prontidão. A flatulência parece ser, então, apenas uma idiossincrasia orgânica, quando da liberação de gases provenientes da digestão, e não é aproveitada de forma construtiva no comportamento natural da espécie. Serve para nos ilustrar o quão estranhas são essas criaturas. Apesar de que observadores de outras áreas podem considerar tanto a hipótese de uma importância primitiva da flatulência enquanto excitadora de parceiros (ritual de acasalamento), ou, numa análise da sociedade humana contemporânea, as repercussões relacionais possíveis advindas dessa expressão orgânica genuína da espécie - ver artigo entitulado Os Seres Humanos - Uma Espécie Que Estranha a Si Mesma.

Gringa Utopia

Pra Bahia em um dia
e nada mais
Além da rede
debaixo da palmeira
a capoeira que a gente vê
e a mulata,
matreira,
a me fazer cafuné

3 de dezembro de 2005

A Teia do Espetáculo

a desgraçada nos pega. é isso aí, o poder da polêmica também tem disso... como eu tava caindo na teia, resolvi, depois que um amigo me apontou o caso, colocar isso aqui...

o espetáculo tem essa lógica perversa de esvaziar as questões e ficar só no rebuliço, no tititi, no "nooossa!...". é uma bela proteção pro sistema, porque não faz nada girar; uma tática repressora filah da puta porque bebe justamente nas nossas peles arrepiadas...

muito bem, vale apontar simplesmente que, no caso dos estudantes expulsos da UNESP e das subsequentes manifestões que se liguem ao caso, é bom não esquecer pelo que eles estavam protestando, senão corremos o risco de estarmos justamente tapando a denúncia, promovendo birra ao invés de mudança, e até justificando toda repressão quando se esquece do problema...

Prisioneiros Políticos

me parece que o caso dos estudantes expulsos da UNESP tratado numa postagem recente está precisando de uma elaboração maior, principalmente pelo que apontou o Ari ao comentar nessa postagem, quanto a prática: o que diabos se faz agora?

eu sugeri que uma forma de gritar a favor dos estudantes seria tratá-los como prisioneiros políticos. a lógica disso é simples: pessoas privadas da educação a que tem direito estão na verdade presas. e isso foi feito por nenhum outro motivo além das divergências políticas (ou seja, de vida) quanto a forma de protesto tomada pelos alunos.

muito bem, eu não sei se adianta que protestemos pela soltura desses prisioneiros, ou seja, pela revogação da resolução do vice-reitor que expulsou os estudantes. é que o que escreve o Hakim Bey sobre sermos criminosos não é brincadeira não. não é uma metáfora... terrorismo poético significa terrorismo também! e é assim que seremos tratados, como criminosos, desde a vizinha de apartamento que reclama do barulho das nossas reuniões fora de hora, até o reitor da universidade. não há injustiça aí, estamos lutando de formas muito distintas, são lógicas e éticas de vida diferentes. não adianta esperamos algo diferente, faz muito tempo que nossos textos já incorporaram isso, somos criminosos sim sem alusão heróica alguma. sei que é muito difícil que incorporemos isso também inconscientemente... no final, nossa sensação de que estarmos certos que nos dar o direito honrado de dizermos isso de cara limpa. e, bem, tudo isso é verdade sim. mas não seremos tomados com cara limpa. nossa cara será suja pelos ouvidos e olhos dessas pessoas que nos escutam e vêem dos seus lugares bem protegidos pelo sistema. e a única culpa deles é não se darem conta da inconsistência de suas posições...

entendido isso, segue-se pra pensar alguns jeitos de gritar. porque é claro que nos admitir criminosos não significa admitir também as punições que eles nos impõe. somos criminosos políticos, gritando pela vida, no momento enclausurada no meio de regras, normas, dogmas, uma cultura estúpida e zumbificante. nossa luta é contra uma lógica, ou talvez seja muito mais... raras vezes dá pra falar de nós e eles, justamente porque estamos tentando dissolver arranjos sociais, descrições do mundo, mas tem vezes que isso é possível. não vale cristalizar nossa luta nisso, entender que então a gente derruba o tirano e a tirania cai por terra... mas aproveitar a situação pra fazer surgir os brados justos, os supiros de vida dos enclausurados...

deixando claro: os prisioneiros políticos em questão tem que gritar pela sua liberdade. o resto de nós, contra as prisões. são brados diferentes que vão em um mesmo sentido, como podem haver muitos outros.

já passa da hora de pensarmos o que pode ser feito pra dar ressonância a tudo isso. o bom é possibilitar que gritos locais, brados de guerra de pequenas culturas, entrem em contato com a luta dos estudantes expulsos da UNESP. não é generalizar as situações, mas, ao contrário, minorá-la; dar força a cada grito. somos muitos, somos os mesmos, com problemas específicos muito diferentes. nada disso é novo, é o jeito de luta da Ação Global dos Povos, dos Zapatistas, de todos nós, sem rosto.

sugiro que o pessoal expulso crie um núcleo de conexões ao qual o resto de nós possa se remeter em suas práticas particulares. não precisamos concordar com nossos jeitos, pelo contrário, temos mesmo que usar o que interessar a cada um de nós - discordemos, criemos paradoxos, é dessas formas recombinantes que a vida se faz maior e mais produtiva, se faz muito mais possível.

acredito que a forma mais potente desse núcleo seja uma página na internet. o melhor seria se ela permitisse comentários e participações livres de qualquer visitante. depende da capacidade de quem for criar esse núcleo, qualquer coisa pode funcionar, um blog, um fórum, uma página-wiki, ou algo diferente. obviamente, quanto melhor feita melhor, que sjea cativante, que chame a atenção - temos que usar de tudo a essa altura do campeonato.

seria interessante que os prisioneirso políticos coloquem publicamente suas intenções. aí que tenham discussões entre eles (entre vocês, meus amigos) pra que decidam como colocar isso. se eu estivesse na sua posição, creio que assumiria o precito básico não seja pego e então usaria o que fosse preciso pra manter uma certa consistência ideológica mas para possibilitar minha própria libertação. isso não importa: façam uma retratação, peçam desculpas, digam que exageraram, expliquem que seu ato não tencionava o desrespeito da pessoa do reitor, nem da sua figura pública, mas visava sim a instituição. ou não. depende até onde se queira ir... eu realmente sugiro que soem o melhor possível, sem abandonarem a si próprios. lembrem-se de rir do que der.

no núcleo, poderia ser feita uma clipagem de tudo que é publicado na internet sobre o tema. que as pessoas tirem suas próprias conclusões, e que uma rede se estabeleça, e que outros sejam estimulados a fazerem parte dela. aí isso tudo passa a ser mais do que o caso em si, mas uma superfície onde possamos correr um pouco, dar uns saltos. sabemos que nada disso tende a durar muito, mas, sempre, o que nos interessa é o levante, e a energia criada nesses momentos.

nossas ações apontarão, então, pra esse núcleo - que, de preferência, aponte também para elas. e vemos o que pode ser feito, se capturamos a mídia com isso, se causamos alguma pressão. no mínimo, trocaremos, causaremos encontros. libertem os presos políticos da UNESP!! que tal?

30 de novembro de 2005

27 de novembro de 2005

Mimado

Pau de prender cobra
não nasce de rio chorado não
Nem pé de cabra
que arrebente o mundo

25 de novembro de 2005

rebuliços

noticiazinha sobre o uso de terrorismo poético como manifestação. como assusta, e no que pode dar. importante, interessante, acho que dá pra pensar muitas coisas, mas agora tô com preguiça. pelo menos a gente sabe que a invisibilidade continua sendo nossa melhor técnica de segurança: revolução sem rosto também é isso, meus amigos!

***

complementando...

eu realmente respeito muito qualquer um que tente uma prática subversiva. ainda que em protesto. mas me preocupa ter gente boa, gente rara com cara de fazer coisas, ter sua vida tão complicada por retaliações de algum sistema. tudo bem, a gente não se importa tanto com complicações... tudo bem, casos grandes trazem as coisas a tona... mas não sou a favor da política de mártires. a menos que sejam mártires por engodo, pessoas que, por exemplo, queriam mesmo cair fora e aproveitam essa vontade pra estourar a boca do balão... saia em grande estilo... essas pessoas foram expulsas da universidade, me dói que tenhamos agorinha menos rebuliçadores na Unesp.

agora, é de se pensar sim senhores: não faça um mártir do seu mártir! o conceito de porta-voz é outra coisa! que a reitoria da dita universidade responda dessa forma, é de se lutar então por dizer que esse foi sim um protesto válido, e não desrespeita nem um pouco mais do que o desrespeito pelo qual os alunos estavam passando.

a primeira regra da prática é não seja pego. se a rede cair, ache um jeito de furá-la. talvez ainda haja tempo. que que a gente pode fazer a respeito?

eu trataria os expulsos da Unesp como prisioneiros políticos. num emaranhado tão absurdo, a delinqüência (pra deixar feliz o amigo Ari Almeida) é um ato político muito válido. não é pra eles? pra gente é, e já tá aí na cara que eles vão ter que nos ouvir, podem muito bem não entender, mas vão ter que arranjar maneiras de ouvir sim senhores. como é que se fazia pra soltar presos políticos? sequestravam figuras importantes. que tal uns sequestros mentirosos, falsos? e se começarem a desaparecer alunos nos campi, saírem notas dizendo que os professores que nunca aparecem morreram vítimas de atentados terroristas, o café do bar for suspeito de conter antrax ou algum componente alucinógeno (alô estudantes de biologia)? antes do Wu Ming ali de cima veio o Luther Blissett, e é claro que todo mundo já sabe disso...

enfim... protejam os pobres rebeldes, indefesos em sua deliqüência. não fique desamparado na subversão. não seja pego, por favor, e consiga ajuda se isso acontecer... que é pra não ficar mal nessa vida! o risco de acabarem com nossos corações revolucionários me assusta, uma Terra sem eles seria um saco...

24 de novembro de 2005

Precioso Mundo Seguro

Cada vez que tombava
um metro de medo e dor
saiam da altura da sua barriga

Medo de mundo partido
Dor de mundo quebrado

No chão, aos prantos,
ia remendando os pedacinhos
do seu mundo virado
e torto, e já torpe

O mundo a sua volta
ia prendendo-se assim
Um emaranhado de fios
de sentimentos tão pesados
que não havia espaço
pro mais leve desvario
Um novelo de lógica e esforço
de manter esse admirável mundo novo
tão duramente conquistado

Dias felizes
em que seu mundo
zelosamente seguro
subia a sua volta, fio sobre fio,
e lhe tapava a visão

22 de novembro de 2005

Referendados e Reduzidos (ou Manifesto por Temperos da Vida Contra a Indigestão do Estado)

o que eu vou escrever aqui começou com um comentário na postagem army of me, mas aí achei que dava pé pruma postagem própria...

foi-se o referendo. e agora, José? a primeira coisa que me ocorre é perguntar o que a gente faz com todas aquelas discussões que tivemos antes da categórica votação. a idéia do referendo parece ser apoiar-se na opinião do povo para tomar uma decisão legislativa. antes da votação, eu me perguntava o que isso poderia trazer de mudanças. teoricamente, consultar o povo parece uma ferramenta democrática importante, mas, na minha teimosia incrédula - auxiliada pelo momento de tensão política em que diz-se aos jornais: uma outra manchete é possível -, ficava perturbado ao ver que informações sobre cada uma das opções traziam as propagandas, o quão estranhamente estava formulada a pergunta, coisas assim... mas pensava também que simplesmente sendo feita a questão tornava-se possível, pela polêmica, discussões que porventura pudessem trazer consigo alguma crítica.

vejam, me importo pouco com o decidido pelo instituído, se comparado com uma outra coisa, que é a cultura: como tomamos tudo isso, como lidamos com isso, de que formas estamos apreendendo essas regras, vivendo com elas. se a situação da sociedade mundial me deprime, fico mais preocupado com as possibilidades culturais de lidar com os problemas, porque é aí que está a vida e o viver, na sua teia mais democrática. e justamente pela idéia de que nossa cultura é um porre, cultura burra do esquecimento, que penso visceralmente estar na revolução cultural - conceito já tão batido, mas que me parece ser constantemente esquecido - qualquer possibilidade verdadeira de mudança.

então tinha lá eu minha esperança que a grande força do referendo não fosse o resultado do apertar de botões, mas sim a polêmica causada pela pergunta. eu devia ter me segurado mais na desconfiança que me despertava o vazio das discussões sobre essa polêmica - aí, não ficaria tão decepcionado. deveria ter me dado conta que não há abertura possível para crítica numa pergunta cuja única resposta possível está numa opção absurda entre sim ou não - e no continuado e muito suspeito comportamento de nunca se falar da opção 3, nunca, em propaganda explicativa de votação alguma!

o que eu não imaginava é o que foi-me apontado após o resultado: agora, todos sabemos que o Brasil é um país onde 80 e tantos por cento da população é contra a proibição da comercialização de armas de fogo. tudo bem, vivemos em um país que ainda acredita na posse e no uso de armas de fogo. não é tão absurdo olhando-se o mundo, e temos bons e maus exemplos disso - sendo os segundos amplamente mais numerosos, é claro. mas e como ficaria se, como está sendo apontada como uma possibilidade, o que fosse referendado fosse temas como "proibição do aborto" ou "casamento gay"?

está claro para mim que o tal do referendo é uma das armas mais poderosas para a reacionarização da população. com sua redução imbecil de toda uma importante discussão aquele apertar de botões, não se permite nenhum avanço ideológico, e qualquer idéia de revolução cultural advinda dele toma o corpo de um golpe de estado militar e moralista. que mudanças que são possíveis daí? nenhuma, senão, e muito fortemente, a cristalização de opiniões e de jeitos, o encarceramento de viveres...

é o velho entendimento idiota de democracia como sendo uma ditadura da maioria... a imposição aos poucos do que acham os muitos. mas os poucos também são vários... há que haver uma minoração da política, a possibilidade de construirmos culturalmente uma visão da democracia que tome sua força nas minorias, que possibilite as minorias, e várias delas; uma sociedade que seja de todos, e não de um todo, e não totalizante. seria de se esperar, como dizem por aí, que o Brasil, com sua miscelânea étnico-cultural, já tivesse isso incrustado em sua forma de ser, mas talvez seja justamente por essa miscelânea, ou ao que ela poderia dar força se suas potências deixassem de habitar apenas um inconsciente impossibilitado de ser expresso (e não apenas para tomar uma forma consciente, conscientizado, mas também para permitir que o que segue oculto possa vir a tona, sempre venha a tona e seja sim parte da criação do mundo), talvez seja justamente porque habitamos uma mesa com muitos pratos de culinárias tão diversas que os poderes instituídos sempre tendem a tapar essa diversidade com um discurso de "pão para todos"; porque os poderes instituídos, ao contrário do povo cheio de indivíduos famintos de novas experiências, tem um estômago fresco e indigesto.

17 de novembro de 2005

em tempos de levante...


"Los enganados y los desesperanzados tienem que organizarse. Tienem que organizar su desesperanza como nosotros organizamos la nuestra. Nosotros nacimos desesperados de una opción política, otros de una condición de vida, otros de un trato social, otros del trato a una condición feminina, otros de un trato a la historia que va detrás tuyo. Lo que hicimos fue juntar un montón de desesperanza, organizarlas, y el resultado fue una esperanza. Así nace el EZLN.

Para organizar su desesperanza cualquier otro puede hacerlo, no es algo extraordinario ni se necesitan grandes cosas, ni armamento sofisticado ni todas esas pendejadas que dijo la Procuradoría General de la República. Se necesita corazón, conciencia, claridad en lo que quieres. Como dice el poema de Paul Eluard: 'Para ser feliz simplesmente hace falta ver claro y luchar. Entonces si se puede tomar el cielo por asalto.'"

(Subcomandante Marcos, Yo, Marcos)

2 de outubro de 2005

army of me

daniel diz:
se tão deixando NA MINHA MÃO decidir quem vai andar armado, então é melhor desarmar todo mundo
daniel diz:
pq senão.. tou vendo que vai dar merda
daniel diz:
isso é politica pública, sabe? nao é questão de bom senso.

em um país SÉRIO (tipo Noruega, França e Dinamarca) o desarmamento foi inserido num modelo de gestão cuja retirada das armas foi UMA PARTE menor do programa. o que me faz pensar é que se não ha programa pra tirar as armas das mãos do povo, também nao há pra manutenção das armas..
daniel diz:
e na comparação dos dois, acho menos nocivo tirar.

faz sentido?

18 de setembro de 2005

falando nisso

, recomendo: A era da incerteza, de John Kenneth Galbraith. 9ª edção, editora pioneira NOVOS UMBRAIS. sei que saiu também pela thomsom pioneira, mas nao conheço essa edição (aliás, posso estar falando é bobagem).

Resumo da livraria cultura: As idéias dos economistas e filósofos sociais dão origem às nações e aos acontecimentos, mesmo quando não sabemos de onde provêm. Sua influência foi decisiva nas transformações sofridas pelo mundo nos últimos 200 anos. Galbraith pesquisa essas idéias - de Smith e Spencer -, passando por Marx, até Keynes e os conceitos que deram origem à Guerra Fria, aos conglomerados empresariais, às lutas no Terceiro Mundo e à natureza do poder democrático.

17 de setembro de 2005

Bloomsbury Group

21:36 pm de sábado e eu me pego estudando the bloomsbury group. um grupo de amigos que se conheceu por volta de 1900 e, por compatibilidade de gênios, acabou se tornando uma das maiores influências culturais inglesas do século XX. t.s. elliot enviava suas publicações em primeira mão para o grupo, afim de fazer tipo um beta test. publicaram algumas coisas, riram muito, acabaram com produções artísticas devido críticas ferinas e até fizeram uma ponta no filme "as horas" que reconta parte da vida da virgnia woolf em mescla com suas personagens.

mas, pera aí, um dos integrantes dessa galera cool é john maynard keynes? sim, virginia woolf não é de se surpreender, mas o keynes? o cara que ditou as regras economicas que vingam até hoje? um ECONOMISTA? pois sim, e genial.

keynes é um dos principais expoentes da economia mundial, lançou a the economic consequences of the peace, texto polêmico e bem interessante mas, sem duvida, seu trabalho de maior impacto foi a teoria geral do emprego juros e capital (por algum motivo, keynes suprimiu s virgulas no título de seu trabalho.. não sou eu quem vai po-las), que basicamente quebra a idéia de que a tendência de qualquer sistema capitalista é encontrar o equilíbrio no pleno emprego.

além disso, frisou a idéia de que os governos só mantém o sistema capitalista saudável e em constante evolução contraindo empréstimos e reinvestindo o suficiente para pagá-los, com juros estipulados por instituições de alçada mundial.

keynes se casou com uma bailarina russa (cara de sorte) e se tornou lorde em 1942. era um fiadaputa, tendo se envolvido com praticamente todas as mulheres (e, dizem, alguns homens) do bloomsbury group.

bela figura. gente boa. esse aí se deu bem.

14 de setembro de 2005

Da fome de viver

"O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou qualquer ser humano de ter fome e da preocupação de viver melhor, mas extrair, daquilo que se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da fome.

Acima de tudo precisamos viver e acreditar no que nos faz viver e em que alguma coisa nos faz viver - e aquilo que sai do interior misterioso de nós mesmos não deve perpertuamente voltar sobre nós mesmos numa preocupação grosseiramente digestiva.


Quero dizer que se todos nos importamos com comer imediatamente, importa-nos ainda mais não desperdiçar apenas na preocupação de comer imediatamente nossa simples força de ter fome."

(Antonin Artaud, "O Teatro e seu Duplo", prefácio: O teatro e a cultura)

13 de setembro de 2005

Salve a hipocrisia!

dos senhores doutores de família escaparam todos os silêncios. suas vidas e casas são repletas de tampões disfarçados de TV, música a escolher e papo furado. seus comportamentos fazem orgulhosos os ruídos dos bons modos.

o único silêncio que permanece, heróico, é o do amor. contra esse, só restou aos senhores doutores de família criar a hipocrisia. e ela é, de fato, sua única encenação verdadeira.

29 de julho de 2005

bom de tão ruim

as versões das versões tem seu toque interessante. e a pirataria, sua contribuição pras interpretações de arte.

uma amiga minha, passando pela 25 de Março em São Paulo, comprou um dvd pirata da versão do Tim Burton da Fantástica Fábrica de Chocolates uma semana depois dele ter sido lançado nacionalmente nos cinemas. veio legendado.

a cópia provavelmente foi feita filmando-se a tela do cinema com um tripé. num estilo que lembra as técnicas de cópias televisivas inspiradas no zapping, as cores perderam muito com a reprodução. ficou com as mesmas tonalidades do primeiro filme.

24 de julho de 2005

Condição humana

Brilhantes presos

dizem por aí que somos seres luminosos, mas só estamos servindo pra ficarmos pendurados em correntes, desligados de qualquer fluxo maior que essa ostentação babaca. pedras luminosas no pescoço de uma dondoca sociedade que nos tira do chão e da possibilidade de virar areia, carvão, fogo, ou qualquer giro aeônico por uma eternidade que seja nossa. eu quero uma vida expandida, um brilho pra além da inútil preciosidade monetária...

23 de julho de 2005

Só a morte liberta

A sombra de um trono
veste o vazio da ordem
A arma de fogo
só tem poder sobre quem aponta
antes do tiro
A morte do demasiado humano
traz a liberdade
e a clareza
da demanda de explicações
que a sociedade carrega

Só a morte liberta
e nessa feira
bem a nossa esquerda
ela é sempre nossa companheira

Se não a ouvimos
é sorte
que também o cogumelo
e outras coisas
nos matam

4 de julho de 2005

um amigo me contou...

sobre a versão histórica pra expressão católica "oferecer a outra face". como tantas coisas da Bíblia quanto aos dizeres de Cristo, há um largo espaço para interpretações diversas daquelas da Igreja. ou, como já disse um certo filósofo de sampa, a igreja cristã se funda na máquina imunda de São Paulo, nosso cristianismo vem daí. o cristianismo de Cristo tá mais pro budismo...

enfim... o discurso do padre nos diz que devemos oferecer a outra face quando levamos um tapa, numa demonstração de humildade que ao mesmo tempo nos leva a uma superioridade, como quem diz que não é afetado pela violência, não a pega para si, e também que vive para um outro mundo, o mundo puro do Paraíso, sob a sombra do qual está o nosso mundo, que, se vivido em penitência, levará aos Céus. ou alguma balela desse tipo.

mas, na época de Cristo, era costume os romanos darem um tapa com as costas das mãos. como para os árabes, que faziam tudo com uma mão para reservarem à outra a ação de comer, existia essa noção de higiene, que não era separada de uma noção sagrada. dar um tapa em um escravo exigia isso portanto, que os romanos o fizessem com as costas de suas mãos, para que não se sujassem.

oferecer a outra face é obrigar quem o repreende, o mantém preso e usado como um objeto - com a inconveniência de ter vida própria - a lhe reconhecer como pessoa. é obrigar o romano a sujar sua palma. quer me bater, desgraçado, então vai ter que sujar essas mãos de sabonete importado aí... é brilhante! uma sutil subversão que opera dentro do próprio esquema do opressor... e o reorganiza simbólicamente sem que esse nem necessariamente se dê por conta... é um ato teatral, por funcionar justamente no arranjo cênico do dia-a-dia. uma bela lição para a mal-criação contemporânea...

13 de junho de 2005

Corpos-passagens 2

Cachorros com sentimentos humanos, gatos que só faltam falar, automóveis que "já sabem o caminho do seu dono", espaços adaptados às necessidades de mulheres e homens... toda uma lista de serese objetos humanizados demonstra o quanto a psicologia ganhou espaço fora do reino humano. No cinema, os extraterrestres não escaparam dessa ambição imperialista, e os diversos monstros costumam ser bem recebidos, na medida em que compreendem e aceitam os sinais e os sentimentos humanos. Na publicidade os alimentos ganham rostos, um simples dentifrício se transforma num ser animado que fala e dá conselhos.

Curiosamente, após humanizar a Terra, o Céu e o Inferno, a Ciência e a Técnica, os Objetos e as Máquinas, estes, por sua vez, retornam aos homens e a eles se oferecem, com gestos sedutoramente humanos, nas vitrines e na publicidade. As coisas então comandam os humanos, tal como o universo de roupas, sapatos, tapetes, móveis e outros objetos comandam Jérome e Sylvie, personagens criados por Perec em Les Choses. As coisas nos convidam e incitam o desejo humano com a mesma maestria que um belo corpo incita o desejo de outro. É que, uma vez humanizadas, as coisas sabem dar o troco sem nenhum pudor. Tal como nós, elas sabem seduzir, prometer e ameaçar. A estas alturas da sociedade do consumo, seria o caso de perguntar: "O que pode uma lata de palmito, uma calça Levis ou um Big mac?". As coisas dispostas nas vitrines das lojas podem incluisve nos ver e nos perseguir com seus olhos. Porque, quando as vemos e não as adquirimos, o que elas prontamente sinalizam à nossa visão é o quanto elas vão doravante nos faltar.


(...)

Não há mais tempo para ter somente os humanos como aliados. Nem espaço para descartar tantos objetos transformados em lixo. Estes luxos agonizam. Também não é possível (e esperamos que não seja desejável) simplesmente inverter os termos de uma antiga relação de dominação e colocar não humanos no lugar dos humanos. Mas, paradoxalmente, ainda é tempo de combater a indiferença.

(...)

Haveria muitas coisas a aprender com antigos guerreiros e, também, com os combatentes do cotidiano ordinário de nossos dias. Difícil encontrá-los, dizem uns, não vivem por aqui, dizem outros. Talvez vivam por aqui sim, e bem próximos de nós; pois, se um bom estrategista prima pela discrição, os melhores são aqueles que não deixam traços.


daria pra postar o capítulo inteiro. o capítulo inteiro.

8 de junho de 2005

Corpos-passagens

Quando aumenta a sede de encontrar companheiros é preciso insistir: há uma grande diferença entre um corpo que ressoa unicamente para ele mesmo e um corpo que serve como passagem de forças, sem a preocupação de convergi-las unicamente para si. Há, em suma, uma imensa distância entre corpos que somente passam por todos os lugares e aqueles que, realizando ou não tais viagens, se tornam eles mesmos passagens.

Em geral, a metamorfose de um corpo-passageiro em corpo passagem não tem nada de espetacular nem de fora da realidade. Mesmo quando a sua formação ocorre a partir de práticas religiosas, o importante, de fato, é que esta metamorfose exige, para além de toda crença em forças divinas, um contato ordinário, constante e muito direto com as dimensões duras e cruas da realidade. Ela faz portanto parte da vida, está ao alcance de todo ser humano, pois caracteriza a humanidade e singulariza sua existência.

No entanto, desde os primórdios da humanidade sabe-se o quanto é difícil fazer parte da vida tal como ela se apresenta em cada circunstância. Talvez porque viver seja o que há de mais natural e mais difícil. A histórica divisão entre corpo e alma expressa, em grande medida, esta dificuldade, principalmente a partir da época moderna, quando o corpo passou a ser visto muito mais como aquilo que se
tem do que aquilo que se é. Pelo menos nas sociedades ocidentais, esta separação desdobra-se em muitas outras, sempre afirmando que o pensamento é algo infinito e inteligente, enquanto o corpo é finito e ignorante.

("Corpos de Passagem, ensaios sobre a subjetividade contemporânea", Denise Bernuzzi de Sant´Anna)

somos é muito preguiçosos. sabemos muito se sentirmos profundamente e formos sinceros, mas nos perdemos no drama, nos protegemos no drama, estamos presos na inércia. é burrice...

e por "dimensões duras e cruas da realidade", dá pra dizer, com muita segurança, que existem muitos mundos sobrepostos naquele que vemos, e muitos deles dizem muito mais das coisas como elas são. imediadas. vá ler Castaneda...

1 de junho de 2005

Bruta Cultura

Treme o Sol num
horizonte de meio-dia
Queima nossas cabeças
sem dó
E o chapéu
que usamos para
nos proteger
prende as idéias

18 de maio de 2005

Bate o Ponto

bocejo
o encejo de eu mesmo
sossega
finda dia em
infinita virtude
do cansaço
o exausto não peca
não rouba
não sofre

13 de maio de 2005

5 de maio de 2005

A Perua e a Revolução

esses dias eu escutei uma história sobre o pessoal de uma rádio livre lá no Uruguai. fazia parte dos comunicadores uma perua bem estilo dondoca, vestindo roupas de grife e devidamente emperiquitada, que falava sobre os cuidados das mulheres e vendia uns produtos de beleza que ela mesma fazia. as pessoas costumavam ficar de cara torta pra ela, mas era uma mulher participando, falando "coisas de mulheres", e isso estava sendo raro e precisava ser respeitado. então respeitavam assim, de cara torta.

até que a FAU organizou uma passeata - como me dizem que é bastante comum por lá, passeatas. como parte dela, haveria um atentado a algum político, secretário, ministro, embaixador. estavam eles bem armados com tortas, a clássica. e a polícia, muito bem montada, fechou completamente a passagem dos militantes pela rua, parando a passeata a uma distância segura do alvo.

a perua estava lá, muito bem vestida, seda, colares e pérolas. bijuterias ou não. e a polícia não fez resistência nenhuma. "acharam que devia ser mulher de alguém", me disse o fulano. e a perua foi lá e acertou a torta em cheio.

por la memoria

essa é uma passeata em Montevideo. aconteceu em Julho / Agosto de 2004 - não sei precisar o dia. essa manifestação em particular acontece todos os anos. é o dia em que ocorreu a primeira morte de um estudante durante a ditadura uruguaia. e todo ano eles vão lá e caminham pela principal avenida da cidade, protestando contra os problemas atuais e lembrando do que já foi. lembrando... é uma palavra que me parece mais rara aqui no Brasil. "os uruguaios", ouvi, "não querem esquecer". lembrar para fazer diferente. a lembrança como uma forma de resistência, e de transformação. é uma lição importante...

30 de abril de 2005

Alento

"Quando mais nada houver,
eu me erguerei cantando,
saudando a vida
com meu corpo de cavalo jovem.

E numa louca corrida
entregarei meu ser ao ser do Tempo
e a minha voz a doce voz do vento.

Despojado do que já não há
solto no vazio do que ainda não veio,
minha boca cantará
cantos de alívio pelo que se foi,
cantos de espera pelo que há de vir."

Caio Fernando Abreu

25 de abril de 2005

A festa

Imaginem...
Amanhã aqui no Rio será a festa para comemorar os 40 anos da Globo...todo o elenco, covidados ilustres, políticos certamente, etecetera e tal...uma amiga ganhou um convite e vai à festa...hum...que vontade de ir também...
entraria no banheiro, abriria um precioso saquinho com alguma quantidade de Urtiga (erva conhecida como possuidora de um efeito insuportável quando em contato com a pele; coceira pra todo lado!) e discretamente passaria no papel higiênico dos globais...
Ah! e o melhor detalhe: A festa será ao vivo!!
Imaginem a Fátima Bernardes e o Willian Boner...o Jornal Nacional nunca mais seria o mesmo.

20 de abril de 2005

História?

A cor do mundo dissolve
no viés do passado
O bruto, amedrontado
sempre manda
repintar o painel

18 de abril de 2005

Vida viva para as crianças do futuro

"O educador do futuro fará sistematicamente (e não mecanicamente) o que todo educador bom e autêntico já faz hoje: sentirá as qualidades da Vida viva em cada criança, reconhecerá sua qualidades específicas e fará tudo para que elas possam desenvolver-se plenamente. Enquanto se conservar, com a mesma tenacidade, a tendência social atual, isto é, enquanto estiver dirigida contra essas qualidades inatas de expressão emocional viva, o educador autêntico deverá assumir uma dupla terefa: a de conhecer as expressões emocionais naturais que variam de uma criança para outra, e a de aprender a lidar com o meio social, restrito e amplo na medida em que este se opõe a essas qualidades vivas."

wilhelm reich

12 de abril de 2005

guerras realmente estúpidas

Em 1969, Honduras e Salvador entraram em guerra, causando a morte de 1900 civís, sendo encerada com um cessar fogo demandado pela Organização dos Estados Americanos. A guerra foi motivada por causas econômicas e territoriais, mas seu deflagador foi uma partida de futebol entre os dois países. Esta passagem na história, por motivos óbvios, ficou conhecida como A Guerra do Futebol.

9 de abril de 2005

auto-ajuda

"A chamada literatura de auto-ajuda, que na última metade do século 20 transformou-se em impressionante fenômeno editorial e econômico, não é simplesmente uma forma de iludir pessoas ingênuas e crédulas, e, assim, ganhar dinheiro vendendo livros. Ao contrário do que pensam seus detratores, a literatura de auto-ajuda é muito mais do que isso, deitando suas raízes no próprio núcleo da tradição cultural e filosófica do Ocidente e, por suposto, na crise desta e de seus valores e instituições."

É com essa mensagem de orelha que eu convido todos a lerem o livro "Literatura de Auto-Ajuda e Individualismo", do Francisco Rudiger. Muito bom, nota 10.

Oasis


Não há cidade livre de pequenos mistérios, de cantos aonde os anjos vão pra abanar suas asas e fofocar sobre os humanos. São lugares quase sempre junto aos centros, às convulsões urbanas, à correria, mas que se caracterizam por calma, ar puro e beleza ímpar. Oasis. Uma beleza quase sempre ainda não tocada pela mácula da conservação. São pequenos universos nos circundando, lugares descobertos por quem nada quer encontrar.

1 de abril de 2005

Dia dos Bobos

o papa morreu dia 2 de Abril porque a palavra da Igreja ao anunciar sua morte não podia ser desacreditada.

- Por Deus, ele podia ter morrido um dia antes!

29 de março de 2005

ONG ou ( Onde Nunca Governaremos )

Sociedade organizada, solidariedade produzida, responsabilidade social... e sem fins lucrativos! eis então o cidadão tranquilo. Uma vez organizados, formamos ONGs. E buscamos frenéticamente a tal cidadania... precisamos resgata-lá, exercê-la, oferecer pra quem não tem...sendo assim, eis aqui...veja que beleza, em diversas cores, a cidadania está na mesa. E realizamos a solidariedade por decreto, aquela que te faz ligar para o "Criança Esperança", distanciando-nos cada vez mais de uma solidariedade por convivência. ONG, outro engodo da sociedade civil. Tomar pra si aquilo que é de responsabilidade governamental é um tanto louvável sim, tendo em vista os benefícios trazidos por tal iniciativa: a sociedade fica tranquila exercendo seu "papel social" e por conseguinte sente as delícias da consciência solidária, o governo quer mais é que as empresas dêem apoio às ONGs (R$$$$) e para isso diminui os impostos daquelas "responsáveis socialmente" (iso#####), os jovens saem das universidades e montam seu pròprio negócio (ONG)e já existe até "empresa" que ensina como "captar recursos" para montar a sua "própria ONG"!! Ok, então quer dizer que Organização Não Governamental existe enquanto houver questôes sociais não resolvidas ou pelo menos mal resolvidas pelos governos, Estados, Prefeituras, etc e tal...sendo assim o objetivo maior das ONGs é deixar de existir? Será mesmo "sem fins lucrativos"? de que lucro estamos falando? A ONG quer potencializar os indivíduos ou precisa deles enquanto "assistidos" para que exista uma razão de ser para ela mesma?

2 de março de 2005

e já dizia...

Raoul Vaneigem:

Para mim, a única igualdade que reconheço é aquela que a minha vontade de viver conforme os meus desejos reconhece na vontade de viver dos outros. A igualdade revolucionária será indissoluvelmente individual e coletiva.

1 de março de 2005

espaço privada

usar a loja de uma quadra inteira apenas como passagem para a próxima rua. ir ao shopping somente pelo banheiro (e os vasos sanitários mais limpinhos que se pode imaginar, fora o constrangimento do segurança, da câmara de vigilância, das luzes e das ofertas). ler livros inteiros dentro das grandes livrarias sem levá-los consigo para casa (pelo menos passando pelo caixa).

sempre me deu uma sensação engraçada essa dos espaços público-privados. a que se restringe o acesso? todos os vetores energéticos, toda a exposição, vai na direção do consumo. é o que lhes interessa. e alguém com experiência me diz que de cada vendedor é medido o volume de compras (tanto em quantidade de ítens como em valores) para cada cliente. quem vende mais ganha prêmios.

não é novidade alguma dizer que a declaração desses espaços como "espaços públicos" é um engôdo. (os caras do critical art ensemble falam das casamatas.) portanto, nos interessa o saudável exercício de esfregar nosso alegado direito em suas caras (sem ser capturado no processo). abusar de tudo que for uma facilidade para o consumidor sem se tornar um.

em toda cidade que eu chego para passar um tempo, entro no processo (como um bom nômade urbano) de mapear os melhores banheiros das regiões por onde fico com minha casa nas costas (vale dizer, mochila). sempre achei interessante a prática de sentar em uma mesa de shopping com alguns amigos, puxar um baralho de cartas e fazer um lanche só com coisas trazidas de casa.

as possibilidades são infinitas. tenho a imagem de que entrar em um espaço público-privado é como mergulhar em uma célula de líquido amniótico. o desafio é fazer isso sem se molhar. ainda há aqueles que o fazem e levam consigo algum troféu, como quem enfia a mão na célula e de lá retira uma parte para deixar secar. os pequenos roubos são uma forma deliciosa de publicizar o privado que tenta te engolir (no final das contas, toda a intenção desses espaços é a fagocitose, é coisificar seus visitantes, fazê-los jogar o jogo do consumo, tentá-los, privatizá-los). só que aí, o risco não é só subjetivo...

tome cuidado. lembre-se de Hakim Bey (aliás, vocês já viram Edukators?), não seja pego. e, especialmente e como sempre... divirta-se! quem foi mesmo que disse que "em meu país, sorrir é um ato revolucionário?"? pois então, meus queridos... gargalhem! (e molhem alguém com seus perdigotos...)

26 de fevereiro de 2005

VERSÃO UM

Boresteano sacana
Escárnio, sossego.
Ao levantar da sobrancelha vejo
Indagação que reclama
Desliza certeza!
Afoga, sujeito!
Depois so rra tei ra men te...
Mente!

Mente vadia e sem compromisso
Amarra frouxa perdida no fio
Da meada irônica
Linha do destino

De versão em versão
Eis universo Inversão.
E o inverso dele
Não inventa nada
Apenas vira vírgula
Inverte rima
Invisível o verso,
Já perdeu a firma

Mas se duvido do que afirmas
Prontamente cartografa
Possibilidade de outras ilhas
Na deriva dessa dúvida
Investida de outras idas...

19 de fevereiro de 2005

subversão de verão (ou faça bom uso da classe média)

Um pequeno golpe de utilização do sistema. Será necessário um carro com seguro, e uma peça desse carro que esteja estragada. Sugiro o distribuidor das velas, que, se muito oxigenados (como pelo efeito da maresia), não permitem que a corrente elétrica passe - o carro não se mantém ligado.

Parta para uma viagem e divirta-se. Na hora de voltar, troque a peça boa pela estragada e então acione o seguro. O guincho vem e aí, ao invés de ir até uma oficina resolver o problema, peça que o leve para sua casa. Na sua cidade. É assim, o seguro tem que levá-lo para casa, e eles oferecem um taxi para tanto. Se o taxi não for acionado, o guincho pode levá-lo - e aí a distância possível é muito maior.

Tudo no golpe há de ser verificado. Consulte a seguradora quanto aos detalhes, e veja bem se a peça trocada não funciona mesmo, ou se a fraude não fica muito evidente. A utilização da técnica fica intreiramente a seu cargo, sua excelência depende do seu jogo de cintura. Seja autônomo e criativo. Lembre-se também que o guincho pode levar duas pessoas na cabine, e que legalmente não se pode transportar passageiros dentro do veículo rebocado - mas sei por fato que alguns guincheiros fazem isso, o que permite que você esteja acompanhado de gente suficiente para valer a pena viajar de carro (duas pessoas pagando gasolina e pedágios em um carro moderadamente econômico sai o mesmo custo das passagens de ônibus - tudo anda muito caro, não é?).

A viagem de guincho é demorada, então leve isso em conta. Colchonetes nos vãos dos bancos deitados do carro fazem uma grande cama, e o fato de que esse espaço está para trás do motorista possibilidade o uso de toda gama de entorpecentes e carteados, que tornam sua viagem mais interessante. Sempre pensei assim, se o caminho é longo, o tempo é elástico e podemos alterá-lo. Novamente, divirta-se. Essa é toda a intenção.