8 de maio de 2011

Por um nomadismo contemplativo

Tudo anda tão rápido. A aparência é de uma vida que vem de fora, de estruturas e organizações que pressionam e puxam simultâneamente. As respostas são multitudes de falas, a prodção incessante de discursos, que tentam dar conta da vida apreendida pelo fazer do ter de fazer.

É preciso tomar o tempo em uma produção de diminuição de velocidade. É preciso tomar as falas pela necesidade de respiros, de tomar os discursos pelo estado de silêncio. Largar mão dos absolutos e só apreender a vida através de dinâmicas de incerteza.

Assim, escrever como quem cruza fronteiras, tantas e tantas vezes, até que se retome os ambientes como espaços intraçáveis. E entõ que a própria visão visão de fronteira desapareça... e ela se torne, no máximo, um litoral.

5 de maio de 2011

De suor e casacos

Camadas de casacos e corpo suado. Rosto vermelho, amassado; testa marcada de toca e presilha de capacete. Leve cheiro de graxa nas mãos, que ficou do guidão da última vez que a correia caiu.

Resgato um devir-motoqueiro desse enfrentamento entre meu corpo quente e o ar frio pelo qual passo. Resgato essa impetuosidade, esse colocar-se pelo se colocar a parte. E resgato meu próprio corpo, usina de calor a cada pedalada.

Ao mesmo tempo, me inspiro no devir-motoqueiro para instaurar um lugar diferenciado daquele colocado a quem anda de bicicleta. Fujo da fragilidade, da meninice colocada como futilidade para a meninice como leveza e prazer. Da idéia de vagabundagem para o convite à ação.

Pedalo no frio de Porto Alegre suando feliz por debaixo dos casacos. Golpeio as idéias, destruo as clausuras, rio do inapropriado - meu corpo suaria igualmente bem de gravata. Luto sem disparar uma única arma: canto ao passar pelos carros enlatados. Brado a liberdade à liberdade.

Sorrio enquanto tantos, seguindo o correto, se engavetam.

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