31 de julho de 2006

Entre dedos

dá pra medir imensuravelmente o rebolado da guria militar ao se dirigir para a porta do quartel.

dá pra medir também assim o carinho do guri que abre a porta e bate continência.

até mesmo o afeto respeitoso do oficial mais velho ao caminhar do lado do guri com a mão enfaixada.

sentimentos a preencherem os jeitos, os gestos, os formalismos cheios de dedos...

27 de julho de 2006

Sonhorama

um meteoro vai em direção a Terra. poucas pessoas o enxergam. o meteoro é uma estrela incandescente que vai aterrizar como se tivesse asas.

me impressiona que sonhemos. me impressiona que não haja espaço/tempo, que os mundos se intercruzem, que consigamos nos comunicar. que sonho que se sonho só seja sonho que se sonhe só e sonho que se sonhe juntos seja de relaxar o cenho.

hoje sonhei com uma aranha gigante, assustada, de pernas muito finas e mandíbulas desesperadoras, que atacava transeuntes numa noite na João Pessoa. eu estava em Porto Alegre pra algum congresso, junto com outros perdidos, e parava em uma espécie de albergue fuleiro - eu odiava. quando fui fugir da aranha - que não vinha atrás de mim, mas que era muito rápida -, subi um barranquinho e me senti fraco como só alguns sonhos sabem tratar da realidade, me senti uma criança subindo, com sua ânsia muito maior do que as pernas.

o mundo está cheio de magos. são nossos olhos as melhores bolas de cristal.

beijo!

25 de julho de 2006

Citações

"(...)

Adoro esse chafariz. Ele costuma ser lago de dragões quando está de folga ou férias o seu jato. Outro dia um menino do norte soltou botos rosados nessa água e foi uma correria. Eu acho que esses passantes ficaram com medo. Teve uma senhora turca que indignou-se e ligou para a defesa civil. Aos bombeiros, os botos insistiam em dizer que eram de água doce e não haveria problema em ficar ali. Mesmo assim foram recolhidos ao depósito municipal. Ninguém mais os viu. Uma pena.

Estou estressado esses dias e balanço minha cabeça como a um pêndulo. Como ergui meu castelo nessa praça, tenho total privacidade. Conto com criados, enfim, que fornecem dinheiro para comida; são muito discretos e quase não os vejo mais depois de despachá-los. Lidar com a criadagem não é fácil, todos sabem, por isso ando exausto.

(...)"

(Diogo Henriques - Os Botos da Candelária)


QUERENÇA

Voar, amigo pássaro,
não só é ser nuvem.
Abrigar, querido pai,
é não só doar sangue

Ou

Apenas ao quadrado

(Diogo Henriques - dihenrique@yahoo.com.br)


Aviões
e tanques de dor
esfarelam
os olhos
do Líbano

Eu resando
nos arames
do Brasil, inerte,
meio bôbo, sem entender,
ouvindo
os rádios TVs

jornais
contarem
os mortos



8

O pinheiro
e o carvalho

continuarão,
e o pássaro
da eterna ventania
inventará
seu ninho de prata
entre o fios
dos cabelos
das crianças


9


Essas
são palavras
de um nômade
que vê e revê
suas retinas
em todas
as retinas


(Edu Planchez - Olhos do Líbano - eduplanchez@yahoo.com.br - www.blakerimbaud.com.br)

24 de julho de 2006

Nada Mais (entre duas pessoas)

volto pra casa pensando ressonâncias - minhas falas andam repetidas. Cari escreveu sobre sua vontade/objetivo de rasgar a tela do computador. e eu fiz uma ode ao rasgo que já se faz, afeto que aqui está, e tudo isso que vocês sabem se me leram janela.

Dani falou que a gente estava conversando de algum jeito. olhares e outras coisas, palavras não. não dava, tava estranho pra palavras.

parar com isso, sabem? é o que me dá vontade. vez que outra e de novo em vez. deixar as palavras pra lá, ficar com os olhares e vibrações, comunicação com os corações, tele-empatia, nada mais que isso, como eu queria...

hoje a moça do filme disse entre duas pessoas, não há nada mais do que luz.

22 de julho de 2006

Época de Eleições

Cês lembram da banda The Presidentes of The U.S.A.? Olhem só:

Moving to the Country,
gonna eat a lot of speeches...

Million of speeches,
speeches for me...

Sem mais...

Duração

Tem tanto
nesse pouco!
É num amplo
sem quando
que ando

fasado II

participo
piedosamente explico
um ruido
ganido em palavra
sombra de grito
procura de chão
afirmação

olho pro tempo e suspiro
pergunto
onde oculto
um intenso
de indescrito
um dizer
de meio
de entre
de afeto

rancor de lugar
quando se sabe caminhar
é besteira
quê de patético

o gosto
é estético
mas vai além
sei dum fluir
assim
ressonância
que me deixa
em falta
em alma

suspiro
penso
rancor de lugar
o bom é saber-se
em devir
deixar pra lá
os deveria

que o passo
retumbe
pra além
da sola
do pó

Que Tanto Diz (Fasado)

não basta que o diga
me pego explicando
poesia descrita
pra te dizer
ao me ler
basta

parece que perdi de mim um quê de indizível
não
parece sim que peço socorro
saio afirmando
bem alto
neurótico
preciso de chão

não basta
era lindo aquele dizer outro
que não tinha palavra pra fechar
que dizia voando
que gritava gemendo
no suor
que fazia
esfriar mente
melancolia
que ex-plodia
poesia
de descorporificação

não basta
assim não quero
não me dê
poesia que tanto diz
muito tempo
mais

21 de julho de 2006

afeto.com.tu

encontro
em cor em imagem
em palavra paisagem
personalidade
a paragem que vira esse computador
ao fazer da tela
janela
dela
poesia

sou suspeito
não é pouco que faço
de um jeito ou de outro
por aqui passar
afeto de fato
e tanto a me afetar
que por vezes quase explodo
e vivo num alívio

o é
de tanto que salva
quando a saudade
dita ou inexplicada
de gente, de coisa, de nada
me invade

mesmo assim me pego
amplamente surpreso
vejo
ali
de um outro jeito
me toma
e me
tem
nem sei se só por esse momento
nem sei se por alento
ou o quê
mas ali
palavra
imagem
cor
tudo feito
barcos
de sabor
a me inundar

transbordo
e tem nome
tem olhos
tem rosto

o gosto
é de café
ou qualquer coisa que
eu ponha na boca
daqui
o cheiro
é meu também
mas o calor
no corpo
não tem lugar
nem tempo

é nosso

19 de julho de 2006

Máscaras

Ontem meu irmão e a namorada chegaram no Rio. Batemos um papo inédito e eu pude perceber claramente quando passei da afetação genuina que ia e vinha prum segundo momento perdido em explicações.

Saimos pra jantar e de repente eu olho pro rosto dele. Olho pro rosto dele de verdade. De repente tô observando sua pele, o formato do seu rosto, de repente eu tô olhando o homem que ele já e o homem que ele vai ser e tudo de garoto que ele ainda tem e um pouco do que ele já foi também. De repente eu tô olhando pro meu irmão de verdade, tô olhando pra ele e não pra idéia alguma que faço dele, tô olhando pra pessoa na minha frente que por acaso ou não é meu irmão, e não pra nada mais além disso.

Sai caminhando uns metros incontáveis do chão.

Dharma

1 - Medite todo dia.

2 - Comece a observar seus automatismos. Faça disso uma tarefa jovial. A jovialidade é uma técnica importante para se proteger contra as defesas dos automatismos, contra a insegurança, angústia e ansiedade.

3 - Comece com calma a limpar seus automatismos.

4 - Comece a se afastar energéticamente dos seus automatismos. Não se permita entregar toda sua energia a eles. Perceba, e perceba que percebe - uma atenção expandida em "duas percepções". Quando a angústia for muito grande, medite.

5 - Comece a perceber seu teatro mental, o teatro das representações alimentado pelo diálogo interno. Desassocie Razão de Consciência; utilize a Razão como ferramenta, mas não se entregue a ela ou incorra no erro de funcionar como se fosse ela a definir o mundo, pois a Razão muito prende, e é um artefato do teatro mental, é potencializadora do diálogo interno. Expanda sua Consciência (nada mais do que aquilo de que você é consciente) para além da Razão - comece a lidar conscientemente com sensações e indescrições. Pode, se quiser, definir maneiras de explicar certas coisas que ajudem a acalmar sua Razão para essa tarefa pra além dela: acreditar em Destino, ou no Acaso, por exemplo.

6 - Limpe seu teatro mental. Descole o teatro mental da vida, perceba que vida não é igual ao teatro das representações feito por você. Perceba que o mundo é apreendido por você pelo seu diálogo interno, mas que há muito o que escapa a isso. Perceba o vivo nisso, que tem o poder de constranger seus automatismos, que faz com que você se defenda; mas que é possível abrir-se ao vivo e libertar-se um pouco mais de si mesmo. Um passo de cada vez, devagar; klinamen: o mínimo desvio.

7 - Em todo o Caminho, dê uma medida desapegada ao erro. Não tome o Caminho moralmente. Não se leve tão a sério. Não ceda toda sua energia em uma entrega, nem se entregue a nenhum controle. Não ceda toda sua energia ao erro, ria dele e se conserve. Procure a impecabilidade da sua energia, a precisão simples de cada ato, percepção, representação, deslocamento. Não se encha se pessoalidades, não tome as coisas para si - muito menos tomando para si enquanto aponta para os outros. Toda aprendizagem é extritamente íntima, pouco podemos fazer uns pelos outros a não ser apontar e deixar que o outro faça por si mesmo.

8 - Medite. É a única maneira que conheço de deixar que as coisas se encaixem dentro de si, que se vibre para além dos automatismos, acalmando a angústia de um Eu que podemos deixar passar, por não mais nos localizarmos inteiros dentro desse Eu - podemos tanto ser Muitos, usando de vários Eus, quanto ser com segurança um Eu só sem entregar-se totalmente a ele - um automatismo, um funcionamento, interpreta o mundo inteiro só por meio do próprio automarismo, e aí o mundo torna-se isso e perdemos tudo o mais que nos afeta.

18 de julho de 2006

Ai, ai...

Ineditamente na praia: biquini preto-e-branco listrado moderninho, pele suspeitamente branca, cabelo penteado preto, lenço preto no pescoço, violão. Quando a sombra vem, não se mexem.

Na voz da Mari Baldi, solta o pancadão:

ê, ê, ê, sou mais indie que você,
ê, ê, ê, sou o king dos blasé!

Nunca pensei que poderia sentir saudades dos mods...

Infinito

para Felipe Bücker


O olho perdido
encostado na mesa
vê longe
e vê nada
Brilha de lágrima
que lubrifica
quase não pisca
e as vezes quase se fecha
Tem um pensamento
indefinido
girando sereno
feito sentimento
indefinido
feito pessoa
indefinidamente
localizada

O Tempo (reedição)

o tempo
o vento assopra
nos cabelos
a desmanchar
nós, tranças

no resto do corpo
os outros pêlos
também querendo um pouco
se esticam
a tentar
saltar
da pele


"o melhor o tempo esconde longe, muito longe, mas bem dentro aqui..."
(Trilhos Urbanos, Caetano Veloso)

17 de julho de 2006

Sem jeito no corpo

Fico com saudades do meu silêncio e enrouqueço. Enlouqueço só um pouco. Perco o passo de precisar afirmar a pegada, que furada! Mas me dou conta do tropeço e o que de melhor há de se fazer, faço: rio.

12 de julho de 2006

Alianças

Se eu fosse amigo do chefe do PCC, teria que lhe dizer por que diabos matar agentes penitenciários, meu velho? que são justamente eles ali, dividindo situações e celas abertas ou fechadas. Ao invés disso, faça o seguinte: protege os agentes e a situação nas prisões estará assegurada. E se for retaliação ou amostragem de poder, ameaça um só político, e já era.

Cada vez mais me bate a sensação que do jeito que tá não faz sentido.

8 de julho de 2006

Amigo

pro Guto por mais do que honra, e genuinamente pra cada um de vocês que o calor me assombra - se tu te sentir aquecido por mim, lê isso sendo pra ti, sem medo e de verdade:

Não é, meu irmão,
de palavras que lembro não
que minha memória
é avessa às formas
retas
próximas
quadradas
O calor, afinal
faz curvas
nos rodeia sem provas
fica entre os laços
Como teu abraço que não esqueço não
É por aí
um abraço
escrever contigo
um traço de linha
palavra sozinha
ou acompanhada
Ou idéia marcada
em ata, ato, relógio
É isso, companheiro
que vem sereno na memória
e incendeia amizade
simpatia
coragem
esse amor que a gente tem
e do qual não abre mão não importa o quinhão que se pague
Sabe?
Sei que sabe...
És o mais lindo
por brilhar esse olhar
que a descrição não alcança
e a memória não apaga
É lindo
por vibrar esse carinho
que nos pega de mansinho
mesmo quando não estamos atentos
- e quando de repente andamos sem alento
é que o percebemos -
És lindo, amigo
porque é
e assim
sempre vai indo
a me levar
contigo

7 de julho de 2006

Quinta

- Oi.
- Grrrr... oi...
- Hahahahahahahaha!
- Que coisa, eu não consigo!...
- Bla, bla, bla...
- Bla, bla, bla...
- Que bom!
- É...
...
- Oi...
- Oi...
- Mmmmh...
- Ahn... heh...
- Viu?
- Vi...
- E aí?
- Seria um tempo...
- É. Seria um tempo...

5 de julho de 2006

Por um olho e um nariz

Se ensaia um tersol e uma espinha dentro da narina. Tudo no lado esquerdo do meu rosto. Será que eu ando percebendo mal alguma coisa?

Alguém tem alguma dica, interpretação esotérica?

Beijos!

Última

Dormi sobre
o violão de
um som pequeno
A última corda
vibrou dentro do peito
direto pro sono
Foi ela que me
levou ao banheiro
e depois
do pijama,
pra cama

Noite

Solava
um soneto belo
como quem
penteia a contrapêlo
atrás de apreciar
as minúcias
da pele

As máscaras de luz
me saudavam
e eu
sem som nem água
quieto soluçava

Um soluço interno
morno
feito um sorriso

4 de julho de 2006

Intensa Mansidão (Natureza)

Me falaram
dos extremos
e de como
nos levam
excitados

Concordo
e não deixo
nem um momento
de ser levado
pleno
pela efervescência
grandiosa
de uma brisa
na beira do cânion
que me traz comigo

3 de julho de 2006

Num levado

Num baque pairo num duplo. O mundo me afeta em dois pólos: um que me possui, no qual fico completamente entregue; e outro que, observador indiferente, ri.

Ao todo, chega a ser constrangedor o quanto o duplo de minha percepção não impede que tudo de lá doa e aqueça e eu peça sempre mais ou pernas bambas caiam num resvalo ou corrida insandecida ou mansa. Mesmo assim até há pouco a força da experiência de ter também um corpo outro, corpo oco, em um nível de absurdas possibilidades ainda não alcançadas, mesmo assim isso me ria e me segurava inerte, seguro de mim sem eu, seguro do destino pra além das coisas.

Foi preciso muito pouco, muito menos do que eu esperava, pra estar de novo preso à experiência das coisas - entregue como um filho da mãe. Me pegou surpreso e atônito e novamente não sei o que fazer comigo mesmo. Foi preciso um muito de ocasião e aí já era.

Só um calor indescritível por debaixo dos panos...

2 de julho de 2006

Pende

Sei
de susto
um súbito
sabor
que sábio
rege
meu corpo

Como a dor
do pássaro
que do galho
muito cedo
voa

No ar,
despenca e
sobe
a misturar,
no medo,
a excitação plena
da conquista
sôfrega