22 de setembro de 2009

pôr do dia 20

um risco fino se aproxima do horizonte
e queima cada vez mais vermelho fogo
diamante alaranjado que as brumas da cidade logo englobam.

risco de Meia-Lua
virada pra cima.
só depois da barriga ter desaparecido
suas pontas somem.

risco fino de Meia-Lua.
ela é a Rainha da forma.
não há metáfora possível.

13 de setembro de 2009

bola de vida

fiquei pensando nos gatos que pulam as janelas das cozinhas dos filmes, caem suavemente pelo canto da tela, dão um miado singelo, simpático, bebem o leite deixado com compaixão pela protagonista como uma agilidade morna, como se ali para mostrar uma voracidade com a paixão excluída, e então somem.

olhava pro meu gato, entrando na cozinha dos meus avós com miados insistentes, cheio de si, uma voracidade apaixonante-chata de carência em toda sua cara de "nem-ligo". essa sinceridade de gato sabendo o que quer. essa grande bola de vida pulsando que é esse gato - que é a situação.

fiquei pensando em como nos apresentam a vida em detalhes... mornos. uma brincadeira de imagens estereotipáveis, provavelmente gostosas assim mesmo, algo do que rimos, o canto da tela ou tudo nela.

e olhava pra vida e pensava como ela é detalhadamente imprevisível, cada momentinho dela.

10 de setembro de 2009

corporal plane

ando dormindo nas sombras em mim.
mergulho em escuros procurando travesseiros,
cobertores,
como quem foge do vento frio.

o vento frio corta dores
e não é difícil encontrar a necessidade de que pare de doer
quando tomo as dores como minhas.

mas é difícil, muito difícil
as dores de tomá-las
quando percebo que há cortes
não onde as dores ardem
mas lá onde há a necessidade
de se mover quanto a elas.

me enrolo no análise
na poesia de tentar expressar um só mergulho.
as sombras tomadas tapam em ilusões de calor.
constantemente me envolvo nelas
constantemente desperto.
há uma luz que também provoca sombras.
há a possibilidade de respirar no escuro
quando se olha pela pele.

será que os cachorros sonham?, me pergunta ela.
do que são feitos os sonhos?

sou eu.

não tenho grandes pequisas quanto aos sonhos.
então, quando se mostram,
sempre me surpreendem.

3 de setembro de 2009

um teatro

o coração viaja
em uma dança
espiada
sentida
de corpo reverberante
de corpo sensível
epiderme estendida àquilo que o olho vê

o corpo conversa
o olhar no escuro do retorno

no escuro
não tem como saber o olhar que conecta
o coração é esperança de contato
o coração
maravilhoso coitado
suspira a poesia
do movimento

alguma coisa absurda
pede um cigarro