31 de outubro de 2008

um suspiro entre tropeços

andei bambo pela rua. soltei um suspiro ou outro entre tropeços, senti o vento, mesmo que fosse uma leve brisa. acima de mim, a lua não sei se sorria, mas como me olhava.

não sei se eu sorria. se vinha, sorriso suave, cheio de uma lamentação melancólica. mas dentro de mim, atrás do quase sorriso, de qualquer jeito minha alegria ressoava... de qualquer jeito meu coração batia, minha pele se sabia no mundo. de qualquer jeito eu agradecia.

essa tristeza feliz, que fala de algo que conecta com tudo. essa tristeza de ter um coração, e que ele sai para passear.

andava bambo, pensava. um suspiro entre tropeços.

e o sorriso de um abraço sentido.

26 de outubro de 2008

do vento e dos sonhos

meus sonhos dançam entre a chuva e o vento. meus sonhos, acorados e presentes em frente aos meus olhos, ou olhos que vêem mais do que a palavra diz. meus sonhos, companheiros levados em uma embriaguez sem álcool: de pessoas, emoções, dias.

suspiro. sinto as pernas, os pés tocando o chão, o chão. com o suspiro, faço dos sonhos minha vida, da minha vida mescla. com o suspiro, aterro sonhos, cabeça, paixão, solidão, infância, companhia. dos sonhos, vida; da vida, corpo. faço corpo dos meus sonhos e me mesclo numa energia que atravessa dançando todas as coisas, como musa travessa.

estou aqui. resta vento dentro e fora de mim. resta lágrimas não nascidas, abraços que se antecipam em vontade. resta palavras ditas demais, olhares compassivos que entendem e explicam desdefinindo. restam todos os dias.

os sonhos acordam e dançam serelepes.

21 de outubro de 2008

Celebração

Salve Dionísio
os malditos
os poetas perdidos
Salve os anarquistas
os fanfarrões loucos
os amantes de verdade
os sabedores do Abismo
Salve o sorriso
por debaixo do bigode
de Nietzsche
as curvas
dos antigos
edifícios
os montes
que almas
habitam

Salve os reinos do Céu
no fundo dos teus olhos e dos meus
as danças do Desejo
com e sem pele
esse Desejo solto
irrefreado
e de rosto nebulado

os Doutores da Terra
em nossos corações
Salve
a busca pelo agora
sem começo nem fim
o acontecimento

Salve a inexistência
todas as mazelas
todas as donzelas
contidas nas jovens,
mães e anciãs
todas as bruxas
com suas gargalhadas ótimas
e os piratas
com suas vidas sem fim

Salve os sufis girando
e os mestres
que meditando
sustentam o mundo

Salve o segundo
em que me perco em ti
você-em-mim
e o corpo-sem-nome
que o amor constrói
salve

19 de outubro de 2008

Sábado a noite vivo

a leveza me preenche. aspiro felicidade, inspiro a alma das pessoas, expiro algo que alguém vê pra dançar. ali, sou todo no mais profundo de mim, puramente amor, um amor sem nome no qual simplesmente se transita - eu transito, nós transitamos. e todos sentem. é impressionante, mas todos sentem. uma verdade que causa interesse, uma segurança sem nome, estar, esteja onde se estiver.

explodo silencioso. danço o grito incontido que sai pelos olhos. não há nada senão paz, e é incrível essa paz no meio de qualquer multidão. alcançar o status de ilha por ter mergulhado no mar.

"sou todo seu
sou todo
sou"

queria respirar todas as pessoas.

quero.

14 de outubro de 2008

"não há revolução, luta, caminho... você já é o monarca da sua própria pele."

Hakim Bey

10 de outubro de 2008

se eu fosse tu, eu

se eu fosse tu, eu seria um "tu" de verdade. sem tudo isso que tu primeiro me apresenta, tudo isso com o que tu tanto te enreda, tudo isso com o que tu te enrola e te esconde. seria um tu do "mais além", sem penduricalhos; o "tu" da tua respiração profunda incontida, que se sufoca aprisionada na tua respiração cotidiana.

se eu fosse tu, seria, do teu jeito, exatamente como seria se eu fosse mesmo eu.

5 de outubro de 2008

2 de outubro de 2008

incertezas mundiais

no último mês, estivemos no limite da existência do mundo. ou quase, certo.

por duas vezes, de qualquer forma, eventos "humanos" causaram a possibilidade do mundo sair de seus eixos. por duas vezes, que eu tenha contado, que tenha ficado óbvio, o mundo poderia ter acabado.

a primeira foi a testagem, na França, do maior acelerador de partículas já construído. a chance era remota, mas poderia ter dado em supernova: um buraco negro sugando a tudo e a todos pro meio da terra dos croissants.

a segunda... bem, a segunda foi a maior queda do mercado econômico americano desde 1929. tão risível quanto possa ser, essa crise que ainda se vive poderia desencadear um evento em cascata a ruir bolsas de valores em todos os cantos do planeta.

sejam coisas concretas, sejam imaginadas, estão por aí. também nosso mundo é imaginado. quantos será que tiveram a sensação de que tudo poderia se tornar um espaço branco após a próxima esquina? ou um pandemônio urbano? será que a crise econômica derreteria os pólos?

no mas. simplesmente achei muito engraçada a comparação dos dois eventos. acho que fala alguma coisa sobre o jeito de que se tem andado. humanidade maluca.