29 de julho de 2005

bom de tão ruim

as versões das versões tem seu toque interessante. e a pirataria, sua contribuição pras interpretações de arte.

uma amiga minha, passando pela 25 de Março em São Paulo, comprou um dvd pirata da versão do Tim Burton da Fantástica Fábrica de Chocolates uma semana depois dele ter sido lançado nacionalmente nos cinemas. veio legendado.

a cópia provavelmente foi feita filmando-se a tela do cinema com um tripé. num estilo que lembra as técnicas de cópias televisivas inspiradas no zapping, as cores perderam muito com a reprodução. ficou com as mesmas tonalidades do primeiro filme.

24 de julho de 2005

Condição humana

Brilhantes presos

dizem por aí que somos seres luminosos, mas só estamos servindo pra ficarmos pendurados em correntes, desligados de qualquer fluxo maior que essa ostentação babaca. pedras luminosas no pescoço de uma dondoca sociedade que nos tira do chão e da possibilidade de virar areia, carvão, fogo, ou qualquer giro aeônico por uma eternidade que seja nossa. eu quero uma vida expandida, um brilho pra além da inútil preciosidade monetária...

23 de julho de 2005

Só a morte liberta

A sombra de um trono
veste o vazio da ordem
A arma de fogo
só tem poder sobre quem aponta
antes do tiro
A morte do demasiado humano
traz a liberdade
e a clareza
da demanda de explicações
que a sociedade carrega

Só a morte liberta
e nessa feira
bem a nossa esquerda
ela é sempre nossa companheira

Se não a ouvimos
é sorte
que também o cogumelo
e outras coisas
nos matam

4 de julho de 2005

um amigo me contou...

sobre a versão histórica pra expressão católica "oferecer a outra face". como tantas coisas da Bíblia quanto aos dizeres de Cristo, há um largo espaço para interpretações diversas daquelas da Igreja. ou, como já disse um certo filósofo de sampa, a igreja cristã se funda na máquina imunda de São Paulo, nosso cristianismo vem daí. o cristianismo de Cristo tá mais pro budismo...

enfim... o discurso do padre nos diz que devemos oferecer a outra face quando levamos um tapa, numa demonstração de humildade que ao mesmo tempo nos leva a uma superioridade, como quem diz que não é afetado pela violência, não a pega para si, e também que vive para um outro mundo, o mundo puro do Paraíso, sob a sombra do qual está o nosso mundo, que, se vivido em penitência, levará aos Céus. ou alguma balela desse tipo.

mas, na época de Cristo, era costume os romanos darem um tapa com as costas das mãos. como para os árabes, que faziam tudo com uma mão para reservarem à outra a ação de comer, existia essa noção de higiene, que não era separada de uma noção sagrada. dar um tapa em um escravo exigia isso portanto, que os romanos o fizessem com as costas de suas mãos, para que não se sujassem.

oferecer a outra face é obrigar quem o repreende, o mantém preso e usado como um objeto - com a inconveniência de ter vida própria - a lhe reconhecer como pessoa. é obrigar o romano a sujar sua palma. quer me bater, desgraçado, então vai ter que sujar essas mãos de sabonete importado aí... é brilhante! uma sutil subversão que opera dentro do próprio esquema do opressor... e o reorganiza simbólicamente sem que esse nem necessariamente se dê por conta... é um ato teatral, por funcionar justamente no arranjo cênico do dia-a-dia. uma bela lição para a mal-criação contemporânea...