27 de novembro de 2006

roubado de mim mesmo em alguém mais

inspiração do blog da Marília:


1

no revés das coisas
e no que escapa
as moléculas são, afinal
grandes preenchimentos de vazio

é só o espaço livre
que causa ecos
e a gente canta em duetos
com nós mesmos

um bando de solitários
juntos
se encontrando
e dissolvendo os espaços brandos
ou cheios de nada
em vida

o vácuo
passa a ser quente
quando bem tão bem
acompanhado


2

(Zen-lunático)

não há sombra melhor do que a de uma árvore, assim como não há espaço melhor para se ocupar com o próprio corpo do que o vazio deixado por alguma outra pessoa.

26 de novembro de 2006

Incentivo

"Senti que pouco a pouco esvanescia
como se tudo estivesse mais sentido
mais clareza... e preenchia o esboço
O esforço de um dia, fica de pé
esguio
que mais que vazio, provem o possível
o indizível de um todo sorriso
Já nasce invadindo... e rindo, rindo

Pele, ossos, gosto. O corpo escorria
vidinha... que veja ciente
o esforço sem músculos
Um corpo sem órgãos
Escopo, estudo, imundo
pouco a pouco potência
reforço, espaço, descaso.
Sou o mundo explodindo, colado
Eu não sou nada que faça
mínimo... disfarça!
Eu não convenço ninguém...
(pele, ossos... moço
olhos
Janela da alma)"

Guto, 17/10/2006


pensei em escrever um tanto de coisas. teclei, até, mas não deu pra resistir. hoje, agora, é só um vento batendo dentro de mim. pede vento fora que é pra sair, pra virar mundo. por isso que eu caminho por aí.

é claro que espero encontros. espero, aspiro. mas eles dão-se por si só, são tão autônomos aos planejamenos que podem até virar ranzinzas ou caprichosos. por isso, simplesmente caminho.

hoje, agora; há um pouco de tristeza; meu corpo dói, estou feliz.

25 de novembro de 2006

ou como diria o Quintana:

"Não subas, não desças, fica!
O mistério está é na tua vida.
E é um sonho louco este nosso mundo...."


recado da Cíntia e de coração, valeu!

A ética do declarado

O limite da coerência é a fala feita em frente do sujeito-assunto. Nada menos que o confronto, não permitir o conforto de quem diz de alguma outra coisa que, enquanto aqui é o porto, está lá em alto mar.

24 de novembro de 2006

Zen-lunático

Tenho precisado envelhecer pra ficar jovem. Algumas pessoas são assim, quando não vivem desde que nascem.

Sóbrio de Louco

Um olhar aberto
outro meio fechado
e a vida entra no corpo
em luz torta
pra declarar
fora de foco
a perenidade
alegre
das coisas

23 de novembro de 2006

Melancólico

Dança uma canção
pelas esquinas da cidade
Paira bamba,
bêbada,
triste de felicidade
Suspirando
uma saudade constante
que salta dos cantos,
que vem das cores ou
do vento
e que acaricia
os pulmões
por dentro
Num frio quente
arrepio
da vertigem
do caminho de dia qualquer
feito viagem

22 de novembro de 2006

Maldade de uma pira triste

voava como floco de leve, rolava como algodão de painera, sementes confortáveis, muito felizes. dava a mão para atravessar o rio como amigo em caminhada de verão, suspirava junto no ar de cima da montanha, apontava árvores, micos, e ria.

foi suave, quente de carinho, gostoso, e inspirava de segurança e docilidade. planou tranqüilo até cair no fogo: não queimou - e não era de estar encharcado - tantas vezes o algodão molhado parecia incandescente ao refrescar a pele - mas queimar, não queimava.

à semente restou perguntar por quê. ficou com medo de não querer parar de flutuar, mas ficou com medo de não descer pra conquistar o ar causando o próprio vento - do chão, crescimento, da pira, explosão. tremeu de tristeza e não soube. viver no fofo não deixou mergulhar por debaixo da terra.

saltou do algodão - barco de núvens - com lágrimas de semente.