28 de novembro de 2007

auto-análise

pensei, pensei, pensei. até que finalmente cheguei a conclusão última sobre mim mesmo:

penso demais.

26 de novembro de 2007

estranhezas da gramática pessoal

daquelas regrinhas de crase: nºx) a palavra que vem depois é sempre feminina (dica: passe para o masculino; se o a virar ao vai crase).

quando passo pro masculino, sempre uso "pôr-do-sol".

25 de novembro de 2007

prum outro lugar

descobri meu corpo inerte, amortecido. e aí é como se estivesse sentindo dores de crescimento nos músculos, só que não por crescer, e sim por sentir. sinto dores de crescimento nos músculos de dentro.

essa semana passei sangrando o coração. um corte de espinha inchada bem no peito. todo banho, ao passar a bucha que ela me deu, o cortezinho abria e sangrava tanto que era bonito de ver - não fosse o que ele manchava.

fiquei com ares de querer que sangrasse tudo o que tinha de uma vez. vai, corpo bobo; põe pra fora. mas não... sanguezinho vai saindo farto em veio fino... coração não sabe o que fazer. e o peito... entre inchaços e murchamentos severos... fica querendo muito subir à cabeça em lágrimas de se soltar. e descer ao pés, dessa vez em mais que dança... em passos.

13 de novembro de 2007

Na Passagem

Fisgo palavras
na passagem
as pessoas
me espantam
bruto encargo
o manto
de rosto
e personalidade

As pessoas
e apavoram
mas me deliciam
os olhares

8 de novembro de 2007

Ele

Ele não conseguia amar. E não porque amava pouco. É que amava muito. Como se não desse conta de seu próprio amor.

Ele não conseguia amar porque não tinha mais rosto para tanto. Porque mudar pelo outro nunca fez boa propaganda. Porque se preocupava, se disponibilizava, e talvez de fato algo como o amor só consiga se fazer brotar através de jeitos brutos e indiferentes. Por aqueles que são mais eles, e isso basta.

Talvez fosse apenas isso: lhe faltava a sabedoria de ser muito mais ele mesmo.

6 de novembro de 2007

Keffa

Keffa escutava com os olhos. Mais. Seu olhar, pura doçura, abraçava. Do meio da barba farta, um sorriso constante. Do meio das palavras (um portunhol com sotaque francês), ensinamentos traduzidos em interesse genuino.

Me contou dos anos que viveu em cada uma de três comunidades. Me contou do início sempre belo, do esforço, da vontade. Me contou das dificuldades, das pessoas se chocando, dos finais. Me disse que a única forma de dar certo era um laço ideológico comum. Para Keffa, as pessoas sofrem de individualismo.

Me disse que nosso nome era o mesmo. Keffa era um Doze Tribos. Seguia os ensinamentos de Yahshua, não Jesus. Ao ingressar na comunidade, troca-se o nome por sua versão em hebraico.

Fui recebê-lo, pela simples vontade de receber alguém, quando chegava com seus irmãos de ônibus ao ponto de entrada do ENCA. Mas logo ficou claro: na verdade, quem foi recebido fui eu.

2 de novembro de 2007

Oração de dia cinza

tem dias que as coisas batem pesinho no peito. nesses dias, como hoje, rezo baixinho:

"dai-me olhares de ver todas as coisas sem imagem, que meu coração, desacostumado, titubeia em sentir tanto; e dai-me suspiros, para quem não tem asas de voar - só é repleto de imaginação. dai-me a força de ser fraquinho, e a coragem brava de ser um tantinho medroso, óh tu, pedacinho grandioso de mim mesmo..."