10 de abril de 2011

Como escrevo?

1) Por necessidade.

2) Como faço um exercício (corporal) novo. E, a cada vez, estou pelo menos um pouco, ou então muito, fora de forma.

3) Como flerto com uma mulher, com a qual não falarei.

4) Como imagino flertar com uma mulher.

(Os textos criados pelo método 4 costumam ser sumariamente apagados.)

9 de abril de 2011

Como planejo uma viagem?

Toda viagem que faço é um mundo que crio.

Gasto tanto tempo planejando quanto esquecendo o planejamento ativamente. Guardo o dinheiro da volta, meu único apego irresolvível - além da câmera fotográfica e, se for a ocasião, da bicicleta.

Lembro constantemente de que todos os sonhos hão de ser vividos não como sonho, mas como realidade, e que minha disposição corrente os remoldará a cada momento. Mas sonho de qualquer jeito. Me divirto inventando engenhosidades sobre o que levar, me desafio quanto a pesos e quantidades - mirando o pouco e efetivamento o muito. Gosto de estar em situações ditas precárias de maneira intimamente confortável.

Todo planejamento de viagem me questiona por que não viajo mais; e então me questiona por que não viajo sempre. Toda volta torna mais nítido que nenhuma viagem acaba e que a volta faz parte dela (até que a ilusão de cotidiano tome conta). Mas todo planejamento inspira o final de qualquer planejamento - que não o sonho - e uma vida na estrada, feita estarda, seria o cume desse monte.

Toda viagem se torna minha companheira.

Não tenho vontade de contar sobre as viagens que faço, além de uma ou outra imagem.

Texto inspirado em um exercício
de aula de Metodologia.
A provocação, dita após,
era pensar na pesquisa
como uma viagem.
Fico pensando no que
diria a professora,
se o lesse.

8 de abril de 2011

Escorre
de meu corpo
morre

Sai por saliva
pelo suor
pelas
ideias

Escorre
fica como poça

Sigo

De soslaio
a poça
me
reflete

7 de abril de 2011

"Uma imagem narrativa"

Escrever como quem tira fotos. Numa tentativa vã de capturar tudo de uma cena, que pela repetição da espectativa de captura frustrada, torna-se esperança. Que recua da documentação da verdade para a composição do olhar, e depois recua um tanto mais. E, dessa subtração esperançosa, pode paradoxalmente trazer tanto mais de vida, não capturada, mas liberta e sempre pulsante.

Assim, bater fotos como quem escreve. E igualmente entender que a descrição extensiva mais facilmente torna-se enfadonha do que capaz de transparecer a vida que se tenta alcançar quando da vontade de escrever. E que, mesmo pela via descritiva, conseguimos chegar é a contornos: e tanto melhor nos entregarmos a eles.

O mais cedo que paremos de escrever e comecemos a desenhar com palavras; o mais cedo que paremos de tentar capturar imagens, mas poetar com elas; tanto melhor para que o espírito dance.

O título desse post foi retirado da fala de 
a respeito do fotógrafo
Luis Carlos Felizardo, o Feliz,
durante a exposição-encontro 
5º FestFotoPoa -
agorinha há pouco.

6 de abril de 2011

4 de abril de 2011

O único lugar em que
quero estar
é no presente.

Mas é longe. Muito longe.

São séculos criando montanhas
de passado
e de futuro.

2 de abril de 2011

Autômato

Danço uma dança
de passos rápidos
certos

Danço uma dança
marcada

Se toca música
não sei
não canto:
conto

Danço uma dança
não dançada

Deixei meu corpo.
Virei máquina.