11 de outubro de 2007

Tenho medo do passo
Há eras
Me agarro
e agarrado quase sufoco
Parece que não posso
Não lembro se foi um tombo
o que fundou meu medo
Olho para trás
Minhas pegadas,
fundas,
já se envolvem em brumas
Mal consigo enxergar
entre as brumas de trás
os medos como muralhas
e aqui
sufoco

Talvez minhas pegadas
tenham sido fundas demais
Me concentro em flutuar
Tento
Não consigo
Nem é porque meus pés
estejam enraizados
(mesmo que eu tenha cavado
procurando o gostoso do úmido
desse chão)
Enquanto olho
uma voz sem palavras
traz algo de resposta:

"Para flutuar é preciso como
que se ande.
A flutuação é sempre
movimento.
Como flutuar parado; flutuar
com a Terra se enterrado..."

Tremo.
A idéia de um passo
inclina meus medos
sombreiam meu rosto
me agarro e
por um segundo
o sufoco é calor
(sufoco cheio de coisas boas)
até que o que aperto
vira minha garganta
Minha voz ressoa, pré-palavras

"Não é possível o passo.
O caminho foi conquistado;
é medo puro.
E se não se pode caminhar
só há uma coisa a se fazer:
vá abraçar a morte,
uma mais profunda do que se pode
conceber
(não faça idéias da morte)
Ao invés de dar um passo,
dance.
Vá dançar a dança de Kali!
Vá ser Shiva, e não represente."

Tenho um sorriso amarelo
verdadeiro
Minha voz sem palavras
Olho meus medos estrondosos
inacessíveis
Eles crescem
Meus medos,
palhaços terroríficos,
ganham a dimensão
da certeza

Onde eu acabo
uma música
começa

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