27 de junho de 2008

Desunidades

Difícil contemplar de uma só vez tudo em um ser humano.

1) Os dois meninos carroceiros que maltratam o cavalo porque sim - sem bondade, sem lógica, sem praticidade nenhuma - e então sorriem de felicidade tocante ao encontrarem uma grande quantidade de lixo reciclável já em sacos fechados.

2) Os moradores do São Pedro, tão facilmente reconhecidos como não-sujeitos, tão dificilmente encontrados no olhar, percebidos num algo que se perdeu.

Tudo em um ser humano escapa à captação completa de outro. Podemos apenas sentir que há algo lá que escapa até fronteiras inalcançáveis, talvez inexistentes. Escapamos a nós mesmos, afinal. E por isso nunca daremos certo. Porque o disperso nos faz normalidade... somos muitos que não se dão as mãos. Em última instância... nós não estamos.

10 de junho de 2008

Entre amarras e fugas

Quando Bárbara nos convidou para fugir, levantei da cadeira. O meu mundo aumentou e meu corpo ficou como que suspenso por fios de tensão a puxar de diferentes lados. O mundo aumentou e meu corpo ansiou por ser vento.

Fiquei angustiado pensando nas amarras, compromissos que faço. Fiquei pensando no futuro, compromisso comigo mesmo; na possibilidade de uma liberdade descompromissada. Fui além do sonho, senti no concreto, planejei um sem planos de espontaneidades: pendido entre o plano de fuga e a simples possibilidade de fugir a qualquer momento.

Minhas amarras viram apertos de mão. Meus compromissos, abraços. Talvez mesmo abraços de tchau, de até logo, de adeus. Tudo ditado pelo fluxo do instante de agora e de amanhã. E eu entro calor e alento pra angústia da amarra, pra angústia da fuga. Eu, concretamente, viro e sou todo e apenas respiração.

Senão vento.

2 de junho de 2008

A linha dita
é minha
a linha da face
me faz
e se amaina
em liberdade
a linha suave
rachura
enuveia
e de dentro
brota
uma flor
e muito
muito
vento