26 de janeiro de 2007

por um funeral viking

reivindico minha neurose.

armo o barraco em cima de um bote, jangada de madeira do jeito que eu conseguir fazê-la.

levo ao mar, quando lá chegar.

e com uma flecha acendo a pira incendiária.

adeus, ferrugem de mim.

22 de janeiro de 2007

desde que me fui

lembro que um dia eu já fui eu. e era gostoso ou chato usar meu corpo, minha voz, meus jeitos, mas acima de tudo era natural e insuspeito. eu era eu e não sabia que poderia não sê-lo.

o que houve pra que eu saisse de mim? aguma coisa me convidou pra fora da casa de mim mesmo... uma enchurrada, que me disse que eu poderia ser outra coisa, ou que me mostrou outra coisa. fui algo um tempo e deve ter sido bom.

ano retrasado já me estranhava. quando cheguei no Rio, era evidente.

desde que voltei, fico tentando me achar. na verdade, logo que aPortei, parecia que era isso, que era eu ali. mas ainda acho indícios que não sou. ainda me procuro, ainda sou outro, ainda sou vago ou perdido ou pouco encontrado (que devem ser coisas diferentes).

por isso, se me ver por aí, não dê tanta bola. sei que pareço comigo. algumas semelhanças até convencem. é que fico tentando me imitar. e vez que outra consigo ser bom ator.

agora, se por acaso dobrar uma esquina um abraço de Pedro, um fantasma, uma sombra, um suspiro de sentimento, uma grandeza ou pequeneza em pessoa; se dobrar a esquina alguém que se parece comigo mas que é de fato pura presença, alguém que é minha cara, meu jeito, meu olhar e está de fato ali a encará-la(o) nos olhos de verdade, com ternura ou assombro ou seja lá o que for - por favor, peça pra que eu volte pra mim.

obrigado!

16 de janeiro de 2007

Filhos do Sol

é gostoso tentar se afinar com a sensação mais do que com a briga por uma explicação. ali tem uma coroa, o céu hoje tem muitas cores, e ainda assim o sol bate forte quase como se não houvesse diferença. ainda é difícil pra mim, mas é gostoso buscar um entendimento do corpo, não racional, uma direção de vetor do acontecimento: vai.

o SOl como um suspiro. o halo como um elo da cabeça aos pés. o corpo pra além do corpo, corpo energético amplo.

expanda sua mente. expanda sua pele.

15 de janeiro de 2007

Resolução de Novo Ano

não me explica!

não explicarei.

da última vez que morri

já entreguei meu corpo por uma mulher. joguei minha carne no mundo, ofereci das minhas veias o sangue.

levei minha alma no conjunto, quase embrulhada. acho que pairou em volta, avoada de alma - e eu tentando fazê-la passar por debaixo de uma porta, dentro de um envelope, ou num olhar mais forte que definisse "é agora, viu?".

entre meu músculos vacilantes, morrendo de medo de não serem bem-vindos, e minha alma avoada, que na verdade não soube ser dada, deixei de lado toda minha cara mundana. dei meu dia-a-dia, não sei se a ela, ou se para o mar.

quando a gente ama com o olhar e com o abraço, fica surpreso quando mesmo com isso os corações não se encontram. temo que o amor ficou preso no arranjo. e quando a coisa aperta, não é pros olhos que se olha, não é pro que não agarramos, mas é pro duro de concreto, e o tamanho da força organizada de trabalho, de nome, de brados, de pernadas pela sociedade.

sou bobo de vida. mais do que deveria. ao me dar me matei e mal percebi. meus ossos ruíram em pó, minha alma se desfez no ar, se desligou do meu respirar, da minha ação. meu corpo que dizem, o Pedro de quem se fala, se perdeu e não tinha o que dizer de si mesmo.

hoje vago bem. os restos de mim se reconstituíram numa forma que ainda se forma, molécula por molécula de experiência, desinformação e caos. a gente se recupera num outro, o mundo tem sempre o potencial para descortinar-se.

mas daquele eu... nunca vou me recuperar. meu coração ainda tranca hesitante - sofreu um derrame de suas próprias batidas. hoje nasço e fico feliz do abraço do mundo quando vem ou quando vou. mas é isso... um desabafo que ainda não sai completo, um estandarte que ainda cai sobre minha cabeça. ainda sou um fragmento, ainda me procuro nos meus jeitos.

ainda vou sair pelo mundo. o melhor de se perder não é a possibilidade de se achar. é deixar. só ser.

da última vez que morri, foi minha morte mais avassaladora. de repente percebo que ainda me ronda, me assombra. subcutaneamente. e minha pele transpira um frio imaterial.

é engraçado. como não sei de nada, só sigo.

(queria chegar em um ponto algum aqui. queria jogar pra fora, quem sabe chorar palavras. mas não é claro... não vem claro. por enquanto, só me dá voltas... é a recém que percebo o quanto ainda está presente. e eu querendo bradar milhões de vozes e explodir por fim! e eu querendo vocês na companhia disso, um portal de tela mais uma vez, só mais uma vez. blah... vai dormir comigo. ainda. mais. um pouco.

beijo.)