3 de setembro de 2010

Embriagado 1

A obscuridade de
uma situação
alumia
a presença

Na ausência
nos surpreendemos
sem querer

Na ausência
estamos sós
mas cheios de queixas

na ausência
não sabemos
se buscamos
ou perdemos

A presença
surpreende
e encanta

Faz da tranca
o solavanco
que inspira
a dança

26 de agosto de 2010

Por uma cidade mais respirável

Queridos! Pessoas de bem!

Amanhã, como toda última Sexta-feira de cada mês, é Dia de Massa Crítica! Nos reunimos no Largo Zumbi dos Palmares (Largo da Epatur) às 18:15 para sairmos às 18:45 pela cidade, buscando trazer a visibilidade para os transportes saudáveis e para a integração humana!

Massa Crítica é uma celebração onde ciclistas e demais utilizadores de transportes de propulsão humana se reunem (no mundo todo) para declarar que NÓS TAMBÉM SOMOS O TRÂNSITO!!! Ou seja, que estamos aí, que temos e requeremos nosso lugar, e que vamos ficar e só aumentar em número e disposição!

Numa época em que tudo o que vemos são mais e mais carros nas ruas, e o incentivo para a indústria automobilística segue firme e forte enquanto, paralelamente, o carro continua sendo trabalhado como objeto de felicidade e bem estar, temos a oportunidade de reconhecer o quão sem saída (e acelerando para um muro bem grande e firme) essa via é! Porto Alegre tenta expandir suas vias de tráfego, não percebendo que a capacidade de expansão é largamente inferior a velocidade com que a frota de veículos aumenta.

Também parece escapar ao nosso filtro social e a nossa organização urbana que os carros. em última instância, não colaboram para o bem estar. Os carros são caixinhas de espaço privado, contido e controlado, que circulam em espaços públicos. Como sofás-com-rodas-teto-e-ar-condicionado, são realmente muito confortáveis. Mas nos privam de uma niteração olho no olho que é essencial para percebermos que dividimos a mesma cidade com outros seres humanos. Nos privam de uma relação com o ambiente que convida a nos percebermos como cúmplices desse ambiente. Ocupam espaço demasiado, tanto circulando quanto parados, e esse espaço poderia seri aproveitado para coisas que colaborem com a vida e o bem estar efetivo da população.

Mais drasticamente, um carro dá uma ilusão de segurança pela sua aparente leveza, inspirando à velocidade constante. A cidade tem como prioridade o fluxo e parece não haver campanha de uso "correto" das faixas de segurança que dêem conta desse uso-não-uso. Os carros devem andar, mas e as pessoas? Que lugar as pessoas tem na cidade?

Os barulhos da cidade são os barulhos dos carros. Ou os barulhos de seu próprio crescimento. E é assim que estamos escolhendo viver.

Os carros são efetivamente acidentes esperando acontecer. Em Porto Alegre, a cada 2 dias, 1 pessoa morre em acidentes de trânsito. Se você dirige e nunca se envolveu em nenhum tipo de acidente de trânsito, você é absoluta minoria, e temo dizer que não deve seguir assim para sempre. Mesmo no caso de um acidente extremamente leve, me diga: como foi a situação emocionalmente? E em especial: como foi a relação com aquela pessoa que estava dentro do outro carro?

Parte de sua ilusão de segurança vem do isolamento, e parece que com ele estamos a salvo de assaltantes, a coqueluche do medo urbano atual. Mas isso não reflete a realidade de grandes centros urbanos, onde os carros, em parte por causa dos congestionamentos parailsantes, são alvo muito mais fácil para um indivíduo armado do que ruas cheias de gente transitando. Além disso, um carro precisa ser estacionado (em local público, ou mediante pagamento em espaço privado), e como fica sua preocupação ao deixar seu carrinho na noite da Cidade Baixa? Seria a mesma de não estar com ele?

Entendo que, mesmo assim, os carros propiciam confortabilidades. Se não fosse por isso, independente de todo investimento que há para transformar o carro em objeto de consumo, reflexo de status, sensualidade e virilidade, provavelmente não teriamos tantos carros sendo comprados diariamente. MAS o uso de carros como temos tido no país é simplesmente insustentável! E eu tenho certeza que se você anda no trânsito de uma cidade como Porto Alegre vai ter notado uma diferença significativa nos últimos 5 anos, que dirá nos últimos 10 anos.

Nós vivemos em um país que tem exemplos claros e contundentes como Rio de Janeiro e especialmente São Paulo. No entanto, não olhamos para esses exemplos. E eles não são só exemplos de como a quantidade de carros que geramos é insustentável, também são exemplos de como, mesmo em uma condição completamente insustentável, AS PESSOAS SEGUEM COMPRANDO E USANDO CARROS AMPLAMENTE!

Mas, como podemos não usar tanto os carros?

Vamos investir nossa energia pessoal e social (disposição, educação e dinheiro) em métodos alternativos de transporte. Vamos lembrar do nosso corpo, da cidade e das outras pessoas e construir meios que estejam de acordo com o bem estar comum!

Bicicletas não são uma dificuldade. Não são representação de pobreza ou status inferior. São fonte de uma constante felicidade! São, eu acredito, o veículo do futuro!

Hoje eu ando pela cidade inteira com minhas próprias pernas, impulsionando os pedais dessa maravilha simples e ecológica que me coloca em uma velocidade saudável, condizente (bem, quase sempre) com minha capacidade de parar e enchergar os outros e a cidade, e gerando um vento sem igual no meu corpo.

Mas, além das bicicletas, devemos imaginar, investir e fazer acontecer um transporte público de qualidade, abrangente e ecológico. E isso está longe de ser difícil demais.

Quando isso começa, não para mais. Lembramos como é bom (e às vezes ruim, mas, justamente, humano) conviver uns com os outros. E podemos pensar em métodos que integrem nossas vidas, hoje tão isoladas, nos pondo juntos como de fato estamos, mas não o percebemos.

E então, se você precisar usar o carro, talvez você se organize para enchê-lo com outras pessoas, evitando que aquela caixa de metal e borracha de quase 1 tonelada circule por aí ocupando espaço e com 1 único indíviduo dentro. (Você já parou em uma esquina movimentada para observar a expressão dos motoristas em Porto Alegre? Você já contou quantos deles estão sozinhos em seu veículo, e fez uma estimativa de propoção? Você acha mesmo que estar em um carro tem colaborado para a felicidade individual - quem dirá coletiva?) E talvez você o faça apenas quando sentir que necessita muito, e sua maneira de medir isso estará integrada com a formação da cidade, e não apenas uma forma individual (e eu posso taxá-la de "egoísta" para lhe dar um peso extra) através da qual normalmente realizamos todas as nossas decisões no dia a dia.

Portanto, amigo, me responda: em que cidade você quer morar?

E venha ao Massa Crítica celebrar essa cidade PARA AS PESSOAS que estamos agora mesmo construindo.

Grandes abraços!

PS: Alguns vídeos inspiradores:

- Documentário sobre o trânsito e formas de vivenciá-lo na cidade de São Paulo (parte 1/4)
- Reportagem com o ex-Prefeito de Bogotá, que começou uma revolução do trânsito da capital da Colombia
- Documentário sobre Antanas Mockus, ex-Prefeito de Bogotá que revolucionou... bom, tudo. (1/7)
- Vídeo Massa Crítica de Porto Alegre de Julho de 2010
- Blog Massa Crítica Porto Alegre

7 de agosto de 2010

solto o transe
de vida cotidiana

do meu peito
o vazio
rasga o comum

transo a dança

me surpreendo
de durezas
quando a vida
de tão viva
dói

e amedronta

11 de julho de 2010

o tempo pede um silêncio de mim.

tento me entregar ao vento
e ver se aprendo
alguma coisa.

31 de maio de 2010

O Tombo

Tombei
o Universo
aos meus pés
se assustou

Do assombro
nasceram
2 Planetas
3 Luas
e uma micro-infinidade de meteoros

Me levantei abismado
pelo trajeto que tomavam
pensando, curioso
nas possibilidades
daquele passo
torto

30 de maio de 2010

Vida Livre

Olhava
via a vida
andando na rua
enquanto eu passava
ainda mais depressa

Da janela
eu a via
cada pessoa
um ato
que ela
habitava

Olhava
pensava
em rostos
e jeitos
pensava em torneios
de identidade

Olhava
procurava a vida livre
e tomava sustos
a cada instante
em que aparecia:
rondava
explodia
e sumia

ou parecia como quem pernoitava

mas assustava
a vida livre
sempre tão depressa
e ao mesmo tempo eterna
tão instantânea
e tão mais calma
do que esse nosso jeito
enrugado

17 de janeiro de 2010

Galeando

Senão o interesse, tenho o desejo preso. Meu interesse corre solto feito olhar de pessoa só. Mas meu desejo foi apreendido por ela, pessoa que o fez florescer. Meu desejo foi viajar e eu... eu fiquei só de pessoa e de desejo.

16 de janeiro de 2010

chove lá fora
e aqui
faz tanto clichê
que a música
ri

no calar da hora

bate uma angústia
que não disfarça
nem farsa nem folia
a detém
bate uma ansiedade
que abate
a escolha
da hora
feito espora
no lombo do cavalo
corro
dentro do meu corpo
morro
em um esporro
direcionado
a mim mesmo

olha
digo
não faça drama
a noite tece
sua trama
e a distância
ainda mais
é assim
que se faz
aguenta
pequeno
esbrava
no peito
o fio
da navalha
explode
em molde
nenhum
escarra
o coração
não pede perdão
respira!
respeita a vida
e vive


esse velho
que senta dentro de mim
é novo
e sabe
e vive

e eu
apesar do peito
cheio de frio
e tumultos
escuto
respiro
dou meio sorrisos
e aguento

7 de janeiro de 2010

Suas costas arquejavam suavemente. Arquejavam sono. O rosto, de lado, mal se via, seus cabelos ondulando por ele. Mas deixavam um vislumbre de seus lábios. E, no meio de toda a maravilha, esse detalhe era o que coroava.

Suas costas arquejavam, e suavemente o quarto todo respirava. Eu me perdia em pensamentos que logo esquecia. O momento não pedia pensamentos, mesmo se os tinha. O momento simplesmente pulsava.