28 de janeiro de 2009

estou entre mundos.

e os mundos, às vezes, parece que quebram...

20 de janeiro de 2009

loucos esses tempos em que danço tão pouco
mesmo sendo mentira
danço um suspiro que falta
pro balanço da levada da vida
e haja vida
nesse banco
novo de praça
que eu traço
ou espero traçar
numa manhã de domingo
deitado
sem ressaca
mas com sono

loucos esses tempos em que danço tão pouco
que dentro de mim
antes da música
vem uma tristeza súbita
não sei da onde nem do porquê

loucos esses tempos

mas o passo
já anuncia
que não vai ter certeza
e só no rebolado
achará seu gosto
e depois disso
ninguém
segura
sinceramente

14 de janeiro de 2009

nesse momento de loucura, meu espírito vagueia atrás de um rumo no meio da tempestade. mas vai em frente, sempre em frente. fareja o ar, que é com o cheiro que os espíritos se encontram. ou com as vibrações do mundo. fareja o ar revolto... e segue.

12 de janeiro de 2009

Nenhuma tampa de panela

Como começar? Sempre uma questão pertinente. Suficiente para que se busque de novo e de novo, início, re-início, onde, aqui, agora. Como começar... E o fato incrível, mesmo que inegável, de que se começa.

Talvez haja essa necessidade natural-humana de extremos. A busca constante pelos limites da curva. A questão que cotidianamente se apresenta, como resistência ao cotidiano: como estar seguro na montanha da curva normal e ao mesmo tempo orbitar seus extremos. Como assegurar-se na normalidade e aproveitar do extraordinário.

Uma questão para inquietos, por certo. E quem não é inquieto na velocidade aparentemente irrefreável da sociedade "pós-moderna"? Uma inquietude posta já a princípio, uma inquietude de início, fundante do dia-a-dia dos sujeitos. Uma inquietude que antecipa a oferta, a oferta constante do nosso sistema, "sociedade". Já pensaram sobre essa palavra, "sociedade"? Somos sócios de quê, exatamente? Sócios desse ofertamento, desse oferecimento incessante da solução impossível?

Mas inquietos. Talvez os que conseguem fazer algo disso. Porque talvez pra maioria seja "inquietos com escapismos". Faltantes que buscam tampas de panelas.

Inquietos. Como começar? De resto, pro resto, talvez não importe, desde que comece y asi va. Encaixe em qualquer coisa.

Assim, qualquer dúvida sobre início implica necessariamente em uma dúvida sobre um final. Como começa - com termina? Como terminar? Como, final?

Buscar os extremos da curva. Buscar uma orbitância pra vida cotidiana. A busca. Marcos instáveis, graça, gosto, gozo. Vamos lá, da inquietude alguma coisa nada singela, não tampa de panela, alguma coisa a mais que dê para levar.

Dar conta da orbitância, então. Dar conta do sujeito ordinário em si, daquela velha necessidade do ancoramento no centro da curva, no grande monte populacional ordinário. Dar conta da orbitância. Da vertigem, do solavanco. Da curva a 150km por hora.

O Abismo sem socorro, porque presente. Do buraco da falta, mergulho.

Como começar. Como terminar. Milhões de inícios e términos feitos fuga, feitos solução ousada, solução insolucionável, solução com todo o âmago da frustração acoplada. Na falta, nenhuma tampa de panela, mamãe.

5 de janeiro de 2009

Conspiração contra a Mudança

É difícil mudar. Muito difícil. Doloroso e angustiante. Primeiro, porque a ousadia de mudar-se a si mesmo envolve cortejar a morte. Na mudança, uma parte de nós perece; um modo de sermos nós mesmos entra em colapso. Segundo, porque enfrentamos a resistência organizada das instituições e a oposição ferrenha de todo mundo que nos cerca. Unem-se numa brigada contra a mudança aqueles que, de uma forma ou de outra, nos conhecem, dão testemunho de nossa biografia e zelam pela imutabilidade.

Engana-se quem imagina que contará com o apoio alheio ao projeto de transformar-se, mesmo que a mudança seja um imperativo social e um desejo coletivo. Equivoca-se o sonhador ingênuo que espera estímulo à mudança por parte das instituições supostamente destinadas a promovê-la, por paradoxal que pareça. Este é o fato: há uma conspiração pela fixação de identidades e pelo congelamento de suas respectivas qualificações, especialmente se tais qualificações forem estigmatizantes. Mas a pior notícia é a seguinte: nós tomamos parte da conspiração; participamos e contribuímos para a blindagem ontológica que coagula a história e engessa processos biográficos.

Luiz Eduardo Soares, "Cabeça de Porco"