22 de janeiro de 2007

desde que me fui

lembro que um dia eu já fui eu. e era gostoso ou chato usar meu corpo, minha voz, meus jeitos, mas acima de tudo era natural e insuspeito. eu era eu e não sabia que poderia não sê-lo.

o que houve pra que eu saisse de mim? aguma coisa me convidou pra fora da casa de mim mesmo... uma enchurrada, que me disse que eu poderia ser outra coisa, ou que me mostrou outra coisa. fui algo um tempo e deve ter sido bom.

ano retrasado já me estranhava. quando cheguei no Rio, era evidente.

desde que voltei, fico tentando me achar. na verdade, logo que aPortei, parecia que era isso, que era eu ali. mas ainda acho indícios que não sou. ainda me procuro, ainda sou outro, ainda sou vago ou perdido ou pouco encontrado (que devem ser coisas diferentes).

por isso, se me ver por aí, não dê tanta bola. sei que pareço comigo. algumas semelhanças até convencem. é que fico tentando me imitar. e vez que outra consigo ser bom ator.

agora, se por acaso dobrar uma esquina um abraço de Pedro, um fantasma, uma sombra, um suspiro de sentimento, uma grandeza ou pequeneza em pessoa; se dobrar a esquina alguém que se parece comigo mas que é de fato pura presença, alguém que é minha cara, meu jeito, meu olhar e está de fato ali a encará-la(o) nos olhos de verdade, com ternura ou assombro ou seja lá o que for - por favor, peça pra que eu volte pra mim.

obrigado!

4 comentários:

alice disse...

Sim, mais encontros, por favor. Tenho certeza de que nos encontrando mais com nossos amigos nos encontramos mais a nós mesmos.

E acho que isso tudo tem a ver com a nossa plasticidade... a gente não encontra a nós mesmos sempre. O melhor não é mesmo sempre nos outrar?

beijos.

Pedro Lunaris disse...

não sei. outramento é um conceito bonito. apenas que sinto falta de mim mesmo agora.

não é uma coisa ou outra. tem algo nisso que é o mesmo. outrar-se é encontrar-se. e agora, agorinha, só não sei ao certo onde estou.

mas sem determinismos.

Anônimo disse...

Fiquei pensando o quanto é possível não haver determinismos...pq somos nós mesmos mesmo não sendo, algo como "sim, encontrar com nosso amigos nós diz muito de nós mesmos", mas até que ponto é esse eu que queremos encontrar...posso estar viajando demais, mas a impressão que tenho é que realmente nos estranhamos as vezes em muito do que é tão familiar...ou mesmo um momento de fazer alguma outra coisa...

Anônimo disse...

quem não se estranha se entranha, e se perde.