23 de abril de 2007

Passeio

Final de semana andei cego no Centro por 40 minutos. Descobri que os corpos são muito maiores do que aparentam à visão. As máquinas, por exemplo, tem seus corpos ampliados pelos seus sons, e não é só com suas rodas e metais que uma lotação te atropela, mas com o que expande violentamente do barulho de seu motor.

Foi meu único medo. Um som que me fincou, atravessou, furou. Me deixou amassado e com frio, sem saber, de sua força, se o metal vinha afinal pela frente ou por trás de mim.

De resto, muito gosto em ser conduzido. E a delícia de correr assim, sem amparo de meus olhos, das minhas pernas o quão bambas que ficaram, de abraçar árvore e da delícia de dentir a vertigem de um balanço.

É isso. Ande por aí de olhos fechados.

Um comentário:

Marília disse...

Me faz pensar a sutileza dos sentidos... o cheiro que se enrosca com o toque que se enrosca com o gosto que se enrosca com as cores que se enroscam com as melodias da vida. E de algum modo, andamos por aí tecendo notas... Os sons das ruas ressignificando as imagens; os cheiros aguçando o tato. Respiramos o mundo, de olhos fechados.