25 de setembro de 2008

haikai eleitoral

a cada dia,
uma música ridícula e irritante diferente
na cabeça.

23 de setembro de 2008

Trancos, ancas e narizes de palhaço

Me envolvo em minhas trapalhadas. Fios que fazem minha carne, dão toda a forma das conexões a minha volta.

Sempre essa idéia de fios, "me envolvo, me enrosco, me enredo." Me enrasco.

Porque sempre me esqueço. "Sempre me lembro que já te esqueci" diferente/complementar de sempre me esquecer de lembrar. De olhar. Antes, respirar.

Depois da raiva, o enrosco. Antes também. Mas depois do enrosco de depois da raiva, a graça. A graça é um alívio de consciência. Assim como a raiva, alinha os fios, mas a graça o faz sem a brutalidade que novamente os enreda no logo-após.

A graça clareia a cena-eu. Mais nada, vale por si só. A cena-eu também não é nada, afinal. Mesmo o enrosco. Por isso a graça é o princípio da meditação.

21 de setembro de 2008

antes da porta bater

foi muito bom te ver no Sábado! acabou comigo. e eu tava mesmo precisando acabar.

fazia tempo que não cansava de mim mesmo, mas cedo ou tarde acontece, principalmente quando não cuido de certas coisas. e sigo me impressionando como tenho pontos cegos.

então, acabei. vim só dar um tchau antes de fechar a porta. era uma sala gostosa essa, né? eu não me importava de ficar esperando nela. pelo menos até o final de todas essas revistas de moda. e, de qualquer forma, a luz apagou faz um tempo.

vou eu ficar no escuro. será? esse escuro de espaço. escuro de luz, quem sabe. ou sabe-se lá. depois que a gente acaba, será que ainda pisa em alguma coisa? só vou saber mesmo depois de passar pela porta.

então, acabei. e tchau. era pra isso, isso tudo.

talvez toda despedida fique com um gosto de algo mais para dizer. toda vida fica com alguma coisa não-vivida? é estranho, porque isso não existe. o tanto que não se existe em potência pura. mas finais são finais. como carcaças são apenas carcaças e tudo o mais.

pelo menos depois da saída.

20 de setembro de 2008

Causos Eleitorais

em frente ao Clínicas, uma verdadeira comitiva panfletária faz seu trabalho.

em meio a eles, um homem com um carrinho de mão vende abacaxis. de "Terra de Areia".

15 de setembro de 2008

o poço dos abraços infinitos

pra Ju

entre algumas pessoas existe uma espécie de poço dos abraços infinitos. que seja infinito, o que dá sede não é só a falta de abraços dados, mas o dar abraços em si - que dá vontade de sacar abraços do poço como a tentá-lo diminuir, aliviar um nível tranbordante. sorver do poço dos abraços é viver uma relação mais ainda, um pouco mais ainda, e mais... é ir em frente, onde se deve ir, seja para onde for, mas ir, deixar-se. sorver da amizade, do amor, do abraço.

entre algumas pessoas há um entre que é mesmo incrível. e é uma delícia senti-lo como a dançá-lo.

não importa, então, a distância geográfica que às vezes se imponha. nesse entre, nossos sentimentos dançarão sempre, e esse espaço com certo cuidado fica sempre aquecido. como o poço dos abraços. a única coisa é a sede de beber nele... e a necessidade, que um dia há de ser cumprida, de um mergulho que alivie esse nível transbordante...

13 de setembro de 2008

tudo aqui

acesso outras vidas
na noite
careço de abraços
o choro é um conforto engraçado
e o riso
vem da bênção
de sentir
porque nessa
não há algo
como vidas
que sejam outras

11 de setembro de 2008

11 de Setembro

Aviõezinhos correm pela vila portando explosivos. Chocam-se contra as torres e se espatifam, se despedaçam. Se não a curto, sua missão é suicida a longo prazo.

As torres são marcos constantes que não cessam de ruir. Imagens muito fortes tão concretas em sua abstratilidade que tornam-se indestrutíveis. O ruir das torres é a imagem mais indestrutível que existe.

É nosso marco que reverbera. O ruir ressoa, proclamamos nossas lágrimas televisivas. Os explosivos são alvos claros, importantes. Todo nosso ruir pode representar-se em drama e ocasião. O ruir movimenta a sociedade em uma parada.

Aviõezinhos chocam-se contra as torres. Nós reproduzimos a destruição infinitamente, pelo bem da imagem. Construímos a expressão última que tapa toda origem, quase toda conexão. Repetimos o ruir com gozo. Rejubilamos em milhões de discursos.

É a maravilha televisiva que se tenha tão bons personagens. A tela gera toda sorte de projeções. O cubículo expiatório de gerações auto-mutiladas.

Porque já é velha a sabedoria de que são nossos os aviõezinhos. Nós fabricamos os explosivos. As torres... de quem é a conseqüência das torres?

Jogamos pedra no mundo com gosto. Pouco vale tanto quanto uma falha enquadrada, porque o espetáculo é fim em si mesmo. Por quê? O medo originou toda cena que o justifica. Nada vale tanto quanto a segurança de um medo delimitado. É com gozo que os aviõezinhos explodem, as torres ruem de novo e de novo... e ainda jogamos pedras no mundo.