30 de novembro de 2005

27 de novembro de 2005

Mimado

Pau de prender cobra
não nasce de rio chorado não
Nem pé de cabra
que arrebente o mundo

25 de novembro de 2005

rebuliços

noticiazinha sobre o uso de terrorismo poético como manifestação. como assusta, e no que pode dar. importante, interessante, acho que dá pra pensar muitas coisas, mas agora tô com preguiça. pelo menos a gente sabe que a invisibilidade continua sendo nossa melhor técnica de segurança: revolução sem rosto também é isso, meus amigos!

***

complementando...

eu realmente respeito muito qualquer um que tente uma prática subversiva. ainda que em protesto. mas me preocupa ter gente boa, gente rara com cara de fazer coisas, ter sua vida tão complicada por retaliações de algum sistema. tudo bem, a gente não se importa tanto com complicações... tudo bem, casos grandes trazem as coisas a tona... mas não sou a favor da política de mártires. a menos que sejam mártires por engodo, pessoas que, por exemplo, queriam mesmo cair fora e aproveitam essa vontade pra estourar a boca do balão... saia em grande estilo... essas pessoas foram expulsas da universidade, me dói que tenhamos agorinha menos rebuliçadores na Unesp.

agora, é de se pensar sim senhores: não faça um mártir do seu mártir! o conceito de porta-voz é outra coisa! que a reitoria da dita universidade responda dessa forma, é de se lutar então por dizer que esse foi sim um protesto válido, e não desrespeita nem um pouco mais do que o desrespeito pelo qual os alunos estavam passando.

a primeira regra da prática é não seja pego. se a rede cair, ache um jeito de furá-la. talvez ainda haja tempo. que que a gente pode fazer a respeito?

eu trataria os expulsos da Unesp como prisioneiros políticos. num emaranhado tão absurdo, a delinqüência (pra deixar feliz o amigo Ari Almeida) é um ato político muito válido. não é pra eles? pra gente é, e já tá aí na cara que eles vão ter que nos ouvir, podem muito bem não entender, mas vão ter que arranjar maneiras de ouvir sim senhores. como é que se fazia pra soltar presos políticos? sequestravam figuras importantes. que tal uns sequestros mentirosos, falsos? e se começarem a desaparecer alunos nos campi, saírem notas dizendo que os professores que nunca aparecem morreram vítimas de atentados terroristas, o café do bar for suspeito de conter antrax ou algum componente alucinógeno (alô estudantes de biologia)? antes do Wu Ming ali de cima veio o Luther Blissett, e é claro que todo mundo já sabe disso...

enfim... protejam os pobres rebeldes, indefesos em sua deliqüência. não fique desamparado na subversão. não seja pego, por favor, e consiga ajuda se isso acontecer... que é pra não ficar mal nessa vida! o risco de acabarem com nossos corações revolucionários me assusta, uma Terra sem eles seria um saco...

24 de novembro de 2005

Precioso Mundo Seguro

Cada vez que tombava
um metro de medo e dor
saiam da altura da sua barriga

Medo de mundo partido
Dor de mundo quebrado

No chão, aos prantos,
ia remendando os pedacinhos
do seu mundo virado
e torto, e já torpe

O mundo a sua volta
ia prendendo-se assim
Um emaranhado de fios
de sentimentos tão pesados
que não havia espaço
pro mais leve desvario
Um novelo de lógica e esforço
de manter esse admirável mundo novo
tão duramente conquistado

Dias felizes
em que seu mundo
zelosamente seguro
subia a sua volta, fio sobre fio,
e lhe tapava a visão

22 de novembro de 2005

Referendados e Reduzidos (ou Manifesto por Temperos da Vida Contra a Indigestão do Estado)

o que eu vou escrever aqui começou com um comentário na postagem army of me, mas aí achei que dava pé pruma postagem própria...

foi-se o referendo. e agora, José? a primeira coisa que me ocorre é perguntar o que a gente faz com todas aquelas discussões que tivemos antes da categórica votação. a idéia do referendo parece ser apoiar-se na opinião do povo para tomar uma decisão legislativa. antes da votação, eu me perguntava o que isso poderia trazer de mudanças. teoricamente, consultar o povo parece uma ferramenta democrática importante, mas, na minha teimosia incrédula - auxiliada pelo momento de tensão política em que diz-se aos jornais: uma outra manchete é possível -, ficava perturbado ao ver que informações sobre cada uma das opções traziam as propagandas, o quão estranhamente estava formulada a pergunta, coisas assim... mas pensava também que simplesmente sendo feita a questão tornava-se possível, pela polêmica, discussões que porventura pudessem trazer consigo alguma crítica.

vejam, me importo pouco com o decidido pelo instituído, se comparado com uma outra coisa, que é a cultura: como tomamos tudo isso, como lidamos com isso, de que formas estamos apreendendo essas regras, vivendo com elas. se a situação da sociedade mundial me deprime, fico mais preocupado com as possibilidades culturais de lidar com os problemas, porque é aí que está a vida e o viver, na sua teia mais democrática. e justamente pela idéia de que nossa cultura é um porre, cultura burra do esquecimento, que penso visceralmente estar na revolução cultural - conceito já tão batido, mas que me parece ser constantemente esquecido - qualquer possibilidade verdadeira de mudança.

então tinha lá eu minha esperança que a grande força do referendo não fosse o resultado do apertar de botões, mas sim a polêmica causada pela pergunta. eu devia ter me segurado mais na desconfiança que me despertava o vazio das discussões sobre essa polêmica - aí, não ficaria tão decepcionado. deveria ter me dado conta que não há abertura possível para crítica numa pergunta cuja única resposta possível está numa opção absurda entre sim ou não - e no continuado e muito suspeito comportamento de nunca se falar da opção 3, nunca, em propaganda explicativa de votação alguma!

o que eu não imaginava é o que foi-me apontado após o resultado: agora, todos sabemos que o Brasil é um país onde 80 e tantos por cento da população é contra a proibição da comercialização de armas de fogo. tudo bem, vivemos em um país que ainda acredita na posse e no uso de armas de fogo. não é tão absurdo olhando-se o mundo, e temos bons e maus exemplos disso - sendo os segundos amplamente mais numerosos, é claro. mas e como ficaria se, como está sendo apontada como uma possibilidade, o que fosse referendado fosse temas como "proibição do aborto" ou "casamento gay"?

está claro para mim que o tal do referendo é uma das armas mais poderosas para a reacionarização da população. com sua redução imbecil de toda uma importante discussão aquele apertar de botões, não se permite nenhum avanço ideológico, e qualquer idéia de revolução cultural advinda dele toma o corpo de um golpe de estado militar e moralista. que mudanças que são possíveis daí? nenhuma, senão, e muito fortemente, a cristalização de opiniões e de jeitos, o encarceramento de viveres...

é o velho entendimento idiota de democracia como sendo uma ditadura da maioria... a imposição aos poucos do que acham os muitos. mas os poucos também são vários... há que haver uma minoração da política, a possibilidade de construirmos culturalmente uma visão da democracia que tome sua força nas minorias, que possibilite as minorias, e várias delas; uma sociedade que seja de todos, e não de um todo, e não totalizante. seria de se esperar, como dizem por aí, que o Brasil, com sua miscelânea étnico-cultural, já tivesse isso incrustado em sua forma de ser, mas talvez seja justamente por essa miscelânea, ou ao que ela poderia dar força se suas potências deixassem de habitar apenas um inconsciente impossibilitado de ser expresso (e não apenas para tomar uma forma consciente, conscientizado, mas também para permitir que o que segue oculto possa vir a tona, sempre venha a tona e seja sim parte da criação do mundo), talvez seja justamente porque habitamos uma mesa com muitos pratos de culinárias tão diversas que os poderes instituídos sempre tendem a tapar essa diversidade com um discurso de "pão para todos"; porque os poderes instituídos, ao contrário do povo cheio de indivíduos famintos de novas experiências, tem um estômago fresco e indigesto.

17 de novembro de 2005

em tempos de levante...


"Los enganados y los desesperanzados tienem que organizarse. Tienem que organizar su desesperanza como nosotros organizamos la nuestra. Nosotros nacimos desesperados de una opción política, otros de una condición de vida, otros de un trato social, otros del trato a una condición feminina, otros de un trato a la historia que va detrás tuyo. Lo que hicimos fue juntar un montón de desesperanza, organizarlas, y el resultado fue una esperanza. Así nace el EZLN.

Para organizar su desesperanza cualquier otro puede hacerlo, no es algo extraordinario ni se necesitan grandes cosas, ni armamento sofisticado ni todas esas pendejadas que dijo la Procuradoría General de la República. Se necesita corazón, conciencia, claridad en lo que quieres. Como dice el poema de Paul Eluard: 'Para ser feliz simplesmente hace falta ver claro y luchar. Entonces si se puede tomar el cielo por asalto.'"

(Subcomandante Marcos, Yo, Marcos)