26 de dezembro de 2006

torção

meu osso quebrou por dentro, fora não. uma rachadurinha de 8mm. é isso. meu osso sou eu nesse momento.

sou o tornozelo torcido de Jack...

24 de dezembro de 2006

agora

parece que liguei no automático. ainda me rasgo pra sair de dentro.

não tenho tempo pra tanta saudade que me bate.

beijos.

12 de dezembro de 2006

ecos no asfalto

às vezes parece que me afasto do mundo. às vezes parece que ele me fagocita como uma célula faminta a catar seus componentes perdidos. às vezes parece que chego mais perto de minha própria inteireza, respiro mais pleno, e o mundo se desloca um pouco mais no sentido de desaparecer nos vazios de si mesmo; aí, tudo é risível de uma felicidade serena, as coisas não tendo como não ser boas. aí, tudo é indescritível.

não sei das minhas palavras. me sinto fluido em um mundo enrolado e eu mesmo me enrolo na medida em que sou. é um mistério e realmente não sei de nada.

não basta reclamar e ficar perdido, eu sei. é um suspiro. não tenho idéia por que eu caminho, mas mesmo que se apresente um objetivo, não há ilusão maior. o que importa é o passo; nem horizonte, nem estrada: caminhar-dá.

(beijos)

6 de dezembro de 2006

Falo com Saco Cheio

Acho a psicanálise um saco cativante. Uma grande chatisse inspiradora. E, inevitavelmente, uma praga, com potência de ironia criadora.

Quer dizer, o cara vai lá e cria uma série de metáforas familiares para explicar fantasticamente o desenvolvimento do sujeito e enfim conseguir lidar com ele na clínica. Acho ótimo que sejam metáforas meio perversas, porque de quebra sugerem um Além do Bem e do Mal, já te dizem que a sexualidade é livre, não moral, e essa é a questão crucial da qual deve-se desviar: não escute enquanto Juiz, mas enquanto deslocador (e me falta palavra melhor). De quebra, são um manifesto ontológico-estético e cagam e riem da moral burguesa.

Exceto que são levadas a sério. E as criaturas não param de procurar o Diabo do Édipo, ou mesmo o tal do estágio do espelho (e só falta colocar o sujeito diante de um como terapia ou formulação de diagnóstico). E quando a gente menos espera estão todos palestrando a respeito, realmente seguros do que falam, cheios de livros e pastas, de compreensões e esse olhar imenso de quem, afinal de contas, só acompanha. Olhar que diz não me ligo nos discursos per se, pode falar em um rosto de quem não para de discursar.

Saudavelmente, acredito nisso tudo com muita graça. Não num sentido de requinte (até vá lá, quem sabe): acho mesmo muito engraçado. Às vezes o que me bate é o machismo de todo esse Papo de Falo, mas o segredo é que não há como argumentar a respeito de nada disso, porque a psicanálise é muito bem construida, e é feita no plano dos argumentos. (Se deixar, a psicanálise é puro Samsara. Pode não ser científica, mas é o ápice da ciência. É uma Ode da racionalidade ocidental. É a glória da lógica burguesa - e isso não é estranho?)

Pra mim, tão bem construido quanto seja a partir do ponto do qual parte, é simplesmente tudo arbitrário. Esse ponto não faz sentido se não for contextualizado. Com os preceitos de uma busca, não se faz escola, se faz busca. E acontece que praticamente só se anda sob o Império do chão de alguma outra pessoa.

Essa revolução estética já é uma caretice. Seu jeito de explicar mais frequentemente enclausura do que propicia a criação livre e algo interessante (e na verdade é lindo quando isso acontece). Se as pessoas se defendem são um porre, e me parece que nesse campo anda-se defendendo as mesmas coisas há um século. Nesse sentido, seguidores são muito chatos.

A psicanálise é um saco. Pobrezinha... sofre de psicanalistas.

5 de dezembro de 2006

Tem dias que a gente acorda com uma vontade quase irresistível de rasgar o Véu de Maia do Mundo e saltar pra dentro da Luz.

Vou fugir das coisas e viver só no sorriso...

4 de dezembro de 2006

manhã

a cortina enamorada canta ao vento cauda de cascavel.

ele de uma janela a outra orgulhoso e tímido passeia e corre.

Na partitura: "Toque como uma Fuga"

Tão pouco que sejam, as palavras são magnânimas. Tem o poder de definir.

Nada contra a definição, é uma importância de viver. Mas dado que a vida é um mistério inapreensível, qualquer definição será no mínimo uma imprecisão.

Somos radicalmente inseguros. Ou isso ou tudo é simples inércia, difícil dizer. Mas de alguma forma o poder de definir faz parecer que a vida é sim apreensível, passível de regramentos; que a vida é entendível esquematicamente - porque nossa racionalidade foge de outras consciências não-racionais. Como que a exigir uma segurnaçã radical, simplesmente não vemos que a vida é misteriosa. Assim não a encaramos, ela deixa de ser. Mas o que é mesmo que entendemos disso tudo?

As definições são alucinações. Somos delirantes de realidade.

3 de dezembro de 2006

split second

me sinto divido. uma parte de dentro bem dentro e outra de fora, parte de contato. eu sei, eu sei, isso é sim um clichê.

me sinto uma célula com uma membrana bem dura. assim, como ter dois eus. e é difícil ser dois quando um sabe que não é tudo, sabem? quando um fala com o mundo e fica tentando acessar o outro, e quando o outro lá de dentro não consegue pular pra fora e ser avassalador e conquistar as palavras pra além delas. fico tentando mandar sinais de dentro de mim mesmo pro mundo, sinais de fumaça que passem pela minha membrana dura. como alguém sugerindo uma expressão por detrás da máscara inevitável: oi, estou aqui, sei que não dá pra ver, mas dá pra confiar?

2 de dezembro de 2006

Alívio

Abro a porta do banheiro e faz uma corrente de vento. Na folhagem na janela, vejo um pássaro de asas batendo. O calor da rua antecipa o calor do banho por vir, mas é de uma natureza diferente.

Quando bate, o vento sempre tem um quê de liberdade.