28 de abril de 2007

Busca

neurose também nunca basta pra corações intensos... a gente nunca cansa de se quebrar pra achar um certo além...

(da série "mais-além")

26 de abril de 2007

Saudade

saudade corre em mim até sem saber pra onde.

f [principalmente = até?]

Descobri

tenho o maior medo da abertura que procuro. e aí, será que finjo procurar?

dai-me coragem, óh além-de-mim...

Pequena observação

Os homens choram parecido. As mulheres indignam-se muito semelhantemente.

Tudo isso de humano vale pouco de humano, como a trazer um geral-de-nós a nos deixar menores.

23 de abril de 2007

Passeio

Final de semana andei cego no Centro por 40 minutos. Descobri que os corpos são muito maiores do que aparentam à visão. As máquinas, por exemplo, tem seus corpos ampliados pelos seus sons, e não é só com suas rodas e metais que uma lotação te atropela, mas com o que expande violentamente do barulho de seu motor.

Foi meu único medo. Um som que me fincou, atravessou, furou. Me deixou amassado e com frio, sem saber, de sua força, se o metal vinha afinal pela frente ou por trás de mim.

De resto, muito gosto em ser conduzido. E a delícia de correr assim, sem amparo de meus olhos, das minhas pernas o quão bambas que ficaram, de abraçar árvore e da delícia de dentir a vertigem de um balanço.

É isso. Ande por aí de olhos fechados.

19 de abril de 2007

Sinal de saudabilidade

tudo está mais redondo.

Esta mira

O homem como o único condicional. Que a única solução é queimar tudo, queimar os disfarces e os seres, e aí deixar os disfarces e trocar os seres. Eu também. Se fosse pra isso, e me queimassem agora, agorinha, eu até agradeceria...

11 de abril de 2007

Do jogo das coisas

Pessoa é gravidade
que quando passa
a gente se inclina

Se a doçura tivesse asas

Se a doçura tivesse asas
seria uma bruxa
que com toda sua maciez
provocaria nas (asseadas) garotas
(todas arrumadas
e tão assim simpáticas)
tenebrosos chiliques

10 de abril de 2007

Planejo futuro
mil vezes em uma
Penso no possível
no impensável
Trafego, viajo
me sento
me acalmo
e instigo em
pensar se o refúgio
é coisa de velho
No final
acabo resignado
Diagnostico:
sofro
de antecipação
crônica

Pequena Calamidade Íntima

Levanta o pé
a ensaboar-se
Bóia o chinelo:
o banho
virou banhado
Odeia
o ralo do banheiro

9 de abril de 2007

Manhã

A manhã me acorda
frio lá fora aqui de dentro
o vento traz cheiro
gosto de bergamota
o vento vem com mil coisas
fala em mil idiomas de vento
enquanto os cavalos
olham e se mexem em palavras
línguas de cavalos
sem ouvir eu ouço
meu pé meus braços no arame
falam mil línguas de mim
e além

Declaração de Grande Relevância

Só há uma coisa da qual gosto mais do que de pedágios, que é pedágio com apito.

4 de abril de 2007

Dum poeta das coisas

O poema é antes de tudo um inutensílio.

Hora de iniciar algum
convém se vestir roupa de trapo.

Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.

Faz bem uma janela aberta
uma veia aberta.

Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
enquanto vida houver.

Ninguém é pai de um poema sem morrer.

---Manoel de Barros, "Arranjos para Assobio"

2 de abril de 2007

Abocanho o ar que respiro
Provo o gosto dos cheiros
e adoro
Deixo o chão abraçar
minhas solas
e o vento
meu corpo inteiro
até dentro dos olhos

(e os olhares -
sempre tamanhos
como se tivessem a
menor medida
do indescritível -
deixo que me
indescrevam)

Só para que seja tão vasta
quanto é
tão menos limitada
se pudesse
me excluiria
de minha própria
experiência

1 de abril de 2007

Vertigem

acordo cinza em dia assim, um frio lento se apoderando de mim, incerto. tremo por dentro. procuro de saudades, de abraço e de tudo, e vem aquele frio na barriga de quem se atira por cima da beirada. meu corpo sabe que fugi tanto disso. entendo meu pai e todo homem que já esteve sozinho, e entendo o quanto não quero ser assim, viver por um buraco de mim.

quero pedir socorro (e acho que peço, grito pela garganta, pelos poros, pelos olhos). mas me deixo cair. como se eu soubesse que preciso. passar. por. isso.

preciso passar.

o mais estranho é a sensação de tolice por todas as vezes que acreditei já ter acabado com as mortes.