3 de dezembro de 2005

Prisioneiros Políticos

me parece que o caso dos estudantes expulsos da UNESP tratado numa postagem recente está precisando de uma elaboração maior, principalmente pelo que apontou o Ari ao comentar nessa postagem, quanto a prática: o que diabos se faz agora?

eu sugeri que uma forma de gritar a favor dos estudantes seria tratá-los como prisioneiros políticos. a lógica disso é simples: pessoas privadas da educação a que tem direito estão na verdade presas. e isso foi feito por nenhum outro motivo além das divergências políticas (ou seja, de vida) quanto a forma de protesto tomada pelos alunos.

muito bem, eu não sei se adianta que protestemos pela soltura desses prisioneiros, ou seja, pela revogação da resolução do vice-reitor que expulsou os estudantes. é que o que escreve o Hakim Bey sobre sermos criminosos não é brincadeira não. não é uma metáfora... terrorismo poético significa terrorismo também! e é assim que seremos tratados, como criminosos, desde a vizinha de apartamento que reclama do barulho das nossas reuniões fora de hora, até o reitor da universidade. não há injustiça aí, estamos lutando de formas muito distintas, são lógicas e éticas de vida diferentes. não adianta esperamos algo diferente, faz muito tempo que nossos textos já incorporaram isso, somos criminosos sim sem alusão heróica alguma. sei que é muito difícil que incorporemos isso também inconscientemente... no final, nossa sensação de que estarmos certos que nos dar o direito honrado de dizermos isso de cara limpa. e, bem, tudo isso é verdade sim. mas não seremos tomados com cara limpa. nossa cara será suja pelos ouvidos e olhos dessas pessoas que nos escutam e vêem dos seus lugares bem protegidos pelo sistema. e a única culpa deles é não se darem conta da inconsistência de suas posições...

entendido isso, segue-se pra pensar alguns jeitos de gritar. porque é claro que nos admitir criminosos não significa admitir também as punições que eles nos impõe. somos criminosos políticos, gritando pela vida, no momento enclausurada no meio de regras, normas, dogmas, uma cultura estúpida e zumbificante. nossa luta é contra uma lógica, ou talvez seja muito mais... raras vezes dá pra falar de nós e eles, justamente porque estamos tentando dissolver arranjos sociais, descrições do mundo, mas tem vezes que isso é possível. não vale cristalizar nossa luta nisso, entender que então a gente derruba o tirano e a tirania cai por terra... mas aproveitar a situação pra fazer surgir os brados justos, os supiros de vida dos enclausurados...

deixando claro: os prisioneiros políticos em questão tem que gritar pela sua liberdade. o resto de nós, contra as prisões. são brados diferentes que vão em um mesmo sentido, como podem haver muitos outros.

já passa da hora de pensarmos o que pode ser feito pra dar ressonância a tudo isso. o bom é possibilitar que gritos locais, brados de guerra de pequenas culturas, entrem em contato com a luta dos estudantes expulsos da UNESP. não é generalizar as situações, mas, ao contrário, minorá-la; dar força a cada grito. somos muitos, somos os mesmos, com problemas específicos muito diferentes. nada disso é novo, é o jeito de luta da Ação Global dos Povos, dos Zapatistas, de todos nós, sem rosto.

sugiro que o pessoal expulso crie um núcleo de conexões ao qual o resto de nós possa se remeter em suas práticas particulares. não precisamos concordar com nossos jeitos, pelo contrário, temos mesmo que usar o que interessar a cada um de nós - discordemos, criemos paradoxos, é dessas formas recombinantes que a vida se faz maior e mais produtiva, se faz muito mais possível.

acredito que a forma mais potente desse núcleo seja uma página na internet. o melhor seria se ela permitisse comentários e participações livres de qualquer visitante. depende da capacidade de quem for criar esse núcleo, qualquer coisa pode funcionar, um blog, um fórum, uma página-wiki, ou algo diferente. obviamente, quanto melhor feita melhor, que sjea cativante, que chame a atenção - temos que usar de tudo a essa altura do campeonato.

seria interessante que os prisioneirso políticos coloquem publicamente suas intenções. aí que tenham discussões entre eles (entre vocês, meus amigos) pra que decidam como colocar isso. se eu estivesse na sua posição, creio que assumiria o precito básico não seja pego e então usaria o que fosse preciso pra manter uma certa consistência ideológica mas para possibilitar minha própria libertação. isso não importa: façam uma retratação, peçam desculpas, digam que exageraram, expliquem que seu ato não tencionava o desrespeito da pessoa do reitor, nem da sua figura pública, mas visava sim a instituição. ou não. depende até onde se queira ir... eu realmente sugiro que soem o melhor possível, sem abandonarem a si próprios. lembrem-se de rir do que der.

no núcleo, poderia ser feita uma clipagem de tudo que é publicado na internet sobre o tema. que as pessoas tirem suas próprias conclusões, e que uma rede se estabeleça, e que outros sejam estimulados a fazerem parte dela. aí isso tudo passa a ser mais do que o caso em si, mas uma superfície onde possamos correr um pouco, dar uns saltos. sabemos que nada disso tende a durar muito, mas, sempre, o que nos interessa é o levante, e a energia criada nesses momentos.

nossas ações apontarão, então, pra esse núcleo - que, de preferência, aponte também para elas. e vemos o que pode ser feito, se capturamos a mídia com isso, se causamos alguma pressão. no mínimo, trocaremos, causaremos encontros. libertem os presos políticos da UNESP!! que tal?

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