8 de junho de 2005

Corpos-passagens

Quando aumenta a sede de encontrar companheiros é preciso insistir: há uma grande diferença entre um corpo que ressoa unicamente para ele mesmo e um corpo que serve como passagem de forças, sem a preocupação de convergi-las unicamente para si. Há, em suma, uma imensa distância entre corpos que somente passam por todos os lugares e aqueles que, realizando ou não tais viagens, se tornam eles mesmos passagens.

Em geral, a metamorfose de um corpo-passageiro em corpo passagem não tem nada de espetacular nem de fora da realidade. Mesmo quando a sua formação ocorre a partir de práticas religiosas, o importante, de fato, é que esta metamorfose exige, para além de toda crença em forças divinas, um contato ordinário, constante e muito direto com as dimensões duras e cruas da realidade. Ela faz portanto parte da vida, está ao alcance de todo ser humano, pois caracteriza a humanidade e singulariza sua existência.

No entanto, desde os primórdios da humanidade sabe-se o quanto é difícil fazer parte da vida tal como ela se apresenta em cada circunstância. Talvez porque viver seja o que há de mais natural e mais difícil. A histórica divisão entre corpo e alma expressa, em grande medida, esta dificuldade, principalmente a partir da época moderna, quando o corpo passou a ser visto muito mais como aquilo que se
tem do que aquilo que se é. Pelo menos nas sociedades ocidentais, esta separação desdobra-se em muitas outras, sempre afirmando que o pensamento é algo infinito e inteligente, enquanto o corpo é finito e ignorante.

("Corpos de Passagem, ensaios sobre a subjetividade contemporânea", Denise Bernuzzi de Sant´Anna)

somos é muito preguiçosos. sabemos muito se sentirmos profundamente e formos sinceros, mas nos perdemos no drama, nos protegemos no drama, estamos presos na inércia. é burrice...

e por "dimensões duras e cruas da realidade", dá pra dizer, com muita segurança, que existem muitos mundos sobrepostos naquele que vemos, e muitos deles dizem muito mais das coisas como elas são. imediadas. vá ler Castaneda...

Um comentário:

MayrA disse...

parece complicado derivar na vida... mas há que derivar para ser vida...