4 de dezembro de 2005

Notas de um Biólogo Alienígena


A flatulência poderia ser um sistema de defesa dos seres humanos, dado o cheiro desagradável capaz de gerar, insalubre para outras espécies. É possível, é claro, que o já muito forte cheiro da espécie humana frente ao olfato apurado da maioria dos outros animais do planeta possa significar que uma variação negativa devido a flatulência não fosse assim tão eficaz. No entanto, é por um problema muito mais básico que esse não é um método eficaz de defesa: a soltura dos órgãos intestinais está relacionada com um funcionamento calmo de toda a fisiologia humana (chamado efeito parassimpático), nada próprio as demais ações de defesa (prontidão muscular, aceleração dos batimentos cardíacos, repiração apressada etc., todos efeitos simpáticos). Quando o organismo humano, portanto, sente apreensão, seus órgãos intestinais tendem a prender suas funções, e a flatulência não se torna possível; de fato, se porventura acontece, estaria relacionada com um funcionamento de anti-sobrevivência, afetando o bom desempenho de outras funções de fuga ou prontidão. A flatulência parece ser, então, apenas uma idiossincrasia orgânica, quando da liberação de gases provenientes da digestão, e não é aproveitada de forma construtiva no comportamento natural da espécie. Serve para nos ilustrar o quão estranhas são essas criaturas. Apesar de que observadores de outras áreas podem considerar tanto a hipótese de uma importância primitiva da flatulência enquanto excitadora de parceiros (ritual de acasalamento), ou, numa análise da sociedade humana contemporânea, as repercussões relacionais possíveis advindas dessa expressão orgânica genuína da espécie - ver artigo entitulado Os Seres Humanos - Uma Espécie Que Estranha a Si Mesma.

Um comentário:

Pedro Lunaris disse...

a medicina estratifica os corpos, especifica funcionamentos, e desapropria o nosso conhecimento de nós mesmos; aquele conhecimento que não vem de outro lugar senão das nossas sensações, das nossas percepções, da nossa construção e criação, das nossas possibilidades e possibilitares, da nossa relação com nosso próprio corpo. assim, a medicina nos torna estéreis, impercebíveis de nós mesmos, incriados, não relacionados com nosso próprio corpo, fora da gente. não é preciso um tratado pra que saibamos que nosso estômago prende quando bate o medo - ou que se solta. que se a gente se peida quando nos apontam uma arma é porque não vamos fazer nada não - é só sentir as potências de nossos músculos, pele, ossos, é só se permitir às sensações...

você não tem um corpo, você é um corpo. viva-o!