4 de julho de 2005

um amigo me contou...

sobre a versão histórica pra expressão católica "oferecer a outra face". como tantas coisas da Bíblia quanto aos dizeres de Cristo, há um largo espaço para interpretações diversas daquelas da Igreja. ou, como já disse um certo filósofo de sampa, a igreja cristã se funda na máquina imunda de São Paulo, nosso cristianismo vem daí. o cristianismo de Cristo tá mais pro budismo...

enfim... o discurso do padre nos diz que devemos oferecer a outra face quando levamos um tapa, numa demonstração de humildade que ao mesmo tempo nos leva a uma superioridade, como quem diz que não é afetado pela violência, não a pega para si, e também que vive para um outro mundo, o mundo puro do Paraíso, sob a sombra do qual está o nosso mundo, que, se vivido em penitência, levará aos Céus. ou alguma balela desse tipo.

mas, na época de Cristo, era costume os romanos darem um tapa com as costas das mãos. como para os árabes, que faziam tudo com uma mão para reservarem à outra a ação de comer, existia essa noção de higiene, que não era separada de uma noção sagrada. dar um tapa em um escravo exigia isso portanto, que os romanos o fizessem com as costas de suas mãos, para que não se sujassem.

oferecer a outra face é obrigar quem o repreende, o mantém preso e usado como um objeto - com a inconveniência de ter vida própria - a lhe reconhecer como pessoa. é obrigar o romano a sujar sua palma. quer me bater, desgraçado, então vai ter que sujar essas mãos de sabonete importado aí... é brilhante! uma sutil subversão que opera dentro do próprio esquema do opressor... e o reorganiza simbólicamente sem que esse nem necessariamente se dê por conta... é um ato teatral, por funcionar justamente no arranjo cênico do dia-a-dia. uma bela lição para a mal-criação contemporânea...

Nenhum comentário: