1 de março de 2005

espaço privada

usar a loja de uma quadra inteira apenas como passagem para a próxima rua. ir ao shopping somente pelo banheiro (e os vasos sanitários mais limpinhos que se pode imaginar, fora o constrangimento do segurança, da câmara de vigilância, das luzes e das ofertas). ler livros inteiros dentro das grandes livrarias sem levá-los consigo para casa (pelo menos passando pelo caixa).

sempre me deu uma sensação engraçada essa dos espaços público-privados. a que se restringe o acesso? todos os vetores energéticos, toda a exposição, vai na direção do consumo. é o que lhes interessa. e alguém com experiência me diz que de cada vendedor é medido o volume de compras (tanto em quantidade de ítens como em valores) para cada cliente. quem vende mais ganha prêmios.

não é novidade alguma dizer que a declaração desses espaços como "espaços públicos" é um engôdo. (os caras do critical art ensemble falam das casamatas.) portanto, nos interessa o saudável exercício de esfregar nosso alegado direito em suas caras (sem ser capturado no processo). abusar de tudo que for uma facilidade para o consumidor sem se tornar um.

em toda cidade que eu chego para passar um tempo, entro no processo (como um bom nômade urbano) de mapear os melhores banheiros das regiões por onde fico com minha casa nas costas (vale dizer, mochila). sempre achei interessante a prática de sentar em uma mesa de shopping com alguns amigos, puxar um baralho de cartas e fazer um lanche só com coisas trazidas de casa.

as possibilidades são infinitas. tenho a imagem de que entrar em um espaço público-privado é como mergulhar em uma célula de líquido amniótico. o desafio é fazer isso sem se molhar. ainda há aqueles que o fazem e levam consigo algum troféu, como quem enfia a mão na célula e de lá retira uma parte para deixar secar. os pequenos roubos são uma forma deliciosa de publicizar o privado que tenta te engolir (no final das contas, toda a intenção desses espaços é a fagocitose, é coisificar seus visitantes, fazê-los jogar o jogo do consumo, tentá-los, privatizá-los). só que aí, o risco não é só subjetivo...

tome cuidado. lembre-se de Hakim Bey (aliás, vocês já viram Edukators?), não seja pego. e, especialmente e como sempre... divirta-se! quem foi mesmo que disse que "em meu país, sorrir é um ato revolucionário?"? pois então, meus queridos... gargalhem! (e molhem alguém com seus perdigotos...)

Um comentário:

Anônimo disse...

adorei!!! \o/