21 de abril de 2006

Pequeno ensaio sobre os contatos

Não sou um cara superficial. E é um saco e um grande constrangimento ter que, a todo momento, quebrar uma certa superficialidade para chegar em um intenso de encontro - naquilo que vale a pena nos seres humanos, nos seres vivos - orgânicos ou inorgânicos - nas forças - nos afetos. É tão constrangedor e tanta trabalheira que normalmente não dá - e deixa chateadas as pessoas que operam mais livremente nas superfícies - toda quebra tem uma dor de esforço.

Nós somos como bolas - talvez as mônadas de Libniz, que contém tudo em si. Todo nosso contato se dá, a princípio e mais facilmente, através da superfície das nossas esferas. Tem muita gente por aí que fica o tempo todo na superficialidade, de modo a nunca chegar num profundo e no sem-forma que há ali. As melhores pessoas entre nós, no entanto, utilizam bem do superficial para dar caminho ao profundo. Criam janelas na dureza das máscaras para os afetos, e aí, formidavelmente, é justamente a dureza das máscaras, bem utilizadas, bem formuladas, que sustentam a passagem mais livre desse vivo.

Minha atenção já está lá embaixo. Sou bem sensível ao intenso, e quando as situações favorecem os aprofundamentos espontâneos de qualquer tipo, fico grande. Mas sou péssimo de superficialidades - quando se está ali, no contato social ordinário, fico sem graça.

Sofro de profundeza crônica.

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