20 de abril de 2006

Ontologia (para além do bem e do mal)

Aquele lugar me dava ondas - aquele lugar me dava honras de ser vivo. Ali, sem luz, sem buzina, meu Sono vinha decisivo - como vinha decisiva toda vontade, e todo passo, em pedra, em Pedro, na areia - todo passo era certo e certeiro. Ali eu percebia a energia telúrica passar por mim, e a percebia em seus efeitos: uma disposição infinita de fazer o que se estava afim, bem estar em todo lugar bom, olhar, olhares, expressões.

Que eu não sentisse tão claramente essa coisa que só posso chamar de onda energética primordial me é como prova de que a surfava estando tão fortemente no mundo: eu me tornei efeito dela. E não me remeti à máscara alguma, mas aos brilhos disformes e com sentidos ao invés de significados - com movimentos ao invés de categorias - e mesmo assim usei de máscaras para das expressão a afetos, eles sim luminosos, eles sim vida sem limites.

Fiquei doente ao voltar pra casa. Dos intestinos. Isso não me impressiona como se eu estivesse sensível depois de tantas portas abertas - como se eu precisasse de tempo para processar tudo isso que a vida me ensinou como só ela pode ensinar - intensamente.

Logo dos intestinos - logo do processamento do Eu. Como necessidade de dar jeito de dar fluxo - como tanto a pôr pra fora - como processar reordenando formas de estar no mundo. Não dar bola pros meus próprios discursos. Sempre remeter-me pra além das máscaras. Usar da atuação sempre e somente pra além da própria atuação.

A vida não tem pecados - nós temos. Os meus são as presilhas e os penduricalhos. E sempre uma redução. Terei minhas máscaras, meus trancamentos, meus estratos. Não pecar será não reduzir a vida a eles.

A vida não tem diretrizes - mas crio as minhas pra chegar nela.

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