11 de abril de 2006

De cada dia

Não faz o menor sentido esse comportamento humano.

Pensa só: o que é que está em jogo no dia-a-dia de cada indivíduo da humanidade?

É um ciclo infindável de atuações. Acho ficamos representando pra fugir de nós mesmos. Ficamos nos defendendo com caras e bocas e trejeitos de improviso. Freud tinha razão, mas aí a inventar uma descrição para o problema da presença não nos leva necessariamente a lugar algum; continuamos inventando enredos pra escapar da onde estamos.

Imagine: passar o dia inteiro se defendendo, que exaustivo! E aí, inevitavelmente: se defendendo do quê, por diabos?

Dos diabos, suponho.

Ou alguma outra explicação besta: fugimos da morte; porque viver é morrer, então escapamos à vida para nos surrupiar a morte.

No fim, não sei pelo lamentamos no cemitério. Tenho a impressão de que com a morte só perdemos o inútil.

Lamentamos porque quem fica não pára com o drama.

Devíamos procurar periodicamente por uma morte-em-vida. Fazer cair os penduricalhos das fantasias. Respirar um pouco pra além da teia. Não precisar de coisa alguma – acima de tudo não ser alguém – só uma respiração, uma situação, sem interpretações, nada. Um coração que bate.

O contrário é seguir concretamente preso a um abstrato inalcançável. Estamos querendo dinheiro? Fama? Um carro novo?

Novo? Estamos cheios de valores que não fazem sentido algum.Viver concreta e abstratamente atrás de coisa alguma. Uma vida cheia pruma morte que valha a pena, e talvez consigamos morrer de verdade, e na hora certa – talvez possamos até escolher a hora.

O contrário é uma espécie que se porta apenas para comprova a Primeira Lei da Física.

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