4 de abril de 2006

Livre?

Seria preciso arrancar esse rosto. Suar esse sangue. Puxar até as raízes todos esses pêlos. Explodir esse coração e demais órgãos.

Talvez fosse preciso moer esses ossos. Acho, porém, que não. Aos ossos cabe a sustentação. Então que aguentem o processo. Mas sim, seria preciso fazer esses ossos saírem às lágrimas. Limpá-los com esfregão e água de rio. Dá-los força, uma outra consistência.

Aos músculos cabe o maior esforço. Eles que são a liga desse corpo roto. Seria preciso esticá-los. Aquecê-los. Desfiá-los. Liquefazê-los numa massa disforme. Dá-los propriedades do mercúrio, da lama, da lava.

Por fim a consciência. Como bem lhe cabe, saberia se resguardar de todo processo, pairando em viagem astral ou em suspensão. Seria preciso assoprá-la como a um dente-de-leão. Espaná-la de suas sujeiras, picotá-la em mil pedacinhos, dar nela com uma marreta - fazer pó da consciência. Seria preciso desfragmentá-la e encontrar nela o que há de vital. E então, espalhá-la, disforme e pulsante, por todo o corpo.

Seria preciso fazer do corpo espírito e do espírito essas carnes, essa expressão sem nome. Seria preciso acabar com nomenclatura qualquer, cambiá-la por onomatopéias de ocasião. Seria mesmo preciso extinguir meu nome.

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