10 de abril de 2006

Doente

Escrevo como ato reflexo. Como medida de desembotamento desse corpo que se vê imerso em fluxos de um redemoinho sem foco, em presilhas de uma tramóia auto-engendrada já não sei quanto tempo atrás.

Ando tendo pequenos surtos. Lapsos. Espasmos comportamentais, alucinações expressivas. Quero crer que são a natural resposta de certos desbloqueios. Seria possível mundo descortinando em mim enquanto brutas tensões o resistissem? Tenho um medo racional de estar ficando louco.

Um dia me acho novo, noutro capto indícios, pedaços da casca de um ovo de depressão. Devem ser tentativas de me encerrar numa solução, como quem acha o porquê de si. Me sinto correndo atrás do meu próprio rabo. Há uma espera: de que algo irrompa do meu peito.

Mas não estou parado (estou?). Tenho nítidas sensações subcutâneas de mudanças climáticas no litoral. Como um pescador já velho que de repente dá-se conta que não consegue ler o mar: esse se revestiu de um cinza indecifrável, se cobriu de nuvens que trafegam sem sentido, desvelou correntezas que aparentemente vão umas contra as outras, criando locais onde tudo o mais é tragado para baixo, num infinito escuro, e alguns pontos donde emergem Mistérios de Outras Eras – que vão parar fingindo serem conchas nas areias da praia.

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