28 de agosto de 2006

Tambores Sobre o Dique

em um feudo no Japão antigo, está para vir um dilúvio. a única solução para evitar que todos os dqiues que protegem a cidade da fúria do rio é fazer com que um deles se rompa, acalmando sua força.

o senhor do feudo hesita entre suas opções. pode ordenar que rompam o dique sul e isso significaria que todo o bairro das artes sucumbiria, junto com as escolas e as bibliotecas. ou pode ordenar que seja o dique norte o destruído, e então o rio levaria todos os prédios que alimentam economicamente o feudo, construídos com a madeira das árvores cuja derrubada desenfreada causam o dilúvio.

há uma alternativa: abrir uma fenda nos diques que protegem os campos. mas o senhor feudal não quer ser lembrado pela história como o Senhor Kyu, que muitas décadas antes fez justamente isso, matando centenas de camponeses no meio da noite. os sobreviventes de então se revoltaram, atacando e destruindo a cidade...

essa é a história da peça da encenadora francesa Ariane Mnouchkine (Tambours sur la digue no original). escrita para o teatro de bonecos japonês, a montagem em questão (de 2002) traz atores interpretando os bonecos e atores como os manipuladores, criando uma linguagem simplesmente sensacional. além disso, a peça foi passada para a tela do cinema, e há um DVD que traz também o making of (se alguém encontrá-lo, por favor me avise).

me lembrei dessa história, que passou no Santander mais pro início do mês, lendo o jornal de hoje. é que semana passada estreiou em quatro episódios o documentário do Spike Lee sobre o evento do furacão Katrina em Nova Orleans. se chama When the Levees Broke. o filme, cuja tradução do título é Quando os Diques se Romperam, além de falar a respeito do racismo na escolha deliberada de não intervenção por parte do governo americano, que deixou a cidade sem água nem luz por 5 dias (e nas condições que se encontravam, a bem dizer), traz a tona uma hipótese já lançada por lá desde logo após o acontecido:

que talvez alguns dos diques tenham sido bombardeados, fazendo uma escolha por inundar as partes pobres da cidade, salvando as partes ricas.

sinistro.

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