5 de junho de 2006

Das minhas primeiras palavras, e as de sempre

Demorei-me a iniciar no campo da fala. Minha mãe conta que o elevador lotava de simpatias dos vizinhos a solucionar o problema. Enquanto a família apressava o alcanço de cada objeto que caía sob meus olhares (e me disseram, de dentro dum azul-brilhante sem igual, que eles dizem muito - gostei): primeiro filho, primeiro neto, primeiro sobrinho, bisneto, sobrinho-neto, primeiro entre tantos de uma geração anterior: pareci primo de minhas tias, e pareço tio do meu primo.

Domingo da semana passada um desses bêbados eloqüentes que assolam os bares do Rio de Janeiro falou sobre a preocupação que minha testa teima em anunciar (esse era um bêbado sensível e metido a vidente). Você é novo demais pra tanta preocupação. Isso não tem idade, mas ele tem razão. Escolhi pais novos para ser velho. Bem coisa de criança - e mimada.

Quando finalmente falei, saiu um polido primeiro discurso. A polidez e os discursos vem comigo desde então - às vezes sou bom com as palavras, às vezes elas não me deixam em paz. Ela me disse que tenho sangue azul. Sei que falo pra dentro.

Quando ressôo, saio imponente. Já deram a entender que carrego certa brutalidade. É verdade, mas o bruto é dissonante por excelência. Quando ressôo, é pro fundo de alguém. E os corações falam por batidas.

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