11 de setembro de 2008

11 de Setembro

Aviõezinhos correm pela vila portando explosivos. Chocam-se contra as torres e se espatifam, se despedaçam. Se não a curto, sua missão é suicida a longo prazo.

As torres são marcos constantes que não cessam de ruir. Imagens muito fortes tão concretas em sua abstratilidade que tornam-se indestrutíveis. O ruir das torres é a imagem mais indestrutível que existe.

É nosso marco que reverbera. O ruir ressoa, proclamamos nossas lágrimas televisivas. Os explosivos são alvos claros, importantes. Todo nosso ruir pode representar-se em drama e ocasião. O ruir movimenta a sociedade em uma parada.

Aviõezinhos chocam-se contra as torres. Nós reproduzimos a destruição infinitamente, pelo bem da imagem. Construímos a expressão última que tapa toda origem, quase toda conexão. Repetimos o ruir com gozo. Rejubilamos em milhões de discursos.

É a maravilha televisiva que se tenha tão bons personagens. A tela gera toda sorte de projeções. O cubículo expiatório de gerações auto-mutiladas.

Porque já é velha a sabedoria de que são nossos os aviõezinhos. Nós fabricamos os explosivos. As torres... de quem é a conseqüência das torres?

Jogamos pedra no mundo com gosto. Pouco vale tanto quanto uma falha enquadrada, porque o espetáculo é fim em si mesmo. Por quê? O medo originou toda cena que o justifica. Nada vale tanto quanto a segurança de um medo delimitado. É com gozo que os aviõezinhos explodem, as torres ruem de novo e de novo... e ainda jogamos pedras no mundo.

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