Para Pedro Lunaris
Saio para a rua e encontro o campo:
As avenidas sem calçadas
São largas como o olhar e pavimentadas
De verde vivo.
Os bancos de pedra são de pedra
E os bancos de madeira,
De madeira, enraizados e abanando
Aos passantes e à brisa brejeira.
Uma perdiz acha meu olhar:
Bom-dia!
Bom-dia!
Por isso que jamais poderia caçar...
O cachorro alonga meu olfato,
Cheirando a hora do chimarrão e a hora do sol:
Bom-dia!
Bom-dia... ─ diz ao sol
Se espreguiçando, com voz emprestada não sei de onde...
O gato passa por entre as minhas pernas,
Diz seu bom-dia com os pelos.
Bom-dia! ─ respondo-lhe ─.
Vejo-o entrar no porão da casa
Para se despedir da noite.
É o único da casa que se lembra disso.
Por isso que a noite nunca é ingrata...
O porco se limpa na lama e me diz
Bom-dia!
Bom-dia!
Trocamos vozes agora, depois
Que provei que não há mais
Presunto aqui em casa...
Fizemos as pazes e agora a cumprimos
Nos cumprimentos!
Até a casa me diz bom-dia, com voz
De chaleira!
A janela do meu quarto
Emoldura um retrato feliz,
Para dentro e para fora.
A cortina pisca para mim, agora.
À noite, no escuro, retribuirei com juros.
Ela sabe e sorri mais ainda, acariciando a janela.
Toda minha fazenda me cumprimenta, agora
Que aprendi o que significa urbanidade.
Entro no carro. E enquanto dirijo até o trabalho,
Pergunto-me o que posso fazer
Para que a urbanidade de hoje
Volte a ser como era antes...
Poema de André Castro